sábado, 31 de dezembro de 2022

Bate papo do além ano velho

 

São exatamente 14h15 do dia 31 de dezembro de 2022.  Último dia do ano que levou meu pai embora, mas também trouxe de volta os ares da esperança com a eleição de Lula, na efetivação de meus projetos profissionais novos e sobretudo com as mudanças de conceitos filosóficos, espirituais e por que não dizer, intelectuais que desenvolvi nos últimos tempos.

Foi o ano em que mais li na minha vida.  Em que mais meditei. Práticas diárias que me salvaram e que super recomendo.

Nesse ano, ainda vivendo os reflexos do desmantelamento de meus negócios, também enfrentei outras situações, com destaque a ter me aproximado de algumas pessoas duvidosas, pra não dizer outra coisa. Acreditando em suas palavras vãs e prospecções inúteis, que pareciam ter vindo “para ajudar”, mas no final complicaram bastante a minha vida e a de quem estava junto, quase pus a perder enormes avanços.

Encerrei em 22, uma grande transição de quem era antes, para quem serei agora.  Abandonei algumas ilusões e inclusive deixei pra trás muita insensatez.

De religiosidade formal e cheio de cerimônias, agora vivo uma fé renovada e efetiva que me religou ao Criador de maneira nunca concebida em meus mais ardorosos tempos de “fiel”.

E decorei ensinamentos fundamentais.

Agradar todo mundo é desnecessário e impossível.  Cada um nos enxerga com os olhos que tem e portanto, o que vê é problema dele. Podemos mudar de opinião quantas vezes quisermos. Que viver é desatar nós. Que quando alguém está se afogando, a hora é de socorrer e não de dar sermões.  E que uma faxina na vida, na alma e no coração, sempre faz bem. Lições aprendidas, dentre outras.

Também entendi que ser feliz é uma questão de opção pessoal.  Ninguém nos traz felicidade.  Ninguém nos proporciona felicidade.  Alegrias, bons momentos, são pílulas de energia para a vida, mas a felicidade é um estado de espírito permanente que a gente ou decide ter, ou decide não ter.

Filhos ao redor.  Companheira valorosa aquecendo o coração.  Irmão, cunhada e sobrinha que não desamparam. Amigos presentes, mesmo distantes.  Mãe que enfrentou com vigor e coragem os mais duros momentos de sua vida, no martírio de meu pai.  E ele, homem que deixou impregnados em meu caráter, seus valorosos ensinamentos e atos de grande importância. Quem pode querer mais?

Sim, dá pra agradecer e repetir a frase que eu sempre digo ao final de cada ano.  “Foi o melhor ano vivido até o momento em minha vida.”

Ah, mas e os problemas, as dificuldades, as dores, as perdas?

Oras... isso tudo fortalece, enobrece, encoraja, aperfeiçoa, lapida, abrilhanta, energiza, educa e nos faz imbatíveis. Imagine o daqui pra adiante.  Imagine o “amanhã”.

E conservei meu jeitão.  Política?  Adoro.

Eu ia á Brasília assistir a histórica posse do terceiro mandato de Lula.  Infelizmente muitos fatores impediram.  Mas consegui ajudar amigos a estarem lá e estarei de coração e mente presente, vendo pela TV o desabafo de minha gente que viveu por seis anos, uma loucura.

Iniciada pelo impeachment criminoso do playboyzinho Aécio Neves que não aceitou sua derrota, corroborada por Temer com suas artimanhas, embrulhada pra presente com as ilegalidades e excessos cometidos pela dupla Moro e Dallagnol e por fim usufruída pela família de Bolsonaro e a pior corja de ministros e pilantras que esse país já viu no poder, essa fase de nossa história não será esquecida.

Talvez não tenha simplesmente acabado.  Enquanto escrevo essas linhas, ainda existem inocentes úteis e uns tantos mal intencionados provocando balbúrdia desonesta por aí. Mas será mais fácil combater a semente fascista sem um pretenso líder boçal que diariamente plantava venenos em forma de boatos e picaretagens rasteiras.

Já do ponto de vista profissional, vou seguir adiante fazendo o que faço melhor.  Vendendo e administrando seguros em uma corretora.  Mas claro, sem perder o norte empreendedor, corajoso e emocionante que arrisca e carrega consigo para a vitória, quando pode, todo mundo que participa. 

Ainda há planos e projetos que antes engavetados, estão clamando para sair das gavetas.  E no tempo certo, serão libertados.  Afinal, se a vida fosse uma só, valeria à pena todo o risco pela experiência vivida, sentida e partilhada.  Mas se a vida for contínua ou se forem várias, então é ainda melhor, pois como falou Jesus em Mateus 25:23 na famosa parábola dos talentos: “Muito bom... Você foi fiel no pouco, eu o porei sobre muito. Venha e participe da alegria do seu Senhor”.

Isso mesmo.  Guardar talentos e enjaular vocações é ofender a Providência.

E eu quero continuar aprendendo.

Fechei o ano com Noam Chomsky e seu “Quem manda no mundo”.  Começarei 23 com a incrível biografia de Fernando Pessoa que ganhei ontem de meu irmão.  E é só o começo.

Não tenho limites para a curiosidade e isso me ajudou a encontrar-me com o mais precioso de meu ser.  Nos livros, fui de Sidarta de Hesse a Fábio de Melo, do Capital de Marx ao Evangelho de Tomé, da História da Riqueza do Homem até O desaparecimento do universo.  Eclético, ecumênico, materialista, espiritualista e sempre musical, tendo como fundo a cada leitura, clássicos inesquecíveis, música tibetana e algumas escolhidas a dedo para relaxar.

Como todo mundo faz, também nutro projetos de início de ano.  E quase sempre, repito no ano seguinte, os mesmos que não sigo até o fim.  Exercícios físicos são o que mais negligencio.  Vinha de um ano todo de prática até que a COVID, em meados do ano passado, me quebrou ao meio.  Vou retomar. Preciso cuidar da saúde física.  Será? Vou.

Uma outra atitude que recomendo é o que repito há mais de 30 anos.  Limpar, antes do ano começar de fato, armários e guardados, fazer expurgos de coisas, documentos, lembranças e pessoas.

Calma... Pessoas a gente não joga fora.  Tem um armário no coração em que a gente as guarda.  Tranca lá quietinhas.  É o meu “armário sumidouro”.  Os que não acrescentam, magoaram, escarneceram, maltrataram, traíram, castigaram... não recebem meu ódio. Só os deixo lá.  O ódio destrói quem o sente e liberta quem dele é vítima.  Nada é mais suave e justo que o completo esquecimento.  Mas, se é pra esquecer, por que no coração?  Porque ninguém aparece em nosso mundo à toa e ninguém se aproxima de nós por nada.  Essa é minha visão.  E então, após desempenhar seu papel de relevância no nosso aperfeiçoamento, merecem ficar ali, guardadinhos, recebendo de quando em quando, uma benção por gratidão.  Mas só.

Depois que aprendi a fazer isso, também passei a entender que eu, igualmente, mereço o armário sumidouro de muita gente.  E quando fazem isso, tento me reaproximar com sorrisinhos, gentilezinhas e afagos.  É feio, insensato e triste. Juro que estou parando. 

E a família?  Vai bem obrigado.  Todos crescendo, aprendendo, chorando e sorrindo, mas sempre e sempre, sempre e sempre, sempre e sempre juntos.  Somos abençoados.  Não há distância ou dimensões que separam nosso amor.  Esse sentimento nobre, que muita gente infelizmente não conhece, o sentimento de família, é tão vital como o ar ou a água.

E é isso.  Vamos a 2023.  Vamos aos 55 anos de idade.

Poderia avaliar que os anos são apenas uma divisão de tempo criada pelo homem para facilitar o controle das contas, ou o avanço nos períodos escolares.  Só que de fato, essas divisões ganham peso, principalmente emocional.  E lidar com isso favorece.  Não tava bom?  Vamos fazer melhor.  Tava bom?  Vamos melhorar ainda mais.

Por isso o novo ano deve ser melhor mesmo.  Da mesma forma, ser e estar mais velho, eu garanto a quem estiver lendo isso, é muito bom.  Nunca fui tão eu, tão completo, tão verdadeiro, tão feliz, tão sereno, tão satisfeito, tão apaixonado, tão vivo, quanto sou agora com toda a somatória de revezes e alegrias vividas.

E mesmo numa retrospectiva, que como disse, levou um personagem tão importante de minha família, consigo perceber o quanto estou diferente e pra melhor.

Eu e todo mundo, enfrentamos pandemia, política desastrosa, economia corrosiva, guerra, partidas lastimáveis do mundo artístico, esportivo, cultural, que vão de Gal Costa a Pelé, de Jô Soares a Bento XVI, de Erasmo Carlos a Isabel do Volei, e ainda tivemos que lidar com a perda diária de energia e foco motivada pela angústia de ser alguém na vida.

Mas valeu à pena, né?  E se valeu à pena, vai valer bem mais já que, pra algumas dessas trajédias, que não só a COVID, já estamos bem vacinados.

Feliz Ano Novo.

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