"Envelhecer é um processo
extraordinário em que você se torna a pessoa que sempre deveria ter sido".
David Bowie
A vida me tem ensinado a cada dia conforme avanço na idade.
Nem por isso os defeitos
desaparecem como num passe de mágica.
Continuo chato, arrogante,
egoísta, destemperado, sobretudo se contrariado. Também sou
falador. Por falador tome aquele que não deixa as coisas guardadas no seu
devido lugar. Afinal, tem assuntos que só nos dizem respeito e a mais ninguém.
Se tivesse aprendido isso antes, eu teria sido mais feliz e mais vitorioso.
Nunca subestime quem, mesmo ao
seu lado, poderá usar suas fraquezas, queixas ou desabafos contra você e quando
menos espera.
Mas claro, tenho sentido que a
melhora é contínua e gradativamente vou me tornando, como defendeu o roqueiro
inglês, a pessoa que eu sempre deveria ter sido.
Nesse sentido, aplicar em nossa
jornada profissional algumas reflexões que se produzem junto aos cabelos brancos
pode ajudar bastante.
Trabalhar é uma ação que
depende muito de como nos relacionamos com as pessoas. Por isso, desde cedo
aprendi que era fundamental me relacionar bem com todo mundo se quisesse
brincar, estudar ou conviver bem.
Às vezes confundi esse conceito
com agradar a qualquer custo. Me anulei ao extremo em certos casos e embora
fosse acolhido no momento, logo os sentimentos reprimidos vinham à tona com
toda força. Na explosão, perdia quem conquistara.
Pior era ser tomado por
demagogo ou falso ao tentar ser aceito. Cheguei mesmo a me confundir por
não saber me comportar de maneira equilibrada. Será que eu não era mesmo
sincero e só estava “puxando saco”?
Hoje vejo isso na prática de
muita gente no ambiente de trabalho. Gente que tenta agradar, passando
por cima dos seus limites, logo em seguida surtando e pondo tudo a
perder. Também me deparo com aqueles que se assemelham a bajuladores, o
que é horrível. No fundo, agora acho que só estão se contorcendo para
serem aceitos ou aprovados. Bonito não é.
Com certeza não.
O inverso também é
verdadeiro. O excesso de sinceridade ou de fazer valer a própria vontade,
afasta e isola o indivíduo ao ponto de prejudicar seu crescimento e progresso
na carreira. Bons profissionais são tidos por insuportáveis e embora
respeitados na frente, são fruto de maledicência ou ataques pelas costas. Portanto,
logo rasteirados ou substituídos a bem do coletivo.
A gente devia aprender bem
cedo, lá na escola primária, as relações interpessoais.
Pra me proteger, depois que
fiquei "maduro", passei a cultivar algumas regras particulares. Só
que não posso declará-las infalíveis.
Sei, por exemplo, que cem
amigos ainda é pouco, mas um inimigo é muito. Sei também que os colegas e
conhecidos vão se alterando nas nossas relações, mas quando fazemos um inimigo,
esse dura por longo, longo tempo.
Quase ninguém se lembra de
agrados ou favores, mas jamais esquecerá uma desavença, uma agressão ou uma
contrariedade. Você pode emprestar dezenove coisas a alguém, mas se
recusar a vigésima, a amizade será fortemente abalada.
Tentar esquecer desfeitas ou
maus tratos que tenhamos recebido é importante, mas não realizarmos algo
parecido a outra pessoa é fundamental. Nem que seja involuntário.
Um dia não cumprimentei alguém
que passou por mim na rua. Não o vi ou não o reconheci. Mas essa
pessoa, sem que eu soubesse, ficou com raiva eterna de mim, até mais tarde, em
um momento de negociações, me jogar isso na cara. E eu nem sabia que era
odiado.
De igual modo, alguns inimigos
velados atuam no sentido de nos provocar inimizades gratuitas, nos denegrindo
perante os outros para garantirem seu lugar.
Não dá pra dizê-los maus, pois acredito até que se comportam desse modo
por insegurança ou reconhecimento de sua incapacidade em conquistar confiança.
Mesmo assim é preciso ficar alerta
com o que a gente mesmo causa aos outros.
Quantas palavras, ações ou
omissões foram desferidas por nós a alguém, talvez sem consciência, ao longo
dos dias e anos gerando mágoas e raiva que nos são devolvidas depois na forma
de maus sentimentos, mentiras sobre nós ou energia ruim?
Se isso tudo é fato no
relacionamento entre amigos, familiares, colegas de faculdade, acredite, no
ambiente de trabalho se destaca e se multiplica infinitamente.
Patrões e empregados, chefes e
subordinados, colegas da mesa ao lado, sempre terão dificuldade em interpretar nossas
ações se elas não forem claras, explicadas e amorosas ao extremo.
Diz-se que líderes verdadeiros
são austeros, sérios, exigentes. Mas o que tem se provado nos novos
cenários corporativos é que os dissimulados tem mais chances, crescem mais ou
são mais apreciados. Uma pena.
Por serem assim são esses que
muitas vezes moldam a "matrix" no entorno, fazendo com que as vítimas
sejam vistas como algozes. Enquanto isso eles sobem deixando pra trás um pequeno
rastro de destruição de reputações.
Criou-se até um termo na década
de oitenta. A "perversidade profissional". Me lembro que
autores davam dicas de como se comportar entre os demais colegas de trabalho
para se proteger desses sanguessugas da alma alheia.
Sabe o que aconteceu comigo?
Como já vivenciei também essa experiência e bem de perto, hoje sou um grande
defensor do trabalho home. Isoladamente, sem a fofoca ou sem a
interferência desses vampiros, o trabalho rende mais e os esforços redundam em
melhores resultados.
Relacionamento não é simples. Lidamos com o ego das pessoas e com os nossos
próprios egos também. O autoconhecimento
é libertador. Lamentavelmente chega quando
já demos muita cabeçada.
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