sábado, 31 de dezembro de 2022

Bate papo do além ano velho

 

São exatamente 14h15 do dia 31 de dezembro de 2022.  Último dia do ano que levou meu pai embora, mas também trouxe de volta os ares da esperança com a eleição de Lula, na efetivação de meus projetos profissionais novos e sobretudo com as mudanças de conceitos filosóficos, espirituais e por que não dizer, intelectuais que desenvolvi nos últimos tempos.

Foi o ano em que mais li na minha vida.  Em que mais meditei. Práticas diárias que me salvaram e que super recomendo.

Nesse ano, ainda vivendo os reflexos do desmantelamento de meus negócios, também enfrentei outras situações, com destaque a ter me aproximado de algumas pessoas duvidosas, pra não dizer outra coisa. Acreditando em suas palavras vãs e prospecções inúteis, que pareciam ter vindo “para ajudar”, mas no final complicaram bastante a minha vida e a de quem estava junto, quase pus a perder enormes avanços.

Encerrei em 22, uma grande transição de quem era antes, para quem serei agora.  Abandonei algumas ilusões e inclusive deixei pra trás muita insensatez.

De religiosidade formal e cheio de cerimônias, agora vivo uma fé renovada e efetiva que me religou ao Criador de maneira nunca concebida em meus mais ardorosos tempos de “fiel”.

E decorei ensinamentos fundamentais.

Agradar todo mundo é desnecessário e impossível.  Cada um nos enxerga com os olhos que tem e portanto, o que vê é problema dele. Podemos mudar de opinião quantas vezes quisermos. Que viver é desatar nós. Que quando alguém está se afogando, a hora é de socorrer e não de dar sermões.  E que uma faxina na vida, na alma e no coração, sempre faz bem. Lições aprendidas, dentre outras.

Também entendi que ser feliz é uma questão de opção pessoal.  Ninguém nos traz felicidade.  Ninguém nos proporciona felicidade.  Alegrias, bons momentos, são pílulas de energia para a vida, mas a felicidade é um estado de espírito permanente que a gente ou decide ter, ou decide não ter.

Filhos ao redor.  Companheira valorosa aquecendo o coração.  Irmão, cunhada e sobrinha que não desamparam. Amigos presentes, mesmo distantes.  Mãe que enfrentou com vigor e coragem os mais duros momentos de sua vida, no martírio de meu pai.  E ele, homem que deixou impregnados em meu caráter, seus valorosos ensinamentos e atos de grande importância. Quem pode querer mais?

Sim, dá pra agradecer e repetir a frase que eu sempre digo ao final de cada ano.  “Foi o melhor ano vivido até o momento em minha vida.”

Ah, mas e os problemas, as dificuldades, as dores, as perdas?

Oras... isso tudo fortalece, enobrece, encoraja, aperfeiçoa, lapida, abrilhanta, energiza, educa e nos faz imbatíveis. Imagine o daqui pra adiante.  Imagine o “amanhã”.

E conservei meu jeitão.  Política?  Adoro.

Eu ia á Brasília assistir a histórica posse do terceiro mandato de Lula.  Infelizmente muitos fatores impediram.  Mas consegui ajudar amigos a estarem lá e estarei de coração e mente presente, vendo pela TV o desabafo de minha gente que viveu por seis anos, uma loucura.

Iniciada pelo impeachment criminoso do playboyzinho Aécio Neves que não aceitou sua derrota, corroborada por Temer com suas artimanhas, embrulhada pra presente com as ilegalidades e excessos cometidos pela dupla Moro e Dallagnol e por fim usufruída pela família de Bolsonaro e a pior corja de ministros e pilantras que esse país já viu no poder, essa fase de nossa história não será esquecida.

Talvez não tenha simplesmente acabado.  Enquanto escrevo essas linhas, ainda existem inocentes úteis e uns tantos mal intencionados provocando balbúrdia desonesta por aí. Mas será mais fácil combater a semente fascista sem um pretenso líder boçal que diariamente plantava venenos em forma de boatos e picaretagens rasteiras.

Já do ponto de vista profissional, vou seguir adiante fazendo o que faço melhor.  Vendendo e administrando seguros em uma corretora.  Mas claro, sem perder o norte empreendedor, corajoso e emocionante que arrisca e carrega consigo para a vitória, quando pode, todo mundo que participa. 

Ainda há planos e projetos que antes engavetados, estão clamando para sair das gavetas.  E no tempo certo, serão libertados.  Afinal, se a vida fosse uma só, valeria à pena todo o risco pela experiência vivida, sentida e partilhada.  Mas se a vida for contínua ou se forem várias, então é ainda melhor, pois como falou Jesus em Mateus 25:23 na famosa parábola dos talentos: “Muito bom... Você foi fiel no pouco, eu o porei sobre muito. Venha e participe da alegria do seu Senhor”.

Isso mesmo.  Guardar talentos e enjaular vocações é ofender a Providência.

E eu quero continuar aprendendo.

Fechei o ano com Noam Chomsky e seu “Quem manda no mundo”.  Começarei 23 com a incrível biografia de Fernando Pessoa que ganhei ontem de meu irmão.  E é só o começo.

Não tenho limites para a curiosidade e isso me ajudou a encontrar-me com o mais precioso de meu ser.  Nos livros, fui de Sidarta de Hesse a Fábio de Melo, do Capital de Marx ao Evangelho de Tomé, da História da Riqueza do Homem até O desaparecimento do universo.  Eclético, ecumênico, materialista, espiritualista e sempre musical, tendo como fundo a cada leitura, clássicos inesquecíveis, música tibetana e algumas escolhidas a dedo para relaxar.

Como todo mundo faz, também nutro projetos de início de ano.  E quase sempre, repito no ano seguinte, os mesmos que não sigo até o fim.  Exercícios físicos são o que mais negligencio.  Vinha de um ano todo de prática até que a COVID, em meados do ano passado, me quebrou ao meio.  Vou retomar. Preciso cuidar da saúde física.  Será? Vou.

Uma outra atitude que recomendo é o que repito há mais de 30 anos.  Limpar, antes do ano começar de fato, armários e guardados, fazer expurgos de coisas, documentos, lembranças e pessoas.

Calma... Pessoas a gente não joga fora.  Tem um armário no coração em que a gente as guarda.  Tranca lá quietinhas.  É o meu “armário sumidouro”.  Os que não acrescentam, magoaram, escarneceram, maltrataram, traíram, castigaram... não recebem meu ódio. Só os deixo lá.  O ódio destrói quem o sente e liberta quem dele é vítima.  Nada é mais suave e justo que o completo esquecimento.  Mas, se é pra esquecer, por que no coração?  Porque ninguém aparece em nosso mundo à toa e ninguém se aproxima de nós por nada.  Essa é minha visão.  E então, após desempenhar seu papel de relevância no nosso aperfeiçoamento, merecem ficar ali, guardadinhos, recebendo de quando em quando, uma benção por gratidão.  Mas só.

Depois que aprendi a fazer isso, também passei a entender que eu, igualmente, mereço o armário sumidouro de muita gente.  E quando fazem isso, tento me reaproximar com sorrisinhos, gentilezinhas e afagos.  É feio, insensato e triste. Juro que estou parando. 

E a família?  Vai bem obrigado.  Todos crescendo, aprendendo, chorando e sorrindo, mas sempre e sempre, sempre e sempre, sempre e sempre juntos.  Somos abençoados.  Não há distância ou dimensões que separam nosso amor.  Esse sentimento nobre, que muita gente infelizmente não conhece, o sentimento de família, é tão vital como o ar ou a água.

E é isso.  Vamos a 2023.  Vamos aos 55 anos de idade.

Poderia avaliar que os anos são apenas uma divisão de tempo criada pelo homem para facilitar o controle das contas, ou o avanço nos períodos escolares.  Só que de fato, essas divisões ganham peso, principalmente emocional.  E lidar com isso favorece.  Não tava bom?  Vamos fazer melhor.  Tava bom?  Vamos melhorar ainda mais.

Por isso o novo ano deve ser melhor mesmo.  Da mesma forma, ser e estar mais velho, eu garanto a quem estiver lendo isso, é muito bom.  Nunca fui tão eu, tão completo, tão verdadeiro, tão feliz, tão sereno, tão satisfeito, tão apaixonado, tão vivo, quanto sou agora com toda a somatória de revezes e alegrias vividas.

E mesmo numa retrospectiva, que como disse, levou um personagem tão importante de minha família, consigo perceber o quanto estou diferente e pra melhor.

Eu e todo mundo, enfrentamos pandemia, política desastrosa, economia corrosiva, guerra, partidas lastimáveis do mundo artístico, esportivo, cultural, que vão de Gal Costa a Pelé, de Jô Soares a Bento XVI, de Erasmo Carlos a Isabel do Volei, e ainda tivemos que lidar com a perda diária de energia e foco motivada pela angústia de ser alguém na vida.

Mas valeu à pena, né?  E se valeu à pena, vai valer bem mais já que, pra algumas dessas trajédias, que não só a COVID, já estamos bem vacinados.

Feliz Ano Novo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Textos de Carlos Alberto Gomes (Gomes de Castro)

Em todos nós desta casa, o amor pela família é incrivelmente grande.  Isso sempre ficou evidente ao nos encontrarmos nos eventos familiares, aos domingos ou tardes da própria semana, em conversas agradáveis nos jardins da chácara de meus pais.

Recentemente, devastados pela perda de nosso chefe de família, meu pai Carlos Alberto, tal certeza se superou e se mostrou quase física, sobretudo na emoção de meus filhos em seu funeral.

Esse sentimento nobre que nutrimos uns pelos outros no clã em que fomos criados, tem sido o combustível para os momentos mais difíceis de nossas vidas e também servem como fluído encorajador para os grandes desafios.

Devido a perda de meu velho pai, que sempre gostou de expressar seus sentimentos pela escrita, estamos fuçando seus guardados e já conseguimos encontrar poemas, textos, crônicas, desabafos e mensagens mui especiais que passarei a publicar a quem interessar possa.

Fazendo isto, penso estar realizando um tipo de homenagem, mas ao mesmo tempo pondo ao dispor um pouco de sua sabedoria, sempre oriunda de uma vivência fantástica.

O primeiro texto, uma mensagem dele para sua mãe (dona Amor) falecida nos anos 60s e que lhe deixou profundas marcas.  Esse texto, por si só, reforça o que afirmo sobre o amor familiar que trazemos.





MINHA ÚLTIMA DESPEDIDA




Tudo neste mundo parece-nos ter sua última vez.  Isto nos leva a refletir um pouco mais em tudo e no mundo em que vivemos e, se formos buscar no fundo de nosso baú, vamos encontrar referência a esta ou aquela citação como Paulo Sérgio encontrou sua música, Nicholas Sparks como suporte a um de seus romances e isto nos remete a situações inusitadas que envolvem nossos sentimentos, tornando muitas vezes uma separação entre dois seres que se amam, um marco afetivo que jamais nos sairá da memória.

Aí nos deparamos com o velho refrão de que “recordar é viver”, ou trazer até nós recordações que nos lembram dias felizes, ou que nos fazem sofrer duas vezes, ou ainda, que são um lenitivo para a gente, pois trazem até nós, no presente, coisas que há muito se acham ausentes. Isto, logicamente, depende de cada um de nós.  Na verdade, buscamos na saudade, momentos que nos satisfaçam e, muitas vezes encontramos sentimentos de dor e tristeza.

Muitas vezes eu vi escritos maravilhosos sobre minha mãe e sobre minha sogra, de autoria de meus filhos.  Eram verdadeiras apologias que me sensibilizaram bastante e que ao me por a escrever sobre elas, necessito analisar o que direi, pois reconheço que não o conseguirei tão loquazmente como eles o fazem.

Acredito que esta será também a última vez que as citarei em minhas considerações.  Ontem, vinte e dois de março (2022), fez exatamente cinquenta e quatro anos que minha mãe faleceu e levou consigo um “não sei o que” do íntimo de nossa alma que nos machucou de uma forma que, até hoje sentimos verdadeiramente tristes e saudosos.  Sentimos um amargo cruel do qual dificilmente nos livraremos, pois tempo também é relativo e depende de quem a ele se refere no momento.  É como falar de um copo com água pela metade que, segundo uns está quase cheio e para outros, se encontra quase vazio.

Como eu disse, minha mãezinha faleceu no dia vinte e dois de março e hoje, exatamente neste momento, nove horas da manhã, recordo-me assistindo à missa de corpo presente que era celebrada para a alma de minha mãe em Nova Granada, cidade em que mamãe morava, por ocasião desse evento. Foi talvez o momento mais triste por mim vivido em minha vida.  Desse dia em diante, muita coisa mudou em minha vida, mas fica a gratidão a ela tanto quanto à minha sogra que, na falta de outra avó, nos ajudou a orientar nossos filhos e a cria-los com todos os atributos que guardaram e cultuaram até os dias de hoje.

Falar sobre minha mãe não é assim tão fácil como se imagina.  Honestamente, não encontro em nossa língua palavras com as quais eu possa me referir a ela com os termos que ela merece.  Por essa razão eu me calo e sufoco dento de mim todos os sentimentos que afloram em meu coração e que deveriam ser ditos a ela.  Por essa razão somente uma coisa eu falarei a ela de todo o meu coração: “Mãezinha, minha querida, como a minha vida poderia ter sido tão diferente, tenho certeza, se você tivesse estado presente conosco.  Você jamais poderá saber a diferença que a falta de seu amor presente nos fez.

Saiba mãezinha, que o que acho incrível é a maneira com a qual meus filhos, que não a conheceram pessoalmente, se retratam a você, pois percebe-se neles uma forma de carinho todo especial quando eles a você se referem.  Imagine então se eles a houvessem conhecido.

Só me resta dizer a senhora que, hoje estou com mais de oitenta anos e batalhando há mais de dois anos contra uma doença inglória da qual, se Deus me livrar de suas garras, ficarei grato, pois me permitirá conviver mais algum tempo com minha maravilhosa família e, caso contrário, espero me reunir mais cedo a você, como o quiser Deus.

Agora, em meu último adeus, como sempre, peço mais um favor: “Abençoa-nos como sempre o tem feito e, fica sempre ligada à minha esposa, aos meus filhos e aos quatro netos que eles nos outorgaram. Beijos e até breve”.

 

Carlos Alberto Gomes (Gomes de Castro)

São José do Rio Preto, 22 de março de 2022.


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Vô Tato

 


Dedico ao meu velho pai, minha homenagem, minha gratidão, meu respeito e minha reverência por tudo o que me transmitiu ao longo desses 54 anos de convivência.

Contudo, não há coisa mais triste que escrever sobre alguém que partiu sabendo que ele mesmo não lerá o texto feito para ele.

Ao mesmo tempo nosso vão entendimento sobre as coisas dessa vida não pode garantir que ele não receba tais palavras, ainda que na forma de vibrações de profundo afeto e amor.

Por isso, assim mesmo traço essas linhas, não só pra exaltar seu papel em minha vida, nem somente em reconhecimento, mas para inclusive pedir perdão pelas falhas e buracos que possam ter ficado pelo caminho no descuidado dia a dia de nosso relacionamento.

Pelo amor que ele nutria por todos nós e fazia questão de deixar claro em cada palavra e gesto seus, não tenho dúvidas de que seu perdão e compreensão inefáveis nos abraçam.

Meu amado pai Carlos Alberto Gomes, chamado pelos amigos da sua doce Nova Granada de Carlos Padre, pelos colegas do ramo de seguros de Carlos Gomes, pelos amigos mais chegados de Cargome,  pelos netos de vô Tato e por mim de Carlos Alberto, foi-se para viver no Oriente Eterno.

Foi receber a justa paga pelo tanto que trabalhou e laborou nessa vida, edificando carreiras, amizades, negócios e família, sem falar nos muitos alunos cujas vidas foram influenciadas pela sua atuação como professor ou diretor de escola.

Foi encontrar-se com a implacável paz de Nosso Senhor, que nesse mesmo instante o está plenificando.

Foi rever amigos e queridos de seu coração que recentemente ou muito antes o precederam para além de nossas nuvens.

Quem o terá recebido primeiro, será sempre a maior dúvida. Sua filha, sua mãe, seu pai, irmãos, sobrinhos... Mas se não há dúvidas de alguma coisa, a principal certeza é a de que está verdadeiramente bem, pois seu legado de homem correto e justo, pavimentaram essa nova estrada.

Ah como é triste e doloroso ver separarem-se os esposos que por mais de 50 anos conviveram.  Como serão tristes os dias sem suas histórias e contos, brincadeiras e resmungos.

Ao mesmo tempo, como é glorioso percebê-lo ainda entre nós no DNA e no caráter de seus filhos e netos, impregnados das tantas virtudes que também possuía e cultivava.

Dá pra lembra-lo lendo seus poemas, contas, crônicas ou romances. Dá pra rir-se de suas tiradas inteligentíssimas de sempre.  E dá pra amenizar a saudade no conjunto de fotos e vídeos que pudemos fazer anos a fio.

Incansável, afável, sensível, honesto, batalhador. Meu pai era um dicionário de ótimas qualidades.  Agora será saudade.  Mas completará o glossário de sua peregrinação terrena com honradez, coragem, orgulho e determinação. Esse último comprovado pela sua luta memorável contra a doença que o ceifou.

Que vá em paz.  Se tinha máculas foram todas apagadas, resolvidas e aniquiladas pelo seu martírio ainda em vida. Livre pois pra passear pelas brumas da serenidade.

Um beijo grande dos filhos, dos netos, da mulher, das noras, dos amigos e demais. Amor eterno!!!

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Um tal de seu José

 






Marcelo Gomes

Poema ao meu avô José







No mergulho das lembranças mais serenas

Par de olhos cintilando honestidade

Pele rota; uma expressão da lida árdua

Roupa velha desprezando a vaidade


Da origem, pouco nobre, se inclinava

Ante ao lema: de servir que ser servido.

Era um rei usando a pele de um plebeu.

Tendo terras, quis passar despercebido.


Da labuta só parava pra aguardar,

Perdulário da riqueza em alegria

Dedicando toda a vida para a terra,

Os festejos — sua prole reunia.


Pai austero de semblante oriental

Como a rocha junto ao mar que desafia

Pai zeloso que acolhe o pobre enfermo

Como estrela que constante lume guia

 

Conhecia as leis da terra e das monções

Com esmero preparava a plantação

Pelo afago e dos cuidados recebera

Da mãe Gaia a eterna gratidão


Cio da terra na lavoura de café

Ouro verde que o progresso acompanhou

Braços fortes, dedicados, que cuidaram

Gentil solo que a semente despertou


As videiras trabalhadas e vistosas

Floração do cafezal que exalava

Alvas flores com seu manto um bom perfume

Doce vida que das leivas germinava

 

Lindos bosques, arvoredos, capoeiras

Preservados: o fascínio ambiental

Das nascentes cristalinas bela seiva

Mata a ânsia do sedento e do animal.

 

E exibia com esplendor conhecimento

Um agrônomo, geólogo, botânico

Segurava com seus calos sua família

Como um Atlas segurava: um titânico.

 

Mas os deuses que figuram na história

São quimeras, criações da humildade.

Meu avô, de carne e osso, também falho

Sua queda demonstrava humanidade.

 

O prelúdio do retorno do trabalho

Sabiá que no arrebol cantarolava

A enxada junto aos ombros dos colonos

Exibia a linda terra que sulcava

 

Percorrendo aquelas sendas ladeadas

De paineiras que estas sombras projetavam

Um artista cujas tintas eram sonhos

Que na tela da fazenda se expressavam

 

Artesão cujo cinzel era uma enxada

Esculpia a fértil terra bravamente

Fez da vida a mais robusta ferramenta

Como o cedro, seu exemplo é imponente

 

Do vermelho da hematita oxidada

Germinavam lindos frutos como filhos

De seus campos de tombadas terras férteis

Se veriam imigrantes em seus trilhos

 

Nova Espanha desabrocha como um lar

Nos recônditos do estado interior

Juventude junto às praças namoradas

Nesta terra meu avô encontra o Amor


Nas memórias cujos frêmitos das mãos

Com orgulho os seus calos exibia

Agitadas eram mãos trabalhadoras

Mãos afáveis que a todos estendia.


Se um afago ao seu caçula não faltou

Se nas dores e horas tristes nem um ai

Das sementes que caíram em solo fértil

A melhor que despertara foi meu pai


Como as folhas outonais que se desprendem

Foi silente redimir sem pejo e dor

Redimir com mansidão os torpes erros

Tão sublime por amar o próprio Amor



terça-feira, 1 de novembro de 2022

O direito de espernear serve pra tudo?

 

JUS SPERNIANDI: expressão usada no Direito que significa "o direito de rejeitar"

Diante daquilo que eu tenho ouvido ou lido, Bolsonaro não entregará os pontos facilmente e talvez, por apego ao cargo ou receio das penalidades a cumprir por tantos desmandos e crimes que cometeu, tente um “golpe” para não passar o governo e busque impedir a posse de Lula.

Enquanto silente, pois demorou mais de 40 horas para se pronunciar após os resultados, e quando o fez, sequer reconheceu sua derrota, alimenta de maneira irresponsável e criminosa os devaneios de uns tantos que fecharam rodovias, batem boca e até partem para agressões nunca dantes vistas. 

Muito provavelmente, como já fez antes, logo entregará os pontos decepcionando seus seguidores. Mas ainda teremos que assistir alguns absurdos como sua fala de 2 minutos que nada disse de concreto contra quem promove a baderna.

Bolsonaro não é o que se possa chamar de líder fiel.  Já abandonou vários apoiadores ao longo de seu mandato quando esses o prejudicavam ou ofuscavam sua “reluzente” imagem. Quem não se lembra de Alan do Santos, Sara Winter, os próprios irmãos Weintraub e mais recentemente Jefferson e Zambelli?

Sem falar na frustração do fatídico 7 de setembro em que deixou "a ver navios", caminhoneiros e outros integrantes do Agronegócio que viajaram para apoiá-lo no que seria o "dia D".

Também já ficou provado, alguns de seus escudeiros mais chegados o abandonaram quando tiveram algum lampejo de prejuízo ali ou vantagem lá. Muitos desses, por sinal, já até cumprimentaram Lula pela vitória, ontem mesmo. Todo vilão, na ficção ou vida real, sempre é cercado por bajuladores fracos e de caráter dúbio. E esse certamente é o caso aqui. 

Conta a história que ao perder o cetro do poder, os “monarcas” veem sua corte imediatamente se reinventar, se vender ao sucessor do rei posto. Por corte, entenda aqueles que, por enquanto, se beneficiam ou se regalam à sombra do palácio.  Essa gente, com certeza, já está se mexendo para se “aconchegar em outros lençóis”, ou então e mais logicamente, desaparecerá nas brumas de seus maus feitos sem querer chamar muito a atenção.

Isolado pelos que o rodeiam, uma hora Bolsonaro deixará claro que perdeu.  Assim que assumir a derrota, seu séquito, com exceção de alguns eleitores muito atordoados, deve abandoná-lo também.

Por isso não haverá golpe, reações muito maiores que as que estamos vendo, ainda que algumas “unidades policiais” façam vista grossa reforçando o discurso de manifestantes o que já foi mostrado em redes sociais. Se fossem professores brigando por salários ou o pessoal do MST, tanto a Polícia Federal quanto o Exército já teriam decido o cacete. Não há dúvidas.

Minha esperança reside na instituição salvaguardada por Alexandre de Moraes que deverá ser lembrado sempre como o grande protetor de nossa Democracia nos últimos tempos. Talvez surja um fato isolado aqui ou ali, quem sabe até chocante, mas nada que mereça preocupação geral e que suscite exército nas ruas, toques de recolher etc. Liderança forte, o Ministro conta com seus pares e é respeitado pelos chefes do Congresso.

Para golpe, mesmo entre os integrantes do governo, há muita divisão e não há firmeza de caráter e nem clima.  As nações do mundo reconheceram a vitória de Lula e o todo poderoso Mercado já está trocando de roupas nesse exato momento.

A mídia também se prepara, pois entendeu finalmente o estrago que provocou nos corações e mentes, desde que ajudou a engendrar o golpe que derrubou Dilma e colocou a Lava Jato no topo do mundo. Jornais, revistas e outros meios de comunicação causaram boa parte de tudo isso e claro, não gostaram nenhum pingo das consequências.

E tem mais.  Logo os bolsonaristas vão se lembrar que Dilma foi injustamente derrubada e ninguém fez nada contra ninguém, jamais provocando violência ou baderna. Igualmente quando Lula foi preso sem provas, ninguém bloqueou rodovias ou promoveu quebra-quebra, a não ser ficar na porta da cadeia manifestando sua lealdade.  Em 2018, Bolsonaro ganhou por conta dessas maquinações e do maior festival de “fake news” até então e novamente, ninguém fez nada para impedir sua posse, aceitando o resultado das urnas resignadamente.

Então eles começarão a perceber na verdade, quem quer implantar terror, ditadura, autoritarismo, ou pintar a bandeira com sangue.  Quem quer transformar o Brasil numa zona de guerra.  Quem não aceita a manifestação da vontade popular da maioria comprovada pelas urnas. Quem é arruaceiro de fato. Quem não observa as tão propaladas "quatro linhas da Constituição".

Além disso, há uma indignação que reputo vítima de manipulação mental. Mas nessas manifestações existem figuras que mostram um fundo perverso inquestionável.

O mais importante, no entanto, é o lado de cá entender que o Brasil sai muito ferido de tudo isso.  Metade de nossa gente não está feliz por enquanto.  Está decepcionada, brava e se sentindo mal. E não podemos descartar que continua sendo alimentada por uma estratégia tecnológica que poucos dominam. Seja do gabinete do ódio, seja das falsas lideranças cristãs que ainda conservam algum poder de dominação.

Ontem conversava com alguém que me perguntava com sinceridade: “Como pode ser se Bolsonaro estava tão na frente das pesquisas?"  E mesmo eu perguntando de que pesquisas ele valava, ele afirmava convicto de que há mais de dois meses Bolsonaro vinha muito na frente de Lula nas pesquisas. E eu sem entender.  Onde ele via isso? Já não tinha visto no primeiro turno que Lula estava na frente?

Ou seja, alguém lê alguma coisa que sequer sabemos o que é e de onde vem.  Aprenderam a ignorar os meios formais de comunicação e passaram a seguir apenas seus “confiáveis” canais de notícias e boatos. E isso é muito grave. Uma manipulação inacreditável que explica um pouco o tamanho da revolta que estão sentindo. Me lembrei imediatamente da obra de Aldous Huxley (O admirável mundo novo) que exibe a pregação subliminar nas pessoas desde crianças e rápido pensei no sucesso da propaganda nazista de Goebbels. Sim... perigosíssimo.

É difícil combater isso. Eles creem mesmo nessa realidade paralela. Pra eles aquele cenário é real. Portanto, tudo o que não pode ser feito agora é haver provocação pelos eleitores de Lula. Zombarias ainda que sem maldade.  Também não é hora de cobrar, apedrejar ou impor qualquer pensamento. E as piadinhas nas redes sociais, podiam dar um tempo. Pelo menos até que tudo se acalme. Esperar que isso venha do descerebrado presidente é perda de tempo.

Claro que eu entendo o grito contido na garganta de todos nós.  A necessidade de comemorarmos, extravasarmos. De um modo miúdo, até já o fizemos no mesmo domingo. Só que prolongar mais pode retardar a serenidade necessária para a boa transição, para o pronto restabelecimento de nossas vidas, do sentimento democrático e inclusive de nossa atuação profissional.  

Já já eles mesmos se virão prejudicados ou prejudicando seus iguais, atrasando a Economia e causando problemas a outras pessoas numa terrível contradição de quem se diz patriota.

Estou feliz?  Sim.  Muito feliz.  Realizado de fato com o resultado da votação.  Mas nessa alegria toda há uma lágrima contida pela cisão que se fez sentir. Afinal, uma metade da nação está em pé de guerra com a outra.

Aliás, pela primeira vez na vida, torço que a copa chegue logo. Ela que sempre perturbou os negócios, quem sabe venha ocupar a população e nos colocar juntos outra vez numa só arquibancada.  Sou avesso ao “Panis et Circenses”. Mas também era contrário ao voto útil.  Essa eleição me ensinou muito.

Devíamos esperar os próximos dias. Tenho que lembrar que, por mais que haja um plano maléfico de implantação da extrema direita e do fascismo no país e em certos lugares do mundo, esse, com certeza, não é o objetivo de boa parte de nossos irmãos brasileiros que apenas não comungavam de nosso ponto de vista ou cujos pensamentos estavam desviados propositalmente para outra direção. Acredito mesmo que a lucidez chegará pra todos e veremos nosso Brasil unido de novo.

Quem sabe se possa aproveitar desse grande e histórico engajamento político que a população brasileira assumiu de um tempo pra cá para finalmente envolver a todos num espírito de cidadania, reflexão e consciência política? Seria um ganho imensurável para as futuras gerações e algo verdadeiramente novo.

Claro!  Não defendo “passar pano” e esquecer o que houve.  Os crimes praticados por esse governo, os abusos, a inoperância diante da Pandemia, o discurso ridículo e venenoso do protagonista maior contra as minorias. O estrago ao Meio Ambiente, à Política Externa, à Educação e Cultura, à Saúde e Emprego que seu ministério horrível deixou. Mas defendo que a culpa vá a quem se deve dar.

Minhas redes sociais estão vazias de pessoas que, nos últimos dias, postaram “fake news” ou provocaram. Excluí para evitar mais perdas. No entanto, não deixarei de bem querer ou tratar com cordialidade aqueles que estiverem desarmados de mágoas ou sentimentos de ódio. Conversar e debater sempre. Pois é justamente essa unidade e conciliação que fará de nós um povo realmente patriota, que em nome da nação busque o melhor e o mais justo. Aliás esse foi o discurso da vitória de Lula na Paulista.

Penso que mesmo num vizinho e colega de trabalho que ainda me olham torto, há esperança de braços dados.  Consigo vê-los por trás da imagem do verdadeiro culpado. Bolsonaro é o vilão.  Sua corte (Damares, Salles, Mourão, Braga Neto, Pazuelo, Guedes, Milton Ribeiro, Queiroga, Heleno, Hang, Malafaia, Ciro Nogueira, Lorenzoni e outros) são os grandes comparsas. Podemos até acrescentar os neymares e leonardos da vida.  Mas os eleitores, não deixam, de algum modo, de serem igualmente vítimas dessa corja.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

De Moisés, o levita a Mister Mxyzptlk

Como não sou jornalista, nem formado em letras, posso escrever sem o medo e cautela dos equívocos linguísticos e gramaticais a cometer.  Mas queria escrever pelo menos corretamente acerca dos temas que desejo tratar. Afinal, um texto bem escrito, corre o risco de ser lido e levado um pouco mais a sério.

Não porque pense que vá mudar convicções ou crenças.  Tampouco imaginando uma devastadora distribuição do mesmo. É que acredito poder contribuir com uma ou duas pessoas que porventura percam seu tempo com essa leitura e necessitem divagar sobre o que estão vendo por aí. Nem todos tem oportunidades de um debate tranquilo nos meios em que estão inseridos, ou nas redes sociais cada dia mais brutalizadas pelo excesso.

Além disso, não é normal que tão perto do pleito que pode comprometer nosso futuro, ainda haja tanta dúvida ou tanta indecisão.

O momento é outubro de 2022, um ano que foi difícil por vários motivos. Ressaca de uma pandemia mal curada, crise econômica que nos impulsiona ao desânimo constante, ano eleitoral com profunda distorção da prática política, ameaça real de conflito nuclear no mundo e tudo isso sem falar nas questões de cada um de nós, no meu caso específico, relacionadas a trabalho e saúde na família.

E é nesse cenário que precisávamos de luz.  De clareza nos pensamentos afim de darmos um voto sério para presidente. Seria, quem sabe, o início firme e compensador de um novo tempo a resgatar nossa economia, nossas perspectivas e principalmente a nossa sanidade mental.

Mas fica difícil.  E por quê?  Porque não estamos numa dimensão normal. Não estamos no planeta que conhecíamos.  Parece que fomos lançados a um pesadelo sem despertar. Será que fomos invadidos pelo famoso vilão dos quadrinhos Mister Mxyzptlk?  Aquele inimigo do Superman que transporta as pessoas para uma outra dimensão e só é derrotado quando se fala seu nome ao contrário? Deixe-me tentar: “Oranoslob.”

Não... continuamos aqui.

Resta então refletir um pouco mais sobre tudo o que temos presenciado e visto nos últimos dias.

Padres e pastores sendo seriamente arrastados, empurrados e xingados dentro de seus próprios templos, pra não falar do vexame promovido por alguns “devotos” na Basílica de Aparecida em pleno dia da padroeira.

Violência física e verbal contra militantes opositores, integrantes das minorias ou pessoas oriundas do Nordeste de nosso território.

Também temos visto mentiras tão ridículas, que colocá-las em prática seria impossível como fechar igrejas, instalar banheiros unissex em escolas e implantar o comunismo no Brasil. Coisas que fazem da “mamadeira de piroca ou kit gay”, que nunca existiram, parecer anedota.  Se é que não eram.

Isso só pra falar de uma ou outra coisa desse universo de Mxyzptlk.

Busco justificativas desse descompasso talvez no cerne, no nosso surgimento histórico.

Somos fruto de um grande desastre. Moramos num lugar que já existia há muito tempo, com riquezas naturais invejáveis à fria e cinzenta Europa do século 16, cujos reis gananciosos mandaram invadir e explorar. Nos acostumamos com a exploração e dessa invasão não nos livramos mais.  Sua imposição cultural e religião nos tornaram eternos reféns de seus hábitos, crenças e vontades. E é dessa herança que se nutre boa parte de nossa sociedade que sonha em retornar ao berço que sequer conheceu.

Só que se eu ficar nessa discussão, a coisa vai tomando uma tal profundidade que não vou chegar aonde quero, a saber, demonstrar que tudo isso só está acontecendo devido ao gritante e escandaloso desconhecimento do pertencimento de classe de nossos cidadãos.

Essa ignorância custa caro.  Nos divide e confunde e sobretudo permite que sejamos conduzidos por quem, ao contrário, conhece muito bem o seu lugar e seu papel na força e no poder. E óbvio, não será agora ou em poucos dias que resolveremos essa questão. 

Questão senhor presidente, não qüestão.

Há cerca de 4 anos, enquanto caminhávamos de um equívoco ao outro, tropeçando em planos econômicos e trafegando por ideologias pouco diversas, surgiu de repente um espectro aparentemente inofensivo, alimentado pelas beiradas, de um lado por artífices do mal que operam muito bem a tecnologia e por outro pelos herdeiros do mando que há mais de meio milênio se apoderaram de nossa pátria.

Encontraram em nossa cidadania mal formada, um terreno fértil e com ajuda dos chamados algoritmos da internet, rapidamente desenvolveram um plano. E para impulsioná-lo, precisavam de alguém e o criaram.  Transformaram um “nada” em estandarte e depois o fizeram mandatário da nação.

Por que o chamo de nada?  Despeito, ideologia ou antipatia?  Embora a resposta seja evidente, há o componente principal.  Na realidade é o caso dessa figura. 

Despreparado, preguiçoso e incauto, entrou para a política no Estado do Rio de Janeiro no qual foi eleito Deputado Federal, posição que exerceu por 28 anos, sem qualquer relevância em qualquer que seja a área.

O que chamou a atenção sobre ele era que caminhava fazendo sua imagem explosiva, de nervosinho, indignado, machão, corajoso, ao mesmo tempo que destilava conceitos que boa parte de nós carrega no caráter tentando esconder (racismo, homofobia, moralismo, repressão sexual, desejos incontidos, autoritarismo), ou seja, os algoritmos ideias a servirem de alavanca.

Sim... ele serviria ao propósito. E serviu bem.

Percebe?  Não veio de marte e não se criou por iluminação divina como seus adeptos mais inflamados defendem.  Foi escolhido e cooptado por quem precisava dessa matriz para implantar a semente do mal.

Sua vaidade e arrogância facilitaram o acesso.

E foi tão bem trabalhado que independente de todas as acusações que pesam sobre ele como os escândalos ligados a funcionários fantasmas e divisões de salários com assessores de seus gabinetes, os ministros corruptos que dirigiram pastas relevantes como Saúde, Educação, Meio Ambiente e outras, seu descaso perante a solução da pandemia, o enriquecimento inexplicável dos seus com compras em dinheiro vivo de imóveis e muito mais, o que importa é que nunca ofereceu qualquer risco aos seus criadores.  Era desconhecido, sendo inclusive considerado pertencente ao baixo clero do Congresso.  Assim, como ascendeu facilmente pode ser botado abaixo.  Descartado após cumprir sua tarefinha. Ser preso ou ir para o lixo. Não faz diferença.

Esse mesmo projeto que o tornou “mito” de um certo grupo, também fazia suas amarras em outros ambientes internacionais, como no ideológico proposto pelo autoproclamado “filósofo” Olavo de Carvalho que mantinha seguidores de suas ideias estapafúrdias. Outro fornecedor de algoritmos.

Medindo as opiniões generalizadas e marginalizadas na sociedade, os arquitetos do caos trabalharam com a ajuda dos tais algoritmos para entregar a essa “grande fatia” de gente, o exato modelo que os representaria. Numa analogia desproporcional, é como se entregassem o “bezerro de ouro aos dissidentes de Moises”.

Essa articulação já houvera triunfado em outros rompantes mundiais com destaque na Itália, nos movimentos da Primavera árabe e no caso do Brexit.

Sabe-se Deus com que intenções além das que são muito concretas, há esse movimento triunfando em diversos lugares em nossa atualidade. Agora mesmo ganhando eleições ou ressuscitando o que houve de pior como nazismo e supremacia. Pra quê?  Por puro poder ou talvez tentando, quem sabe, causar um efeito anestésico que evite se enxergar o desastre do capitalismo decadente.

Em muitos lugares mundo afora já se consegue elucidar essa tramoia, sem precedentes na curta vida da civilização humana.  A própria imprensa, sempre serviçal, ajuda agora a fornecer alguns antídotos seja por peso de consciência, ou por questão de sobrevivência futura. 

Só que no Brasil, além do mal persistir, ganha forças, raízes e faz parte do ideário de boa parte de nossa gente que até ontem defendia a paz, o respeito entre os povos, a convivência tranquila com as diferenças e mesmo a defesa da livre opinião e pensamento.

Do nada, familiares e vizinhos, colegas do escritório e estranhos, adentram nossas redes sociais com agressões, penduram bandeiras em seus portões arrogando-se de patriotas e achincalham quem veste qualquer cor que possa suscitar pensamentos progressistas.

Sem nunca trafegarem por textos de filosofia ou economia, cospem longe ao falar de correntes como socialismo ou comunismo.  E tão desinformados são, que confundem tudo julgando até políticos liberais e outros como pertencentes a correntes de esquerda.

Reacionarismo e conservadorismo, termos antes usados para se definir o atraso são agora exaltados com orgulho por pessoas de todos os níveis culturais e sociais. Tem até que ache chique ser chamado “conservador”.

Em pouco tempo, oportunistas do mundo religioso vociferam para fazer crescer suas agremiações e políticos de diversas linhagens surfam nas ondas do momento para angariarem simpatia. Votações expressivas de gente até ontem sem expressão, não desmentem.

Sobretudo, crescem a violência e a mentira usadas diariamente como armas de combate e intimidação.

O pior é que, enquanto esse grupo se nutre, deixam de questionar, avaliar e fazer autocrítica.  Ignoram por completo os malfeitos e os ditos desastrosos do seu “líder”, que na verdade nada mais é que o “vampiro mestre”.  Aquele que quando aniquilado quebra o feitiço dos que foram por ele mordidos. Mas enquanto atuante, torna fétidas e funestas suas circunvizinhanças.

Defendendo a família (sem nunca ter mantido uma completa por muito tempo), ufanando-se de anticorrupção enquanto todos à sua volta e sob seu controle respondem a desmandos, processos e acusações sem fim, exalando depravação em piadinhas de mal gosto e falas absurdas como a que proferiu sobre garotas venezuelanas de 14 anos, ainda se mantém acreditado e seguido por tradicionais homens e mulheres “de bem”.

Nem sua convivência com vizinhos envolvidos em crimes, como aquele que possuía um arsenal de armas ilegais em casa ou o condenado por participar do assassinato da vereadora carioca Mariele, causam estranheza em seus defensores. Se um desses criminosos fosse o tio do cunhado do entregador de gás da casa do primo do Lula, ah... o mundo acabava.

Demonstrando pouco apreço pelo país ao bater continência para a bandeira estadunidense e bajular Trump, fez nascer em alguns o estranho hábito de carregar bandeiras de Israel (sabidamente um povo não cristão) em marchas pró Jesus. Vejo nas pontes e praças, vendedores de toalhas com seu rosto estampado entre a estrela de Davi e as faixas azul e vermelha do Tio Sam.

Não admira ter despertado também apreço ao militarismo em parte desses que o admiram.  Não soubemos ensinar a tempo nossos jovens que cresceram desconhecedores dos horrores promovidos pelo regime de exceção que vivemos na ditadura. Também não espanta ter ocasionado o ardor repentino pelo verde e amarelo de nossa bandeira. Afinal, ser patriota sempre será uma aspiração daqueles que amam sua origem ou sua terra.  Na pior das hipóteses são filhos de uma geração ou os próprios que experimentaram a educação moral e cívica dos tempos de ferro, alimentando essa gana por conceitos que pouco se pratica no cotidiano das vidas em geral.

Só se esquecem que vestir camisas ou cravar botons com nossas cores não faz de ninguém patriota.  Defender a pátria é garantir sua soberania, integridade, unidade, desenvolvimento e liberdade.

Apenas causa um certo receio o formato como tudo isso chega e é de certo modo imposto.  Gritos, ataques, em alguns casos mesmo agressões físicas a qualquer um que se interponha ou que rejeite Bolsonaro ou a corrente que representa.

Como já escrevi antes, recentemente guias espirituais como padres e pastores, receberam agressões enquanto exercendo suas funções.  Empregados veem sendo forçados ou impelidos a pensarem como seus patrões por assédio ou receio de demissão e principalmente, assistimos ou fazemos coro sem saber no avanço indiscriminado de mentiras as mais diversas, mais insanas e mais improváveis.

Elas vão de fechamento de igrejas a instalações de banheiros unissex nas escolas numa discussão moral nada prioritária aos reais problemas a serem enfrentados por quem for eleito. Falas distorcidas e montagens “escrotas” que tiram contextos causando pânico generalizado.

Enquanto as discussões ficam nesses termos rasos, nada se põe quanto a projetos para o desenvolvimento e recuperação do Brasil.

Combatendo desse modo os antagônicos,  fica livre o caminho para quem quiser ocupar, daí o bote dos que pensaram tudo isso.

É como um filme... uma série a qual os expectadores conhecem a verdade, mas os envolvidos são expostos a apenas um lado e caem como vítimas fáceis das artimanhas bem traçadas pelos vilões.

O duro é que na tela só as personagens são prejudicadas, ao passo que no coletivo em que vivemos, dificilmente alguém escapará.

Retornando para a cena do bezerro de ouro, quem de nós nunca pensou: “Ingratos.  Não percebem que Deus os retirou do deserto?”.  Não, pois estão ocupados demais adorando e entregando-se graciosamente ao deleite pagão por uma deficiência sentimental que o mundo moderno ainda não conseguiu vacinar. E dessa festa equivocada, não haverá quem atravessará o mar a pé enxuto.

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Lambendo as feridas, vamos ao que nos une.

A política no Brasil vem sendo exercida, nos últimos anos, com uma paixão talvez nunca dantes experimentada pela nossa gente.  E os resultados disso aparecem na forma de uma divisão concreta e polarizada como não cansam de afirmar analistas e comentaristas de plantão.

Nenhuma polarização, por certo, seria boa posto que há nuances, as mais diversas, a serem ponderadas em escolhas como essas que influenciarão nosso futuro. O caso é que o próprio modelo democrático nos empurra a isso.

Mas mesmo com esse dualismo vale lembrar que não estamos diante de um campeonato de futebol, que ao terminar, em nada alterará a vida dos adversários.  Nem de uma disputa religiosa, onde a briga pelo abstrato continuará a permitir o convívio social, em que pesem os exageros de certas culturas.  

Trata-se sim de uma escolha clara entre conceitos antagônicos como: liberdade e cerceamento da voz; avanço e retrocesso no tocante ao social; proteção ao meio ambiente e devastação devotada a satisfazer interesses comerciais; boas relações internacionais ou fronteiras fechadas a importantes parceiros; bem como vida digna e exploração exacerbada.  

E não adianta ficarmos com raiva do vizinho, da tiazona do WhatsApp ou daquele primo que vocifera no domingo.  Nem do louco varrido que ameaça quebrar as urnas, ou daquele que se veste de verde e amarelo achando que essa é a maior prova de patriotismo que alguém pode dar. Quem não viu casas e apartamentos com bandeiras brasileiras expostas?

Afinal, não se trata de "gosto", de culpa.  Estamos assistindo, ou sentindo, o resultado de toda uma série de coisas com origens internacionais, basta olhar a Europa.  De conjunturas que tem sua origem no desastre econômico mundial e também, "mea culpa", fruto de descuido de tempos próximos em que tivemos a oportunidade de banhar  nossa gente de senso crítico e espírito de cidadania real e consciência social e não o fizemos.  Quase 14 anos de oportunidade, para ser mais exato.

Por agora, sabíamos evidentemente que poderia haver um segundo turno, apesar das incontáveis situações desfavoráveis ao bolsonarismo.  Os escândalos se multiplicando, os erros estratégicos de sua campanha e sobretudo seus permanentes "tiros no pé" ao se pronunciar e se relacionar, como aliás de costume.

Sabíamos que ele tem as chaves do cofre, a caneta e uma gama incontável de apaniguados em todos os setores de governo e nas Forças Armadas. Sem negar um setor, ainda que modesto, mas barulhento, da imprensa que o apoia.

Se havia a esperança de ganharmos no primeiro turno, era mais por cansaço e desespero do que embasados em fatos concretos. Por mais favoráveis que as pesquisas pudessem ser, nada é mais certo do que o resultado das urnas.  Lição que devíamos já ter aprendido.

Vamos para o segundo turno e temos que observar algumas coisas.

A primeira é de que a realidade da nação é essa.  Um povo misto, com contradições agressivas que apela ao cristianismo enquanto defende o porte de armas e a violência, que desconhece sua participação no tabuleiro da divisão de classes e que traz os arraigados conceitos morais acima mesmo de seus mais absolutos direitos e necessidades. Por isso encontramos pobres de direita, negros e mulheres, gays e outras minorias votando ou emprestando seu apoio a quem sempre afirmou desprezá-los.

Em seguida devemos entender que não se milita apenas do sofá.  Temos sido tímidos, seja por medo da truculência já explícita de parte diminuta de adversários que avançam festas particulares, agridem feirantes que panfletam ou cometem outras atrocidades, mas estão mais para desequilibrados do que para militantes.  Nossa posição deverá ser mais contundente nos locais de trabalho e presença onde possamos, não para fazer valer nossa vontade e sim mostrar para os que pensam iguais que não estão sozinhos.

Por fim vale lembrar que, entramos para o segundo turno com 48% da preferência, ou seja, estamos na frente.  Se balizarmos esse resultado ás pesquisas mais recentes, veremos que ele está dentro da margem de erro o que prova que elas eram assertivas.  Ao mesmo tempo, Bolsonaro cresceu, o que não desmente as pesquisas mas pode ter evidenciado que o voto útil vale para os dois lados.  Ciro diminuiu o que assinala que seus apoiadores migraram e não foi para Lula, fruto talvez de seu discurso cada dia mais voraz contra o petista.  As abstenções também oscilaram.  Talvez portanto, agora o atual presidente tenha menos a crescer que nossa corrente.  Pois se pegarmos o que sobrou e dividir por dois, continuaremos na frente.

Enfim.  O que temos que fazer é não esmorecer.  Tentar trabalhar nosso raciocínio no sentido de elucidar e não impor pensamentos.  Trabalhar os ciristas, eleitores de Simone (todos nós conhecemos alguns deles) para que façam valer a luta de seus candidatos que também são defensores do Estado Democrático de Direito. 

Ah e óbvio, conversarmos com nossos amigos mais à esquerda como os militantes do PCB, PCO, PSTU e UP, até para que garantam com seu apoio, o seu direito de continuar existindo no país.

Já sabemos que somos a maioria dos brasileiros.  Não só os 48% da apuração.  Os que não quiseram a manutenção do modelo que nos governa, são a somatória de todo o resto que não estava com ele. E isso é o que nos deve mover.



quinta-feira, 29 de setembro de 2022

ELEGER LULA CONTRA O FASCISMO: UMA ANÁLISE LAMPEDUSIANA

    



Marcelo Gomes 
Sociólogo e professor




    Há na literatura um princípio popularizado extraído da obra Il gattopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Daí ser conhecido como princípio lampedusiano. Segundo esse, às vezes é preciso mudar tudo para que as coisas permaneçam como estão. 

    Em junho de 2013 o Brasil é sacudido por um terremoto social. Revoltas populares e manifestações gigantes escalam aparentemente do nada. Muitos ficam surpresos, mas ninguém no momento conseguia explicá-las com consistência. Grupos de esquerda juravam que aquilo era a ebulição social de uma condição insustentável que vinha se gestando há muito tempo. Sua retórica inicial era de que finalmente uma insurreição popular havia começado e o céu seria o limite. Detalhe, o mote inicial era 20 centavos na passagem de ônibus. Depois, disseram estes: “não é só por 20 centavos”. Grupos de direita aproveitaram-se para reavivar o movimento “cansei” e seu congêneres. Sim, movimentos típicos de classe média em geral protofascistas, antipetistas e com muito ódio de classe pipocaram ao longo de todo o governo do partido dos trabalhadores. Mas naquele momento, de fato, engolfaram e dirigiram as manifestações. Pautas estapafúrdias apareciam espontaneamente aos milhares, mas duas ganharam o movimento: a primeira era a pauta anticorrupção. A segunda, a derrubada da PEC 371 . 

    Poucos se lembrarão disso, com certeza, mas já à época isso acendeu uma luz amarela em meu radar político. De repente, os cartazes apareciam no mundo inteiro padronizados. Manifestantes de muitos países com os mesmos dizeres, mas cada qual em sua língua nativa. Pareciam orquestrados remotamente como as manifestações da chamada primavera árabe. O mesmo modus operandi parecia estar em curso. E então governos estaduais, presidência e congresso ficaram acuados. Durante um mês inteiro pareceram perdidos, e tanto quanto a população, sem saber o que fazer ou pra onde ir. O saldo disso já o sabemos. Elas se esvaziaram pouco a pouco e o país pareceu retomar seu ritmo normal. Mas era uma miragem. As placas tectônicas tanto quanto os bastidores da política se movem sem que a superfície perceba. Em 2014 Dilma consegue sua reeleição por pouquíssima margem de votos e entram em cena três personagens nefastos. De um lado Aécio Neves lidera um movimento do PSDB para contestar as eleições, dando início a uma arma política que fissura a institucionalidade republicana. Poucos grupos embarcam nisso. Mas aí entram Eduardo Cunha que controla o congresso para estrangular o poder da presidência e nos bastidores do judiciário, uma operação política que iria destruir a economia do país em poucos anos e oferecer material farto, ainda que em parte manietado artificialmente, para ser usado pelos grupos políticos opositores. O protagonismo de promotores do Ministério Público em conluio com um personagem sombrio e de fraca expressão e formação como a de Sérgio Moro dá sentido finalmente àquela pauta estranha das jornadas de junho de 2013: a rejeição do PL 37. 

    A grande mídia, os grupos políticos rivais e todas as camadas sociais que cresceram com muito catecismo religioso e catecismo de classe se unem contra a presidência. Uma peça jurídica pífia e que se mostrou uma farsa foi encomendada pelo PSDB e juristas como Miguel Reale Jr., a desconhecida e histriônica Janaína Paschoal e, pasmem, Hélio Bicudo, aceitam o abjeto papel de dar um verniz de seriedade a isso. Não importava. Tudo o que boa parte dos congressistas reunidos em torno de Eduardo Cunha precisava era de uma justificativa. O golpe parlamentar foi dado. O partido dos trabalhadores que preferiu cultivar eleitores em detrimento de militantes foi trucidado. Acostumado ao jogo parlamentar e clientelista entre as elites políticas, Lula tentou negociar por um mês em Brasília. Não surtiu efeito. Sua nomeação foi atacada ilegalmente por Moro e Gilmar Mendes e o PT, não sabendo mais o que é base social a não ser em dia de eleição, se recolheu acuado. A antiga militância petista só ameaçou uma resposta quando a figura de Lula foi alvejada. Graças ao culto à personalidade deste político carismático, desaprenderam a dinâmica da luta de classes. Mas foram às ruas e tentaram impedir a prisão de Lula quando esta chegou. Frustração ao ver o próprio líder se entregar, fugindo dos que tentavam segurá-lo no sindicato. Diz uma versão que foi para evitar um banho de sangue, mas outras dizem que a burocracia petista jurava que a prisão seria muito temporária. Ledo engano. 

    O antipetismo que perdeu vergonha e assumiu logo sua essência fascista ganhou as ruas. Agora tinham uma cabeça para pendurar em praça pública e festejar. Na esteira dessa onda aparece o mais abjeto político desta tendência fascistóide. Jair Bolsonaro é eleito e sabemos de todas as atrocidades cometidas por ele e seus seguidores e familiares ao longo destes anos sombrios e tristes. E eis que chegamos às vésperas da eleição de 2022 e o tema desse artigo. Lula saiu da cadeia porque seu caso foi anulado dado a mácula de origem fundada na competência do juiz natural. Agora lidera a campanha eleitoral e tem grande chance de ganhar no primeiro turno. Mas nada disso foi fácil. Muitas outras coisas ocorreram que não constam aqui. A vaza-jato, a prova da ação do departamento de Estado norteamericano no treinamento e condução das investigações daqui, o desastre da gestão de Paulo Guedes na economia, o genocídio trágico de uma gestão criminosa da pandemia da Covid, a frente ampla formada em torno de Lula que congregou antigos e iminentes personagens que apoiaram ou conduziram o golpe de 2016 e até Alckimin, o antigo rival do partido golpista, que se tornou o vice de Lula. A elite financeira que abandonou Dilma quando esta ameaçou seus lucros ao usar a Caixa e o Banco do Brasil para atacar o mercado de juros volta a abraçar Lula na certeza de que o mercado financeiro assim como todos os negócios da burguesia estarão em melhores mãos do que as do apedeuta e fascista Bolsonaro. O povo trabalhador, que durante quatorze anos de governo do partido dos trabalhadores jamais foi chamado para um referendo popular ou plebiscito, agora é convocado para trabalhar e votar novamente. A estes é oferecida uma saborosa retórica populista de que voltarão a comer churrasco e tomar cerveja. De fato, esse gozo popular é bem menor agora do que foi outrora. Mas em geral lhes é oferecido mais palavras do que fatos. O paraíso da classe trabalhadora é, desse modo, reduzido a este gozo dominical. E ainda que ela chegue a esse paraíso, o que teremos é a manutenção desta classe de forma subserviente. Lula edulcora a exploração capitalista e realiza com picanha (ainda que não passe de maminha) o pacto social tão almejado pelas elites econômicas. Esta mesma elite que ainda é ideologicamente colonialista, escravocrata e não pensa duas vezes em abraçar o fascismo contra o governo dos trabalhadores, também chega assim ao seu paraíso. O tiro saiu pela culatra. Bolsonaro era bárbaro demais, mesmo para essa nossa odiosa e nefasta elite e ela se viu obrigada, após tê-lo prendido, a soltar Lula e aceitar o seu retorno. 

    Enfim, não queria votar em algo que sempre critiquei. O projeto que defendo não tem chances eleitorais. Ciro Gomes defendeu um projeto capitalista tanto quanto o de Lula, mas um pouco mais à esquerda e parecia palatável frente ao neoliberalismo envergonhado do PT, mas como lhe faltou alianças e se viu isolado, adquiriu uma retórica tão tacanha quanto daquele que nos governa atualmente. À sombra do fascismo qualquer tempo a mais nas mãos do candidato a déspota ignorante se revela temerário. A tática do PT de esvaziar os movimentos pró-impeachment deu certo. Quando muitos de nós fomos às ruas e pedimos impeachment de Bolsonaro, a burocracia partidária do PT fez o cálculo político frio de preferir sangrar Bolsonaro e levar até às eleições. Funcionou. Votaremos em peso em Lula para tentar acabar com esse governo criminoso que assedia toda semana a frágil democracia burguesa brasileira. E com isso, fecharemos o ciclo lampedusiano. Muita coisa foi feita para que tudo permanecesse como estava. Com dois agravantes: agora a classe trabalhadora amarga uma reforma trabalhista e uma reforma previdenciária que aumentaram a superexploração do trabalho no Brasil.

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 1 As manifestações conseguiram pressionar os parlamentares que rejeitaram esse projeto de emenda constitucional que visava limitar poderes investigativos do Ministério Público. Poderes que se tornaram decisivos para todo o movimento antipolítica que se operou a partir de então. Confira: https://g1.globo.com/politica/noticia/2013/06/camara-derruba-pec-que-tentava-limitar-o-poder-deinvestigacao-do-mp.html.

Brasil da Esperança, Rio Preto da Esperança.

É na eleição municipal que a democracia fica mais evidente, pois é nas cidades que os cidadãos de um país podem se manifestar de maneira mai...