sábado, 30 de outubro de 2021

Happy Halloween pra você também.

Já fui contrário a todo tipo de influência norte americana na vida dos brasileiros. Achava que isso prejudicava a nossa cultura, as nossas artes e até nosso intelecto, além é claro, de fazer propaganda gratuita ao modus vivendi estadunidense. Coisa aliás que Hollywood e as gravadoras se encarregam há muito tempo e com grande competência.

Como se adiantasse eu esbravejar.  Afinal, vivemos num mundo sob influência permanente de algum império.  Houve um tempo em que todos deviam aprender o Grego, depois o Latim e por fim o Francês.  Agora, persiste o Inglês, que deverá perder lugar ao Árabe, se mantida a expansão muçulmana pela Europa, ou ao Mandarim, com o gigantismo econômico da China.

É isso, como diria meu pai em relação ao futebol: "quem não faz, toma". 

O Brasil podia estar ocupando um importante lugar nisso tudo, transmitindo ao resto da humanidade, seu folclore, a beleza do samba raiz, das danças nordestinas, da cultura e costumes sulistas. Podia também expandir várias de suas criações teatrais, seu cinema e outras coisas.  Mas enfim, se descuida, acostumado a viver à reboque de países que encaram com maior responsabilidade o desempenho  das pastas governamentais.  Aqui, o amigo do amigo cuida de nossa cultura, mesmo que não tenha qualquer noção disso.

Como cansei desse debate, faço aqui uma outra reflexão. Por que nossos filhos e sobrinhos se divertem muito mais com o halloween do que com as festas juninas, por exemplo?

Bem, antes é bom lembrar que as festas juninas também não são originariamente brasileiras.  Então parece que tá tudo bem.

A pergunta talvez fosse diferente.  Por que as crianças gostam mais de se fantasiar de vampiro, bruxa, esqueleto do que de cuca, saci ou mula sem cabeça?

Cá entre nós, talvez novamente por conta do cinema estrangeiro.  Ou talvez porque esses monstros são criaturas mais aterrorizantes.  Sabe-se lá.

O fato é que eu já não vejo qualquer sentido em se negar o óbvio.  O costume da festa do "dia das bruxas" trazido pelas escolas de idiomas é realidade e está definitivamente inserido no nosso calendário.  Senão com força total, com grandes chances de ser readaptado como aconteceu com a comida japonesa.

Vi uma escola que se enfeitou para o halloween com imagens de curupira e outros personagens de nosso folclore.  Mas acho que não funciona tão bem, do ponto de vista do marketing, quanto a escola de línguas que fica quarteirões adiante, coberta de teias de aranha sintética e morcegos de borracha.

Quem sabe a compreensão do que representa essa festa não seja mais adequada do que fingir que isso nos incomoda tanto?

O dia 1º de novembro é o dia "de todos os santos", pelo menos para os católicos.  Mas para os anglo saxões, era o dia dos mortos, que nós celebramos em 2 de novembro.  Mortos e santos, parecem receber uma conotação parecida quando se volta para os Celtas, de onde provém a influência daqueles povos.  Hallow (termo antigo para santo) e eve (véspera) formava o termo para dizer véspera do dia dos santos, adaptado mais tarde para o conhecido nome que recebe hoje.

Os Celtas acreditavam que ao início do tempo mais frio, sobretudo na noite que antecedia o dia dos mortos (santos), esses se levantavam para assombrar os vivos.  E por isso, as pessoas se fantasiavam afim de iludirem os espíritos caminhantes.  Aos poucos, como na questão do papai Noel, outras alegorias foram se juntando à festa que se popularizou sobretudo na Irlanda, dessa para a Inglaterra e por fim aos países por ela influenciados, como os Estados Unidos, sua ex-colônia.

Legumes com vela dentro (como uma lanterna), simbolizavam o jovem morto que jamais entrou no céu e não foi aceito no inferno. Por isso, usava aquela luz para vagar durante a noite. Gerou-se então o Jack da abóbora que ao invés de expressar terror fez com que a festa virasse alegria no feriado norte-americano de todos os santos.

Pra quem acha isso inusitado, resta saber que no México a festa do dia dos mortos, lá também em 2 de novembro, é a mais popular e alegre das comemorações. Retirada dos povos indígenas, a crença chegou aos mexicanos que acreditavam que no dia de finados os mortos eram autorizados a voltar e visitar seus parentes.  Por isso os vivos se enfeitavam e festejavam para esperá-los. Caveiras e cores, são espalhados pelo México nessa ocasião até hoje e muitos se divertem bastante.

Pronto.  Pra que radicalizar e resistir, se no fundo, todo humanista verdadeiro gostaria de viver num mundo universalizado em que as pessoas partilham da liberdade de seguir seus credos, culturas e outros costumes?

Então tá. Viva o saci, a cuca, a mãe d'água, o boto, o Jack cabeça de abóbora e as festas populares de todos os povos da terra.  


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