quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Motivos, objetivos e meta. Você os tem?

 

Para muita gente, o simples fato de existir pode ser um fardo bastante pesado.  Afinal, quem carrega uma doença grave, ou está vivendo a perda de alguém querido, tem sobre si uma enorme carga.

Também o tem quem está desempregado, endividado ou simplesmente acometido de forte depressão.

Mesmo pessoas assim, despertam todos os dias e querendo ou não, tocam suas vidas, pois como diz o poeta: “Navegar é preciso”.

Se não trabalharmos constantemente a motivação, corremos também o sério risco de ficarmos apáticos e passamos a acreditar que viver é difícil. Algo simples como acordar e arrumar a cama, parecerá a mais trágica batalha.

Aprendi isso logo cedo com minha avó. 

Se ao amanhecer estivesse com dor de cabeça ou meio adoentado, ouvia dela que se não levantasse, tomasse um banho e “desse um jeito na vida”, aquela moleza tomaria conta de mim e a doença me derrubaria.

Com ou sem sono, ela me fazia levantar, lavar o rosto e arrumar a cama.  E se eu reclamasse ela deixava claro um ditado que nunca esqueci: "A vida é dura pra quem é mole".

E isso ficou tão impregnado em mim que quando acordo com mal-estar ou indisposição, aí é que me entupo de afazeres. Cair de cama, pra mim, será o último recurso.

Em dado momento de minha vida, precisamente aos 40 anos, sofri um AVC isquêmico que me pôs fora de combate por um bom tempo.

Com tontura e diplopia, não sentia vontade para me levantar da cama.  Mesmo assim, acordava e tomava um bom banho.  Depois me sentava em uma cadeira na varanda e ficava olhando para o jardim da frente de casa.  Não conseguia ler ou ver TV.  Caminhar era tarefa quase impossível.  E em muitos momentos, fui tentado a desistir de tudo.

Minha mulher e meus pais faziam força para me ajudar na recuperação.  Ganhei uma bengala e fui inscrito em um programa de fisioterapia.

Mas era terrível a ideia de me locomover e então realizar qualquer tarefa.

Tive então que colocar em prática uma tática que me acompanharia por um longo tempo e me faria, não só dar a volta por cima da doença, mas reestruturar toda a minha vida.

Como levantar da cama era um esforço absurdo e aparentemente inútil, eu tive que criar um motivo pra isso.  Foi aí que peguei uma foto da família e a coloquei na cabeceira.  Também a coloquei em meu bolso.

Aquele era enfim o motivo pelo qual eu levantava todos os dias.  A família. 

Minha mulher estava trabalhando sozinha e tomando conta da casa, dos filhos e colocando o dinheiro que nos sustentava.  Eu devia fazer a minha parte.  Então, eu precisava trocar meus filhos, e ficar bom logo para leva-los à escola, aliviando-a de uma parte das tarefas.

Regar as plantas, lavar a varanda e fazer a comida, agora que não podíamos mais pagar a empregada, também poderia ser suportado por mim. E aos poucos, fui assumindo esses papéis.

Enfim, o motivo estava ali e não era pouco.

Assim que o despertador tocava, portanto, e eu via a foto da família, me punha em pé para o banho regenerador e as pequenas tarefas que me eram possíveis de realizar.

No entanto, se por um lado o motivo me fazia levantar, era preciso mais que isso para me manter ativo.  Eu precisava de objetivos.  Então também os criei.

Voltar a trabalhar era um deles.  Ser o mantenedor da casa era outro.  Me formar, já que havia interrompido há alguns anos a faculdade.  Por fim, viajar para o exterior e conhecer lugares novos com a "galera" de casa.

Me pus firme na fisioterapia.  Peguei dicas e receitas de alimentos que me seriam propícios para a recuperação de minha saúde e sistema nervoso.  Passei a caminhar e a meditar constantemente.  Brincava com os filhos na piscina e cuidava do jardim.  Em breve, a força voltara as pernas.  Também o equilíbrio e então voltei a dirigir. Até pintar a casa me desafiei.

Busquei um emprego.  Não seria legal voltar a trabalhar com minha mulher, pois ela estava cuidando de tudo otimamente.  Eu tinha então que ganhar de outra fonte e tentar fazer algo diferente do que tinha feito até então.

Um emprego sem muita promessa, em muito pouco tempo se tornou uma grande oportunidade.  A empresa cresceu e me tornei um diretor.

Não demorou e com incentivo de meu cunhado, me inscrevi em um vestibular e junto com ele e mais tarde com minha mulher, nos formamos.

Erguidos financeiramente, fizemos então diversas viagens para o exterior como casal e também com os filhos.

Mas algo ainda estava faltando.

Se por um lado havia um forte motivo para me levantar todas as manhãs e objetivos a conquistar, era fundamental ter uma meta.  Uma meta.

De início eu não conseguia enxergar algo.  Afinal, essa meta deveria pautar minhas atitudes e pensamentos. Era pra ser "mega" especial.

Um dia, ela simplesmente se apresentou para mim.

Estava em Portugal com minha mulher e procurávamos a casa de parentes em uma região de pequenos montes e muito verde.

Ali naquele lugar, uma casa bem pequena e antiga, cercada de flores, tinha fumaça saindo de sua chaminé.  Embora o clima estivesse frio, havia sol e em uma cadeira confortável, um senhor jazia sentado com um cão aos seus pés, enquanto tomava um vinho e mantinha um livro nas mãos.

Sem falar nada para ela, declarei pra mim mesmo:

“Quero terminar meus dias aqui em Portugal.  Com a idade avançada, quero ler, beber vinho, curtir o clima ameno e sobretudo, estar em paz.  Olhar pra trás e vislumbrar uma caminhada bem trilhada.  Não dever nada a ninguém e principalmente não trazer peso na consciência por ter traído, enganado ou usurpado.”

Pronto.  A partir daquele dia, tudo o que fazia vinha sempre acompanhado desse pensamento.  Algo como a balizar decisões e atitudes afim de não macular aquela visão no futuro.

Hoje, sou cidadão português e enquanto me encaminho para a idade avançada, faço de tudo para livrar-me de qualquer impeditivo que possa me dificultar o alcance dessa meta.

Motivo, objetivos e meta são, portanto, instrumentos ferozes e eficazes para a construção ou reconstrução de nossas vidas.

Digo sempre a quem posso... Encontre ou crie os seus e siga em frente.

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