quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Penso, logo existo.

 


“Não tenho casa, não tenho sapatos

Não tenho dinheiro, não tenho classe

Não tenho saias, não tenho nenhuma camisola

Não tenho perfume, não tenho cama

Não tenho homem”...




 

Essa é a primeira estrofe da música Ain't Got No / I Got Life da inesquecível Nina Simone.

 

Aprecio demais tanto a música, quanto sua autora.  Ativista anti racismo, ela canta aqui sobre tudo aquilo de que é despojada pela sua condição. Adiante na letra inspiradora, ela virá exclamar porquê de estar viva, já que não tem nada, até que começa a discorrer sobre aquilo que ninguém lhe pode tirar. Seu cabelo, seus olhos, seu sexo etc.

 

A música parece perfeita, mas há uma correção a se fazer. 

 

O cabelo pode lhe ser raspado.  Sua liberdade tolhida, seus olhos arrancados e sua boca costurada. Basta que seja atacada, agredida, violada ou torturada.

 

Há, no entanto, apenas algo que lhe pertence de fato e pelo que ela pode ter controle absoluto e em nada depender de ninguém: Ela, eu e você temos o nosso pensamento. Individual, próprio, pessoal.

 

É disso que quero tratar. 

 

Nada é totalmente meu de verdade além do meu pensamento.  Eu posso controla-lo, dividi-lo ou deixa-lo oculto.  Modificá-lo, recusá-lo ou transmuta-lo.  O resto está à mercê de quem é mais forte que eu, de quem tem algum tipo de ascendência sobre mim ou ainda, depende de condições externas de meu íntimo.

 

O pensamento não.  Eu posso cria-lo e trocá-lo ao bel prazer ou simplesmente decidindo fazê-lo. 

 

Sendo assim eu pergunto: por que “diabos” eu penso o que não desejo e me martirizo por alguns desses pensamentos? Por que penso que vou me atrasar enquanto caminho para um compromisso?  Ou por que penso que algum acidente pode ter acontecido com aquele amigo que ainda não chegou para o encontro que tínhamos?  Por que penso que meu empreendimento vai dar errado, que a TV nova vai quebrar ao ser tirada da caixa ou que meu filho vai abalroar o carro que começou a dirigir?

 

Sem dúvidas não são pensamentos que eu queira ter.  Então como estão lá na minha cabeça?

 

Bem, há uma distância entre pensar e ter pensamentos.  Quando digo que o pensamento me pertence, falo sobre aquele que eu crio, não o que surge. O que aparece na mente de repente, a me assustar, desmotivar, preocupar, entristecer, não nasceu da mim.  E por isso pode ser rejeitado, expulso, apagado imediatamente ao surgir.

 

Sua origem é um mistério.  Pode ser uma certa memória de algo ruim que ocorreu comigo ou com alguém e que eu tenha sabido.  Uma sementinha que estava lá no subconsciente só esperando a oportunidade de aflorar. Quem sabe até e de modo extraordinário, ser algo imposto por uma espécie de mente coletiva? Uma informação etérea captada pelo nosso receptor cerebral.

 

Pensamentos ruins quando mostram sua “cara”, meio que a dominar o que sentimos, devem ser combatidos com fogo mortal.  E só há um meio de fazê-lo com eficiência.  Substituindo-os por outros bons, construtivos, diferentes e felizes.

 

Ah, é muito melhor se sentir bem do que mal.  Estar alegre do que abatido.  Então por que dar vazão a esses sintomas por permitir que pensamentos implantados, pelo sabe-se lá o que, perdurem mais que um segundo fazendo seu estrago?

 

Dias atrás aguardava meu filho chegar em casa e comecei a me preocupar com a chuva forte.  Logo veio o pensamento de uma possível derrapagem.  Mas antes mesmo que a imagem se formasse em meu cérebro, substituí isso por: “Ele gosta de coxinha.  Vou fritar algumas para que chegue com essa surpresa boa”.  E na mesma hora imaginei sua felicidade refastelando-se num prato de salgados.

 

Exercícios como esses tenho repetido sempre que a oportunidade se apresenta.  E sabe de uma coisa?  Os pensamentos ruins têm diminuído. Meu humor tem melhorado muito e parece até que as coisas começam a ser melhores.

 

Eu poderia fazer aqui a defesa do pensamento positivo, promissor, edificador que tudo muda e cria ou atrai de bom.  Só que não é isso.  Faço a defesa do não sofrimento à toa, desnecessário.

 

Se posso conceber coisas boas no meu ideário, por que permitirei as ruins ocuparem todo o espaço? E se isso servir para melhorar meu astral ou até quem sabe, promover coisas boas, que mal tem?

 

Estou praticando e melhorando a cada nova tentativa.  Acho que vou ficar bom nisso.  Quem sabe, de fato, alguma lição maior nasça?

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