quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Até onde, meu Deus?




Por

Carlos Alberto Gomes




Até aquele momento não tinha dúvida alguma: Esse fora o momento mais assustador que já experimentara em toda a minha vida.

O homenzinho que me facilitara a entrada àquela sala, por si só já era um tanto preocupante.  Seu olhar penetrante fazia com que um tremor gelado percorresse todo o meu corpo, fazendo-me pensar em abrir a porta que mal se fechara atrás de nós e me levasse a sair correndo para o longo corredor que nos levara até ali. Na verdade, não o poderia fazê-lo pois eu precisava levar a cabo a missão assumida ante a Zuleica e o Zezé e, para isso eu ali me encontrava. Procurava seguir o homenzinho, agora mais rápido, pois ele apressara seus passos e eu só não o perdia de vista naquela escura penumbra porque ele era cambaio e isso, me facilitava segui-lo.  Outra porta e, desta feita, a sala, bem menor que a anterior, nos parecia bem mais assustadora. Aquele silêncio ensurdecedor gelou-me dos pés à cabeça.  Mas, que poderia eu esperar? Afinal, o ambiente de um frigorífico de um Instituto Médico Legal não nos devia assustar, pois toda a sala fica a uma temperatura bem baixa. Não havia dúvida de que eu desempenharia a função que assumira com meus amigos e daria no pé.  Para isso eu não gastaria mais do que dez a quinze minutos, tinha absoluta certeza.  O homenzinho me parecia até mais interessado do que eu em cumprir seu trabalho para poder se mandar e, tão logo entrou na sala foi puxando as gavetas e me chamou para que fosse observando os corpos trazidos nesse dia, à media em que ele os descobria. Eu, Zezé e Zuleica nos considerávamos como irmãos de coração e ela tinha certeza de que eu jamais me enganaria e reconheceria o corpo de seu pai, caso ali se encontrasse.

Foram puxadas, salvo engano meu, umas dez gavetas que eu, à medida que o homenzinho ia puxando o lençol ia verificando.  Em todas elas um corpo, todos corpos cobertos por um lençol que, à medida que ele os puxava eu olhava e fazia sinal negativo com a cabeça, após o que ele fechava e, ato contínuo, arrastava outra para fora dando prosseguimento à sua tarefa.  Ali, com certeza, seu Quinzinho não se encontrava.

Agradeci ao homenzinho num tom de voz quase inaudível e aprecei-me a sair.  Quase corria e, o toc de meus sapatos agora me pareciam sobrepujar os gritos ensurdecedores daquela sala, já completamente silenciosa. 

Ainda corria quando passei pelo portão que dava acesso à rua onde se inseria o Instituto Médico Legal da zona leste, quase derrubando meu amigo que, exatamente naquele momento, entrava no portão.

Também eles nada haviam descoberto o que levou Zuleica aos prantos. Pudera! A carga estava sendo pesada para que ela conseguisse suportar e, de fato, não o conseguiu.  Eu conhecia a forma afetiva que, sorridente, seu Quinzinho dedicava aos filhos.  Estes, motivo pelo qual eu procurava ajudar no máximo que pudesse, não mais que vinte ou trinta dias atrás, haviam perdido a mãe.  Infelizmente, não seriam meus afagos de amizade que os consolaria nesse triste momento.  Daí, veio-me à mente, relatórios da CPI da Pandemia que ousei a assistir pela TV, o que me magoou muito ainda que já tivesse conhecimento de fatos havidos com outros amigos e, tantos outros fatos que, via mídia, nos chegara ao conhecimento.  Isto nos revoltou e nos levou a condenar os maiores culpados pelo grande aumento de casos fatais havidos em nosso Brasil e, o que é pior, causados justamente por aqueles que deveriam estar lutando com todas as forças para erradicar tão grande mal.  Se Deus quiser, meus amigos amanhã encontrarão o corpo do pai, mas temos conhecimento de que, muitos daqueles que Papai do Céu levou, foram considerados como indigentes e, se o Ministério da Saúde não fizer um relatório comunicando o paradeiro de tais corpos, infelizmente seus parentes não os localizarão.

Por esta razão, eu me revolto e invoco para que os responsáveis por esse aumento tão drástico de vítimas havidos no Brasil sejam punidos pela justiça.  Como pode um país maravilhoso como o nosso chegar a esse ponto?  Aqui, a pergunta é obsoleta pois conhecemos e muito bem a resposta.  Nossos governantes enlouqueceram e a avareza tomou conta deles a tal ponto que a vida de um ser humano nada significa para eles.  A ganância os leva a cometer tantos crimes, até mesmo hediondos, que os levaram a se julgarem verdadeiros semideuses inatingíveis pelas leis que regem nossa magna carta, a Constituição, mas que, felizmente, darão de frente com a justiça que lhes deve ser implacável.  Isto, por certo há de acontecer tanto aos governantes como a seus defensores, principalmente de nosso legislativo, de onde surgiram alguns senadores e deputados que teimam, ainda que conscientes dos tremendos crimes que cometem, a defende-los e justifica-los.  Sinceramente, não consigo aceitar que tais políticos, subestimem seus eleitores, a quem deveriam servir e respeitar e pensem que eles não tem senso de justiça, no que eles se enganam e os verão se afastar de si fazendo que não mais venham a se eleger.  Também não aceito sequer imaginar que alguns médicos (alguns que se levantaram contra tais desvios de padrões me deixaram orgulhosos de saber que ainda nos resta esperança de que tudo pode se modificar) ignorando o julgamento de Hipócrates que fizeram ao término da faculdade e ao qual sob pena de morte colocariam acima de qualquer circunstância a saúde e segurança de seus pacientes, passaram a ministrar em seus pacientes procedimentos e medicamentos não aprovados pela ANVISA e pela Organização Mundial de Saúde, mesmo conhecendo que tais medidas agravariam o estado dos mesmos e podendo até mesmo levá-los mais rápido a óbito.  Tudo isso por falso idealismo e ganância pelo dinheiro.  Não me venham tentar justificar que esses médicos não sabem da realidade e da desgraça que tais medidas podem gerar e mais rapidamente matar seus pacientes, principalmente os de classes menos favorecidas, maiores vítimas dos maus políticos que teimam em emergir da lama na qual se atolam cada vez mais.

Não somos tolos e sabemos perfeitamente quem é o verdadeiro culpado por essa situação e para mim, quem o colocou no poder e não reconhecer sua culpa, não tenho dúvidas de que é também um insano.  Suas atitudes mefistofélicas já não nos surpreendem, mas assustam.  Ouvindo os relatórios de familiares de vítimas da COVID 19.  Nos conscientizamos de que urge em tirá-lo do poder e puni-lo severamente por todos os seus crimes.  Seus asseclas teimam em defende-lo e justificá-lo, mas na verdade são levados pela avareza e por falso idealismo de político totalmente desprovido de quaisquer sentimentos democráticos e mesmo humanos.  Tais elementos, principalmente de nossos órgãos legislativos, hão de se haver com a justiça, não duvidem.  Pode até mesmo demorar um pouco, mas a luz da razão do povo medra de seu consciente e, quando menos se espera seus asseclas tomam atitudes inesperadas e exigem medidas dos órgãos judiciais.  E é justamente aí que esses políticos hão de perder seus eleitores e serem banidos para sempre de nosso meio político: Mesmo porque nosso povo não merece passar por vexame internacional, não precisa andar armado, cultua a democracia e se identifica com seus compatriotas.  Enfim, o povo todo ama o Brasil. De momento, o que necessitamos é nos livrar do terrível cancro que assola nosso país.



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