sábado, 15 de janeiro de 2022

O amigo Padre Miguel Lucas

De repente a internet começa a falar de Baba Vanga com insistência.  Claro, início de ano é até normal que essas coisas reapareçam.  Baba Vanga é uma famosa vidente, já falecida, que fez algumas previsões bastante assertivas ao longo de sua vida e que tem, para 2022, algumas outras já afirmadas.

De vídeos falando sobre isso, migrei automaticamente para os vários e divertidos vídeos do padre Oscar Quevedo, também falecido recentemente e cujo prazer era desmistificar adivinhos e outros sensitivos.

O fato é que tudo isso me lembrou sobre temas que eu gostava muito.  Paranormalidade e fenômenos da mente que foram assuntos os quais fui obrigado a descobrir ainda muito jovem.  

Em 1980, por ocasião da visita de um padre ao colégio onde eu estudava, fui introduzido a um mundo totalmente novo e que claro, não fez nada bem para minha cabecinha de criança.  Eu tinha somente 12 anos de idade quando conheci o Padre Miguel Lucas Peña que se tornou um grande amigo meu, pois já era, de certa forma, conhecido da minha família. Havia sido pároco, nos anos 60s, em Nova Granada onde meus pais se conheceram.

Padre Miguel era parapsicólogo.  Após visitar minha sala de aula para fazer o convite para uma palestra sua, realizou um pequeno exercício que todos nós, alunos, fizemos.  Por algum motivo, ao final, ele veio até minha mesa e entregando um convite pediu que eu viesse a noite na palestra com meus pais.

Até aí, nada de espantoso.  Estivemos lá a noite.  Gostei do que vi embora sem entender muito.  Minha mãe e uma amiga preciosa, depois de assistirem a palestra fizeram sua inscrição para o que seria um curso de uma semana.  

Na tarde seguinte, sem que eu me lembre de que modo isso se deu, eu estava com minha mãe e essa amiga na diretoria da escola para uma reunião com esse padre.

Primeiro entraram minha mãe e sua amiga.  Conversaram com ele algum tempo.  Depois me introduziram na sala. 

O padre e elas continuaram conversando, agora sobre mim.  Ele perguntava para minha mãe se eu me impressionava facilmente com as coisas.  Se estudava muito ou se simplesmente fazia as provas.  E finalmente pegou um pêndulo e colocando-o sobre a palma de minha mão, fazia perguntas e diante de minhas respostas o pêndulo oscilava ora no sentido anti-horário, ora no sentido do relógio.

Terminado isso, uma professora minha (de português) bateu na porta para entrar.  O padre a recebeu e a convidou para se juntar a nós.  Pediu que eu segurasse os pulsos da mulher e me concentrasse.  Depois que eu respirasse fundo e tentasse ver algo como que a adivinhar o que ela pensava.

Sinceramente eu não me lembro em detalhes agora.  Mas descrevi uma cena que ela teria vivido horas antes (ou visitando seu pai no hospital, ou no seu leito de morte).  Diante de meu relato, que não sei se foi perfeito, ela chorou dizendo que eu estava certo e o padre, satisfeito, pediu a minha mãe que me levasse no curso por cortesia.

Jamais adivinhei qualquer outra coisa na vida. Nem numero de rifas. Bem, minha mãe atendeu.  Naquela noite, o padre me chamou no palco para aplicar radiestesia em voluntários que se apresentavam com dores e mal estar. E dali pra adiante, muita coisa mudou pra mim.  Pelo menos na minha cabeça. Por isso disse que não me fez muito bem.  Me achei uma espécie de Uri Geller ou o que o valha.  E claro, isso não é bom aos 12 anos. Por exemplo, já no dia seguinte, em plena aula de história, o professor perguntou bem alto quem era o aluno que tinha lido os pensamentos da professora de Português. Não movi uma célula, mas pensei mil coisas. Dentre elas: "Ual, posso ler pensamentos". Tá bom. 

Alguns meses depois, enquanto eu brincava na frente de casa, um taxi parou à minha porta.  Era o Padre Lucas, com quem eu trocava correspondência (que era costume na época entre quem morava longe).  Ele viera para falar com meus pais.  Assim que eles chegaram, ele fez um pedido que se feito a mim, sobre meus filhos, eu não autorizaria. Meus pais, talvez relutantes, aceitaram. Ele queria autorização deles para eu fazer uma viagem com ele e apresentar seu curso em algumas cidades, dentre elas Belo Horizonte.

Claro que eu adorei.  E claro que eu fui.  Primeiro viajei para São Paulo sozinho de Cometa aos 12 anos de idade. Uma baita aventura.  Depois fiz o primeiro voo em um avião da Vasp para a capital mineira onde o papa João Paulo II estava em visita. Eu não fui ver o papa, embora eu quisesse.  Mas ele foi com alguns outros padres e trouxe um autógrafo de Sua Santidade que tenho até hoje entre meus guardados.

Em casa, eu mal dormia no meu quarto que era ao lado de meus pais.  Em São Paulo e depois em Belo Horizonte, dormi sozinho em andares isolados no Colégio Santo Agostinho (de ambas as cidades).  Até hoje me espanta ter tido coragem.

O fato é que participei dos cursos e dos atendimentos do parapsicólogo.  E pra mim, naquele momento, estava decidido.  Vou me envolver muito com isso daqui pra adiante.  Acreditava.

No entanto, penso que meus pais finalmente entenderam que a idade era pouca e que aquilo tudo poderia prejudicar meu desenvolvimento normal.  Que talvez não me faria tão bem.  E apareceram, um dia, no Colégio Santo Agostinho, em São Paulo, para me buscar.  

Participei de mais alguns cursos no futuro com o Padre Lucas.  O ajudei em atendimentos onde realizava sessões de regressão de idade, hipnose e cura.  Ajudei na organização de alguns eventos e até ganhei dedicatória em um de seus livros.  Mas como não tinha mais autorização dos pais, não "segui carreira".

Muito mais tarde, quando colaborava para a Rede Vida de Televisão em seu início, falei com uma produtora e conseguimos levar o Padre Lucas para uma entrevista.  Aquela foi a última vez que o vi.  Uma noite antes, assim que chegou na cidade, fui visitá-lo com minha namorada e apresentá-la a ele.  Ele estava tão ansioso naquela noite que não conseguiu fazer a regressão nela.  Falava muito.  Estava feliz.

Quadro da Santa Ceia - Miguel Lucas

Ao longo dos anos em que convivemos assisti missas celebradas por ele.  Me encantei com suas obras de arte.  Era um excelente pintor.  Li seus livros, assisti a seus verdadeiros espetáculos.  Acreditei piamente no seu trabalho.

Por inspiração sua escrevi meu livro Saindo do Fundo do Poço pela Edições Paulinas onde ele tinha algumas obras.  Ele me ensinou a lidar com o "medo da noite" e outros traumas terríveis.

O carinho é grande até hoje e oro por ele.  Uma grande figura que me deixou muitas saudades. Só lamento estarmos meio afastados quando de sua partida.  

Uma de suas afirmações fortes, quando ia iniciar uma hipnose, virou bordão nas brincadeiras entre mim e meu irmão até hoje.  

"Tem imã aqui, tem imã aqui e tem imã aqui. Quando contar três vai cair SEM QUERER nas minhas mãos."

# Parapsicologia  #Paranormalidade  #Mente  #Hipnose  #Regressão de Idade



Um comentário:

  1. Bonita história. Se conheceu os Padres Lucas e Quevedo, também deve ter conhecido o Prof. Fauze Kfouri. Grandes Mestres dessa ciência, a Parapsicologia. Naqueles tempos de trevas era um alento.

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