quarta-feira, 7 de julho de 2021

Introspecção à sombra das árvores

 

CARLOS ALBERTO GOMES (Gomes de Castro)

Autor de Ainda Resta Uma Luz e Tramas do Destino - Editora Scortecci 


    Dias há em que acordamos tão fora do normal, que sequer poderíamos imaginar como fazer para encarar o que virá durante o resto do dia. Foi nesse estado que me encontrava hoje, pela manhã, ao levantar-me.

Como faço diariamente, pedi à minha esposa que me cozinhasse dois ovos, nos quais coloquei umas pitadas de sal e os comi, avidamente. Após tomar uma xícara de café, fui para o alpendre aonde me acomodei em uma rede, ainda pensativo na esperança de que algo me ocorresse e me aliviasse daquela irritante angústia.

Meus olhos deram com um livro que estava como se fora jogado na poltrona ao lado e, automaticamente, estendi o braço e o peguei. Há já dias que vinha lendo-o, mas não sei por qual motivo, minha leitura não estava sendo lá assim tão progressiva. Talvez eu estivesse preocupado com outros assuntos e tenha me relegado ao ostracismo em relação ao meu “Sapiens”, presente de meu filho Marcelo. Nesse momento eu entendi o porquê de não haver progresso em minha leitura. Tenho ignorado o hábito de ler pela manhã. Quando dei por mim já fechara o Sapiens e o colocara de volta à poltrona.

Não havia dúvidas de que ficando em casa nessa hora do dia eu não teria descanso visto que o telefone não parava de chamar. Levantei-me resolvido a dar uma pequena caminhada para a qual convidei minha esposa que, embora costumasse caminhar todos os dias a essa hora, estava ocupada com serviços domésticos o que fez com que eu saísse sozinho.

Como geralmente, ao sair a esmo, automaticamente fazemos trajetos costumeiros, lá estava eu, novamente, junto ao muro que separa o condomínio da estada que leva ao loteamento São Carlos, divisa entre eles.

Ali, eu costumava sentar-me, juntamente com minha esposa, gozando do sossego daquele local paradisíaco, à sombra de três grandes árvores que foram abatidas de uma forma que até hoje não consegui entender, embora o tentasse todas as vezes que vou até lá.

De repente, passavam pela minha mente, como se fosse um vídeo, as figuras das três árvores, imponentes, as quais me serviam como regalo em minhas meditações. O interessante foi o despertar em mim, de outra realidade, quanto a existência daquele trio de árvores, ali vivendo há décadas e infelizmente ceifadas sem que saibamos a razão. Mais interessante ainda e que somente agora eu tomava consciência, era minha visão de que as raízes de uma das três árvores, era desprovida de qualquer tipo de beleza. Na verdade, eu as achava feias em sua exposta e retorcida aparência, em relação a sua bela folhagem, comparando-as com suas vizinhas, por sinal mais humildes porem, com um verdor invejável. Enfim, me pareciam feias e, pronto. Minha visão virtual de agora, começava a mostrar-me certas peculiaridades que antes não conseguia perceber. Como às vezes nos enganamos ao não prestar atenção nos pormenores que nos são expostos! Na verdade, eu as via de forma totalmente diferente e não podia chegar a outra conclusão que não fosse o fato inequívoco que a beleza daquela árvore, estava justamente ali: Nas suas retorcidas raízes. Além do mais, era o que a diferenciava das outras demais. Sem suas raízes, ela nada representava para que eu fizesse uma apreciação do conjunto que o trio representava. Sim, esse é o grande erro que o ser humano comete quase que diariamente ao fazer julgamentos muitas vezes precipitados.

De volta para minha casa eu ia fazendo minhas conjecturas, tecendo comparações com fatos outrora existentes em minha vida quando empresário e ao contratar funcionários, sabe-se lá em quantos pré-julgamentos deixei-me levar pelas aparências e cometendo então injustiças que tiravam a oportunidade de candidatos, muitas vezes necessitados do emprego, naquela oportunidade e com minha atitude coibindo-lhes de demonstrar suas reais capacidades.

Pensando bem, agora me chama a atenção a maneira pela qual os amantes do cultivo do Bonsai dedicam às suas raízes, os tornando muito mais interessantes devido a esse esmero em relação às posições das raízes o que acaba por embeleza-los, tornando-os mais atrativos.

Todavia, o que mais me preocupa e que me leva a apreciar este assunto é o que se refere a animais, principalmente os humanos. Precisamos cuidar da “nossa parte” agindo sempre de maneira correta e torcer para que nossos exemplos exerçam influências em outras pessoas, numa contribuição indireta para que melhorem nossas atitudes em relação aos julgamentos que realizamos em nosso cotidiano.

 

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