O fato é que, dia desses, ao tomar um café com ele,
conversávamos sobre pais e filhos, dentre outras coisas aprazíveis. E foi aí que ele me disse algo que realmente
calou-me fundo. Perguntado sobre o que me deixaria mais tranquilo e realizado na vida,
revelei a ele que seria ver meus filhos bem, encaminhados e felizes.
_Pois é! Os nossos filhos pensam que o melhor que podem nos dar é orgulho, uma boa formação, estarem ricos ou trabalhando em um bom emprego, quando na verdade, tudo o que queremos deles é que estejam BEM e FELIZES.
Dai emendou:
_E o que você
acha que mais deixaria seus pais, agora idosos, tranquilos, realizados e em paz? Por certo o mesmo que você gostaria de receber dos seus filhos.
Entendi na hora o recado.
A gente nasce, cresce, dá um monte de trabalho aos pais. Estuda, arruma um emprego e casa, sem aliviá-los
das constantes preocupações conosco.
Descasa, fica doente, perde o trabalho, enfrenta dificuldades de diversas ordens e
agrega, nos agora velhos, ainda mais preocupações. Que presente maior eu poderia
dar então aos meus pais, que representasse uma real libertação desse sofrimento permanente, a
eles impingido, desde meu nascimento?
Nada seria maior e mais reconfortante do que declarar-lhes
que tudo está bem comigo. Mas não
falsamente. Não de maneira “ensaboada”. Mas afirmar com convicção o que de fato é, ou
seja, fui forjado ao longo de minha vida, no sangue, nome e caráter que eles
(pai e mãe) me legaram ou edificaram em mim.
Já por isso, aliás, só por isso, sou capaz de enfrentar
quaisquer provas com resignação, coragem e altivez. Tenho deles o melhor que puderam me dar. Determinação, vigor, criatividade,
honestidade e honradez. Tivessem me dado
apenas dinheiro, ainda que muito, ou se ocupassem apenas em satisfazer-me os caprichos e
desejos, por certo hoje eu estaria fraco, dependente, desprotegido e muito desesperado.
Ao compreender isso, prometi ao Fábio que, quem sabe no Natal ou quiçá na próxima
visita que lhes fizesse, lhes entregaria, num envelope, uma pequena cartinha contando como tudo está bem. Como tudo é
bom em minha vida e claro, graças a eles, aos seus muitos esforços, preocupações e orações.
O texto seria mais ou menos assim:
“Pai e mãe. Vim aqui
hoje só pra tomar um café e lhes dizer que está tudo bem comigo. Tudo maravilhosamente bem. De saúde, não posso reclamar. E a vida segue saborosa, surpreendente e
feliz como vocês sempre sonharam pra mim.
Então, muito obrigado, pois sou e estou exatamente como deveria
estar. Pleno de motivação, gratidão e
serenidade. Cheio de boas lembranças e
amor no coração decorado com seus muitos exemplos ”.
O triste é que eu saí daquele café com Fábio, mas logo me distraí com vários outros afazeres. Dezenas ou mais vezes visitei meus pais desde
então, mas não lembro de ter feito a carta ou sequer ter dito isso a eles.
Com atraso, embora nunca tarde demais, agora escrevo. Em parte pra não
me esquecer, mas também para alertar algum desavisado que passe por aqui como a
perguntar-lhe: E você, agradeceu seus
pais hoje? Disse a eles como vai tudo
bem? Já lhes deu esse grande presente?
Um gesto tão simples mas tão significativo aos corações e quase sempre esquecido.
ResponderExcluirValeu a lembrança
Adorei o seu texto em forma de cronica... Este assunto é bem pertinente pois por conta desse amor em excesso dos pais para com os filhos mesmo assegurando a eles que esta tudo bem nunca vão deixar de se procupar com suas crias, seus pedaços... Mas a atenção para com eles (os pais) jamais deve ser deixada de lado... Hoje já não os tenho aqui comigo... e confesso nunca mais me senti inteiro depois que eles se foram....E o que me deixa contente é saber que cada dia vivido essa saudade é mais forte e esse amor mais intenso, pos tenho a certeza que em alguma dimensão esses pedaços se fundirão num todo. Obrigado Carlinhos. Abraços Darci... Abraços Carlos vocês me são Caríssimos!
ResponderExcluirCarlos, você me fez chorar agora. Sabe que quando a minha mãe estava doente, eu tive a visão de que deveria fazer isso para ela ir embora em paz? Eu cheguei no hospital e comecei contar a ela como eu estava bem com o meu marido, que a gente tinha passado uma época estremecidos, mas que ele estava super carinhoso, que o Raul tinha melhorado muito o comportamento exigente que ele tinha antes, que ele estava mais afável e aceitando mais os nossos conselhos, que a nossa família estava harmoniosa.... Eu senti que isso faria bem pra ela, que ele poderia partir mais tranquila sabendo de tudo isso. Falei pra ela o quanto o exemplo dela foi importante para mim, que se eu sou a pessoa que sou hoje foi graças a tudo o que ela me ensinou. Eu falei tudo isso, mas a mensagem subliminar era: pode partir em paz, nós estamos bem. Agora, lendo o seu texto, eu me recordei disso e fiquei feliz por ter tido essa atitude com ela. E nós não podemos deixar pra depois, porque a gente nunca sabe se amanhã será tarde demais. Obrigada pelo texto.
ResponderExcluirMesmo não compartilhando as ideologias políticas do Carlos Alexandre, tenho por ele uma gratidão e uma admiração intocável. Autor de conteúdos que nos fazem refletir e compartilhar com pessoas cuja as quais sentimos que precisam de algo mais. Dono de um invejável talento de persuadir pessoas e o domínio daquilo que pensa e defende. Obrigado pelo conteúdo. Quando acabei de ler o artigo, juro que senti a presença de meu querido pai do meu lado.
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