quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Textos de Carlos Alberto Gomes (Gomes de Castro)

Em todos nós desta casa, o amor pela família é incrivelmente grande.  Isso sempre ficou evidente ao nos encontrarmos nos eventos familiares, aos domingos ou tardes da própria semana, em conversas agradáveis nos jardins da chácara de meus pais.

Recentemente, devastados pela perda de nosso chefe de família, meu pai Carlos Alberto, tal certeza se superou e se mostrou quase física, sobretudo na emoção de meus filhos em seu funeral.

Esse sentimento nobre que nutrimos uns pelos outros no clã em que fomos criados, tem sido o combustível para os momentos mais difíceis de nossas vidas e também servem como fluído encorajador para os grandes desafios.

Devido a perda de meu velho pai, que sempre gostou de expressar seus sentimentos pela escrita, estamos fuçando seus guardados e já conseguimos encontrar poemas, textos, crônicas, desabafos e mensagens mui especiais que passarei a publicar a quem interessar possa.

Fazendo isto, penso estar realizando um tipo de homenagem, mas ao mesmo tempo pondo ao dispor um pouco de sua sabedoria, sempre oriunda de uma vivência fantástica.

O primeiro texto, uma mensagem dele para sua mãe (dona Amor) falecida nos anos 60s e que lhe deixou profundas marcas.  Esse texto, por si só, reforça o que afirmo sobre o amor familiar que trazemos.





MINHA ÚLTIMA DESPEDIDA




Tudo neste mundo parece-nos ter sua última vez.  Isto nos leva a refletir um pouco mais em tudo e no mundo em que vivemos e, se formos buscar no fundo de nosso baú, vamos encontrar referência a esta ou aquela citação como Paulo Sérgio encontrou sua música, Nicholas Sparks como suporte a um de seus romances e isto nos remete a situações inusitadas que envolvem nossos sentimentos, tornando muitas vezes uma separação entre dois seres que se amam, um marco afetivo que jamais nos sairá da memória.

Aí nos deparamos com o velho refrão de que “recordar é viver”, ou trazer até nós recordações que nos lembram dias felizes, ou que nos fazem sofrer duas vezes, ou ainda, que são um lenitivo para a gente, pois trazem até nós, no presente, coisas que há muito se acham ausentes. Isto, logicamente, depende de cada um de nós.  Na verdade, buscamos na saudade, momentos que nos satisfaçam e, muitas vezes encontramos sentimentos de dor e tristeza.

Muitas vezes eu vi escritos maravilhosos sobre minha mãe e sobre minha sogra, de autoria de meus filhos.  Eram verdadeiras apologias que me sensibilizaram bastante e que ao me por a escrever sobre elas, necessito analisar o que direi, pois reconheço que não o conseguirei tão loquazmente como eles o fazem.

Acredito que esta será também a última vez que as citarei em minhas considerações.  Ontem, vinte e dois de março (2022), fez exatamente cinquenta e quatro anos que minha mãe faleceu e levou consigo um “não sei o que” do íntimo de nossa alma que nos machucou de uma forma que, até hoje sentimos verdadeiramente tristes e saudosos.  Sentimos um amargo cruel do qual dificilmente nos livraremos, pois tempo também é relativo e depende de quem a ele se refere no momento.  É como falar de um copo com água pela metade que, segundo uns está quase cheio e para outros, se encontra quase vazio.

Como eu disse, minha mãezinha faleceu no dia vinte e dois de março e hoje, exatamente neste momento, nove horas da manhã, recordo-me assistindo à missa de corpo presente que era celebrada para a alma de minha mãe em Nova Granada, cidade em que mamãe morava, por ocasião desse evento. Foi talvez o momento mais triste por mim vivido em minha vida.  Desse dia em diante, muita coisa mudou em minha vida, mas fica a gratidão a ela tanto quanto à minha sogra que, na falta de outra avó, nos ajudou a orientar nossos filhos e a cria-los com todos os atributos que guardaram e cultuaram até os dias de hoje.

Falar sobre minha mãe não é assim tão fácil como se imagina.  Honestamente, não encontro em nossa língua palavras com as quais eu possa me referir a ela com os termos que ela merece.  Por essa razão eu me calo e sufoco dento de mim todos os sentimentos que afloram em meu coração e que deveriam ser ditos a ela.  Por essa razão somente uma coisa eu falarei a ela de todo o meu coração: “Mãezinha, minha querida, como a minha vida poderia ter sido tão diferente, tenho certeza, se você tivesse estado presente conosco.  Você jamais poderá saber a diferença que a falta de seu amor presente nos fez.

Saiba mãezinha, que o que acho incrível é a maneira com a qual meus filhos, que não a conheceram pessoalmente, se retratam a você, pois percebe-se neles uma forma de carinho todo especial quando eles a você se referem.  Imagine então se eles a houvessem conhecido.

Só me resta dizer a senhora que, hoje estou com mais de oitenta anos e batalhando há mais de dois anos contra uma doença inglória da qual, se Deus me livrar de suas garras, ficarei grato, pois me permitirá conviver mais algum tempo com minha maravilhosa família e, caso contrário, espero me reunir mais cedo a você, como o quiser Deus.

Agora, em meu último adeus, como sempre, peço mais um favor: “Abençoa-nos como sempre o tem feito e, fica sempre ligada à minha esposa, aos meus filhos e aos quatro netos que eles nos outorgaram. Beijos e até breve”.

 

Carlos Alberto Gomes (Gomes de Castro)

São José do Rio Preto, 22 de março de 2022.


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