sexta-feira, 1 de abril de 2016

Pai, o que é "direita" e "esquerda" na política?

É claro que diante das discussões tão abertas dos últimos dias, as crianças em geral começam também a prestar mais atenção nas mesmas e nos seus detalhes.
Meu filho mais novo, dia destes, após ver alguma coisa na TV, me acorreu com esta dúvida: "O que é direita e esquerda, que estão falando?"
Pensei que eu tinha mesmo que responder, mas minha resposta não poderia ser de forma desleixada. Nem tão simplificada, mas muito menos complicando, querendo dar um sentido muito teórico.  E também eu devia ter cuidado para não ser tendencioso, pois óbvio, tenho minha convicção.
Enquanto eu falava, do meu jeito, fiquei imaginando que muitas pessoas também não sabem esta diferença, nem a importância de conhece-la, supondo inclusive que utilizem estes "rótulos" em alguma manifestação da qual participem, sem ter muita noção do que defendem.
Mas nem sei se há culpa neles, pois quem poderá dizer, diante do fim da Guerra Fria, ou mesmo do aparente adormecimento do nazi-fascismo que se pode classificar facilmente direita e esquerda?
O cientista político italiano Norberto Bobbio, morto em 2004, já citou que a dicotomia está subdividida em esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita.  Contudo, ele mesmo sempre reforçou direita e esquerda, lembrando que ambas são muito claramente divididas.
Só que falar para meu filho conceituando, não seria muito útil.  Até porque se tentarmos entender direita e esquerda como dois pontos de uma reta, poderemos entender que, sendo opostos, não se cruzam.  Mas quando prestarmos mais atenção, veremos algumas semelhanças entre a extrema esquerda e a extrema direita, podendo então imaginar um "U".  É o que defendem alguns teóricos.  Eu mesmo compro esta ideia.  Mas claro, com reservas.  Fascismo e comunismo, não são as mesmas coisas.  A maior semelhança entre as duas extremas está no autoritarismo excessivo e no uso da violência como solução para conflitos. No mais, direita e esquerda são mesmo lados opostos.
Para não ficarem dúvidas maiores na cabecinha do meu filho, expliquei primeiro o que busca a esquerda.  A minoração das desigualdades humanas.  Enquanto isso a direita prega a manutenção das tradições e o entendimento de que as desigualdades são fruto da condição humana.
Sei que parece muito simplista e até com caráter maniqueísta, esta minha colocação.  Mas no fim é isto mesmo.  Então emendei que há partidos não tão facilmente classificáveis. Só pra constar, podemos dizer que há entre esquerda e direita, o centro.  No centro podemos colocar todos aqueles reformistas conhecidos como o liberalismo, a social democracia e alguns outros nomes que pegam carona nas ideologias mais explícitas, confundindo todo mundo depois.  Jurei que um dia ia escrever e separar num papelzinho, todos os Ps de centro, de direita e de esquerda do Brasil. (Como se fosse possível).
Só que eu sei, neste meu jeito de falar ficam faltando peças na minha resposta, principalmente sobre a diferença entre esquerda e direita.
Alguém um pouco mais informado que meu filho, irá perguntar onde está abordada a questão da propriedade privada e do controle dos meios de produção.
É que quando eu tenho que explicar a uma criança, dá pra resumir e dizer que a esquerda, no combate às desigualdades se valerá inclusive da mudança da ordem social.  Isto quer dizer que os conceitos de propriedade também podem ou devem ser revistos.  Já a direita, que não compactua com este rompimento, não apoia esta mudança, mas se finca na conservação.
No Brasil, como em boa parte do mundo, temos por vezes partidos que se denominam "de esquerda" fazendo defesas conservacionistas, ao mesmo tempo não é raro encontrar partidos caracterizados como "de direita" pregando algumas mudanças agressivas.  Mas isso se dá mais pela conveniência do que pela ideologia, penso eu.
Haja cabeça, né?
Quando acabei de explicar, meu filho conferiu:  "Qual é do bem e qual é do mal?"
Como eu queria simplesmente falar o que eu penso...  Mas não podia.
De algum modo eu tentei novamente explicar sem tender para um dos lados.  Mas eita como é difícil.
Falei que a busca pelo fim da desigualdade, supera a luta pelo simples crescimento individual.  Que só é possível haver a igualdade se todos formos mais parecidos no exercício dos nossos direitos e deveres.  E por parecidos, devemos ver tanto os aspectos físicos como sociais, ou seja, a igualdade independe do sexo, da cor, da raça, da nacionalidade e também da classe do indivíduo.  E que o mais difícil é, sem dúvidas, a igualdade entre pessoas de classes diferentes, pois como pode alguém que tem tudo ser igual a outro que não tem nada?  A distribuição de renda justa é um dos caminhos para isso.
Como nas crianças, a curiosidade é ilimitada, a satisfação ainda não era completa.  Ele quis saber onde estão os maus políticos, como os corruptos, por exemplo.
Eu não podia mentir para meu filho.  Corruptos estão em toda parte.  Nos partidos de esquerda, de direita, de centro e mesmo fora dos partidos, nas associações, igrejas, entre alguns membros do judiciário, escolas etc.
Falei ainda que o corrupto não tem cor, não tem ideologia e não tem "amor", pois só quer pra si, independente de quem pague por isso.
Antes de eu terminar, meio que não prestando muita atenção nesta parte, ele me veio com outra pergunta:  "Por que o pessoal da esquerda usa o vermelho e não o verde e o amarelo?"
A pergunta é simples, em que pese não ser necessariamente uma regra.  Mas aqui também não há como não tender para um lado.
O vermelho é a cor do sangue.  Todos os indivíduos o tem na mesma cor.  Não existe sangue azul. Mas ninguém é contra o verde e amarelo, ou qualquer outra cor de bandeira.  Só que quando estamos de verde e amarelo, estamos passando o recado de que, aquilo que buscamos é só para os brasileiros. Já quando estamos com o vermelho, a mensagem é de que desejamos o que buscamos para todo o gênero humano.
E deixei escapar que os sentimentos de fraternidade, igualdade e respeito ao próximo são assim mesmo. Não distinguem cara, nem credo ou qualquer outra característica.
O menino comentou que se era simples assim, parecia que não havia muito o que discutir.
Terminei então preocupado.  Acabei sem saber se meu filho entendeu tudo.  No final, ele fez uma cara de interrogação enorme.  Mas daí soltou:  "Ah, então eu já sei.  Você é de esquerda."
Juro que não confirmei, mas o abracei de forma muito especial.


9 comentários:

  1. Aqui é verde e amarelo. Coitado do seu filho... doutrinação esquersista

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    1. Tem um erro de digitação no seu comentário também... Escreveu "esquersista"...

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  2. Tem um erro de digitação lá... Se é que vc é homem para publicar

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    1. Por favor, me ajude a localizar o erro. Quanto a ser homem para publicar, não entendi...

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  3. "Enquanto isso a direita prega (...) o entendimento de que as desigualdades são fruto da condição humana." Eu realmente ainda não entendi. Gostaria de uma explicação, se possível. Estou aqui para estudar, não para criticar ninguém. Mas confesso que é complicado entender ainda mais nos dias atuais tão agressivos o que vem a ser a ideologia de direita e a ideologia de esquerda. Se puder me ajudar, agradeço! :)

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