sexta-feira, 16 de julho de 2021

Desculpe o auê



"Envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que sempre deveria ter sido".

David Bowie


 A vida me tem ensinado a cada dia conforme avanço na idade.

Nem por isso os defeitos desaparecem como num passe de mágica.

Continuo chato, arrogante, egoísta, destemperado, sobretudo se contrariado.  Também sou  falador.  Por falador tome aquele que não deixa as coisas guardadas no seu devido lugar. Afinal, tem assuntos que só nos dizem respeito e a mais ninguém. Se tivesse aprendido isso antes, eu teria sido mais feliz e mais vitorioso.

Nunca subestime quem, mesmo ao seu lado, poderá usar suas fraquezas, queixas ou desabafos contra você e quando menos espera.

Mas claro, tenho sentido que a melhora é contínua e gradativamente vou me tornando, como defendeu o roqueiro inglês, a pessoa que eu sempre deveria ter sido.

Nesse sentido, aplicar em nossa jornada profissional algumas reflexões que se produzem junto aos cabelos brancos pode ajudar bastante.

Trabalhar é uma ação que depende muito de como nos relacionamos com as pessoas. Por isso, desde cedo aprendi que era fundamental me relacionar bem com todo mundo se quisesse brincar, estudar ou conviver bem.

Às vezes confundi esse conceito com agradar a qualquer custo. Me anulei ao extremo em certos casos e embora fosse acolhido no momento, logo os sentimentos reprimidos vinham à tona com toda força.  Na explosão, perdia quem conquistara.

Pior era ser tomado por demagogo ou falso ao tentar ser aceito.  Cheguei mesmo a me confundir por não saber me comportar de maneira equilibrada. Será que eu não era mesmo sincero e só estava “puxando saco”?

Hoje vejo isso na prática de muita gente no ambiente de trabalho.  Gente que tenta agradar, passando por cima dos seus limites, logo em seguida surtando e pondo tudo a perder.  Também me deparo com aqueles que se assemelham a bajuladores, o que é horrível.  No fundo, agora acho que só estão se contorcendo para serem aceitos ou aprovados. Bonito não é.  Com certeza não.

O inverso também é verdadeiro.  O excesso de sinceridade ou de fazer valer a própria vontade, afasta e isola o indivíduo ao ponto de prejudicar seu crescimento e progresso na carreira.  Bons profissionais são tidos por insuportáveis e embora respeitados na frente, são fruto de maledicência ou ataques pelas costas. Portanto, logo rasteirados ou substituídos a bem do coletivo.

A gente devia aprender bem cedo, lá na escola primária, as relações interpessoais.

Pra me proteger, depois que fiquei "maduro", passei a cultivar algumas regras particulares. Só que não posso declará-las infalíveis.

Sei, por exemplo, que cem amigos ainda é pouco, mas um inimigo é muito.  Sei também que os colegas e conhecidos vão se alterando nas nossas relações, mas quando fazemos um inimigo, esse dura por longo, longo tempo.

Quase ninguém se lembra de agrados ou favores, mas jamais esquecerá uma desavença, uma agressão ou uma contrariedade.  Você pode emprestar dezenove coisas a alguém, mas se recusar a vigésima, a amizade será fortemente abalada.

Tentar esquecer desfeitas ou maus tratos que tenhamos recebido é importante, mas não realizarmos algo parecido a outra pessoa é fundamental. Nem que seja involuntário.

Um dia não cumprimentei alguém que passou por mim na rua.  Não o vi ou não o reconheci.  Mas essa pessoa, sem que eu soubesse, ficou com raiva eterna de mim, até mais tarde, em um momento de negociações, me jogar isso na cara.  E eu nem sabia que era odiado.

De igual modo, alguns inimigos velados atuam no sentido de nos provocar inimizades gratuitas, nos denegrindo perante os outros para garantirem seu lugar.  Não dá pra dizê-los maus, pois acredito até que se comportam desse modo por insegurança ou reconhecimento de sua incapacidade em conquistar confiança.

Mesmo assim é preciso ficar alerta com o que a gente mesmo causa aos outros.

Quantas palavras, ações ou omissões foram desferidas por nós a alguém, talvez sem consciência, ao longo dos dias e anos gerando mágoas e raiva que nos são devolvidas depois na forma de maus sentimentos, mentiras sobre nós ou energia ruim?

Se isso tudo é fato no relacionamento entre amigos, familiares, colegas de faculdade, acredite, no ambiente de trabalho se destaca e se multiplica infinitamente.

Patrões e empregados, chefes e subordinados, colegas da mesa ao lado, sempre terão dificuldade em interpretar nossas ações se elas não forem claras, explicadas e amorosas ao extremo.

Diz-se que líderes verdadeiros são austeros, sérios, exigentes.  Mas o que tem se provado nos novos cenários corporativos é que os dissimulados tem mais chances, crescem mais ou são mais apreciados. Uma pena.

Por serem assim são esses que muitas vezes moldam a "matrix" no entorno, fazendo com que as vítimas sejam vistas como algozes. Enquanto isso eles sobem deixando pra trás um pequeno rastro de destruição de reputações.

Criou-se até um termo na década de oitenta.  A "perversidade profissional".  Me lembro que autores davam dicas de como se comportar entre os demais colegas de trabalho para se proteger desses sanguessugas da alma alheia.

Sabe o que aconteceu comigo?  Como já vivenciei também essa experiência e bem de perto, hoje sou um grande defensor do trabalho home.  Isoladamente, sem a fofoca ou sem a interferência desses vampiros, o trabalho rende mais e os esforços redundam em melhores resultados.

Relacionamento não é simples.  Lidamos com o ego das pessoas e com os nossos próprios egos também.  O autoconhecimento é libertador.  Lamentavelmente chega quando já demos muita cabeçada.



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