CARLOS ALBERTO GOMES (Gomes de Castro)
Autor de Ainda Resta Uma Luz e Tramas do Destino - Editora Scortecci
Como faço
diariamente, pedi à minha esposa que me cozinhasse dois ovos, nos quais
coloquei umas pitadas de sal e os comi, avidamente. Após tomar uma xícara de
café, fui para o alpendre aonde me acomodei em uma rede, ainda pensativo na
esperança de que algo me ocorresse e me aliviasse daquela irritante angústia.
Meus olhos deram
com um livro que estava como se fora jogado na poltrona ao lado e,
automaticamente, estendi o braço e o peguei. Há já dias que vinha lendo-o, mas
não sei por qual motivo, minha leitura não estava sendo lá assim tão
progressiva. Talvez eu estivesse preocupado com outros assuntos e tenha me
relegado ao ostracismo em relação ao meu “Sapiens”, presente de meu filho
Marcelo. Nesse momento eu entendi o porquê de não haver progresso em minha
leitura. Tenho ignorado o hábito de ler pela manhã. Quando dei por mim já
fechara o Sapiens e o colocara de volta à poltrona.
Não havia dúvidas
de que ficando em casa nessa hora do dia eu não teria descanso visto que o
telefone não parava de chamar. Levantei-me resolvido a dar uma pequena
caminhada para a qual convidei minha esposa que, embora costumasse caminhar
todos os dias a essa hora, estava ocupada com serviços domésticos o que fez com
que eu saísse sozinho.
Como geralmente, ao
sair a esmo, automaticamente fazemos trajetos costumeiros, lá estava eu, novamente,
junto ao muro que separa o condomínio da estada que leva ao loteamento São
Carlos, divisa entre eles.
Ali, eu costumava
sentar-me, juntamente com minha esposa, gozando do sossego daquele local
paradisíaco, à sombra de três grandes árvores que foram abatidas de uma forma
que até hoje não consegui entender, embora o tentasse todas as vezes que vou
até lá.
De repente,
passavam pela minha mente, como se fosse um vídeo, as figuras das três árvores,
imponentes, as quais me serviam como regalo em minhas meditações. O
interessante foi o despertar em mim, de outra realidade, quanto a existência
daquele trio de árvores, ali vivendo há décadas e infelizmente ceifadas sem que
saibamos a razão. Mais interessante ainda e que somente agora eu tomava
consciência, era minha visão de que as raízes de uma das três árvores, era
desprovida de qualquer tipo de beleza. Na verdade, eu as achava feias em sua
exposta e retorcida aparência, em relação a sua bela folhagem, comparando-as
com suas vizinhas, por sinal mais humildes porem, com um verdor invejável.
Enfim, me pareciam feias e, pronto. Minha visão virtual de agora, começava a
mostrar-me certas peculiaridades que antes não conseguia perceber. Como às
vezes nos enganamos ao não prestar atenção nos pormenores que nos são expostos!
Na verdade, eu as via de forma totalmente diferente e não podia chegar a outra
conclusão que não fosse o fato inequívoco que a beleza daquela árvore, estava
justamente ali: Nas suas retorcidas raízes. Além do mais, era o que a
diferenciava das outras demais. Sem suas raízes, ela nada representava para que
eu fizesse uma apreciação do conjunto que o trio representava. Sim, esse é o
grande erro que o ser humano comete quase que diariamente ao fazer julgamentos
muitas vezes precipitados.
De volta para minha
casa eu ia fazendo minhas conjecturas, tecendo comparações com fatos outrora
existentes em minha vida quando empresário e ao contratar funcionários, sabe-se
lá em quantos pré-julgamentos deixei-me levar pelas aparências e cometendo
então injustiças que tiravam a oportunidade de candidatos, muitas vezes
necessitados do emprego, naquela oportunidade e com minha atitude coibindo-lhes
de demonstrar suas reais capacidades.
Pensando bem, agora
me chama a atenção a maneira pela qual os amantes do cultivo do Bonsai dedicam
às suas raízes, os tornando muito mais interessantes devido a esse esmero em
relação às posições das raízes o que acaba por embeleza-los, tornando-os mais
atrativos.
Todavia, o que mais
me preocupa e que me leva a apreciar este assunto é o que se refere a animais,
principalmente os humanos. Precisamos cuidar da “nossa parte” agindo sempre de
maneira correta e torcer para que nossos exemplos exerçam influências em outras
pessoas, numa contribuição indireta para que melhorem nossas atitudes em
relação aos julgamentos que realizamos em nosso cotidiano.
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