segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Lambendo as feridas, vamos ao que nos une.

A política no Brasil vem sendo exercida, nos últimos anos, com uma paixão talvez nunca dantes experimentada pela nossa gente.  E os resultados disso aparecem na forma de uma divisão concreta e polarizada como não cansam de afirmar analistas e comentaristas de plantão.

Nenhuma polarização, por certo, seria boa posto que há nuances, as mais diversas, a serem ponderadas em escolhas como essas que influenciarão nosso futuro. O caso é que o próprio modelo democrático nos empurra a isso.

Mas mesmo com esse dualismo vale lembrar que não estamos diante de um campeonato de futebol, que ao terminar, em nada alterará a vida dos adversários.  Nem de uma disputa religiosa, onde a briga pelo abstrato continuará a permitir o convívio social, em que pesem os exageros de certas culturas.  

Trata-se sim de uma escolha clara entre conceitos antagônicos como: liberdade e cerceamento da voz; avanço e retrocesso no tocante ao social; proteção ao meio ambiente e devastação devotada a satisfazer interesses comerciais; boas relações internacionais ou fronteiras fechadas a importantes parceiros; bem como vida digna e exploração exacerbada.  

E não adianta ficarmos com raiva do vizinho, da tiazona do WhatsApp ou daquele primo que vocifera no domingo.  Nem do louco varrido que ameaça quebrar as urnas, ou daquele que se veste de verde e amarelo achando que essa é a maior prova de patriotismo que alguém pode dar. Quem não viu casas e apartamentos com bandeiras brasileiras expostas?

Afinal, não se trata de "gosto", de culpa.  Estamos assistindo, ou sentindo, o resultado de toda uma série de coisas com origens internacionais, basta olhar a Europa.  De conjunturas que tem sua origem no desastre econômico mundial e também, "mea culpa", fruto de descuido de tempos próximos em que tivemos a oportunidade de banhar  nossa gente de senso crítico e espírito de cidadania real e consciência social e não o fizemos.  Quase 14 anos de oportunidade, para ser mais exato.

Por agora, sabíamos evidentemente que poderia haver um segundo turno, apesar das incontáveis situações desfavoráveis ao bolsonarismo.  Os escândalos se multiplicando, os erros estratégicos de sua campanha e sobretudo seus permanentes "tiros no pé" ao se pronunciar e se relacionar, como aliás de costume.

Sabíamos que ele tem as chaves do cofre, a caneta e uma gama incontável de apaniguados em todos os setores de governo e nas Forças Armadas. Sem negar um setor, ainda que modesto, mas barulhento, da imprensa que o apoia.

Se havia a esperança de ganharmos no primeiro turno, era mais por cansaço e desespero do que embasados em fatos concretos. Por mais favoráveis que as pesquisas pudessem ser, nada é mais certo do que o resultado das urnas.  Lição que devíamos já ter aprendido.

Vamos para o segundo turno e temos que observar algumas coisas.

A primeira é de que a realidade da nação é essa.  Um povo misto, com contradições agressivas que apela ao cristianismo enquanto defende o porte de armas e a violência, que desconhece sua participação no tabuleiro da divisão de classes e que traz os arraigados conceitos morais acima mesmo de seus mais absolutos direitos e necessidades. Por isso encontramos pobres de direita, negros e mulheres, gays e outras minorias votando ou emprestando seu apoio a quem sempre afirmou desprezá-los.

Em seguida devemos entender que não se milita apenas do sofá.  Temos sido tímidos, seja por medo da truculência já explícita de parte diminuta de adversários que avançam festas particulares, agridem feirantes que panfletam ou cometem outras atrocidades, mas estão mais para desequilibrados do que para militantes.  Nossa posição deverá ser mais contundente nos locais de trabalho e presença onde possamos, não para fazer valer nossa vontade e sim mostrar para os que pensam iguais que não estão sozinhos.

Por fim vale lembrar que, entramos para o segundo turno com 48% da preferência, ou seja, estamos na frente.  Se balizarmos esse resultado ás pesquisas mais recentes, veremos que ele está dentro da margem de erro o que prova que elas eram assertivas.  Ao mesmo tempo, Bolsonaro cresceu, o que não desmente as pesquisas mas pode ter evidenciado que o voto útil vale para os dois lados.  Ciro diminuiu o que assinala que seus apoiadores migraram e não foi para Lula, fruto talvez de seu discurso cada dia mais voraz contra o petista.  As abstenções também oscilaram.  Talvez portanto, agora o atual presidente tenha menos a crescer que nossa corrente.  Pois se pegarmos o que sobrou e dividir por dois, continuaremos na frente.

Enfim.  O que temos que fazer é não esmorecer.  Tentar trabalhar nosso raciocínio no sentido de elucidar e não impor pensamentos.  Trabalhar os ciristas, eleitores de Simone (todos nós conhecemos alguns deles) para que façam valer a luta de seus candidatos que também são defensores do Estado Democrático de Direito. 

Ah e óbvio, conversarmos com nossos amigos mais à esquerda como os militantes do PCB, PCO, PSTU e UP, até para que garantam com seu apoio, o seu direito de continuar existindo no país.

Já sabemos que somos a maioria dos brasileiros.  Não só os 48% da apuração.  Os que não quiseram a manutenção do modelo que nos governa, são a somatória de todo o resto que não estava com ele. E isso é o que nos deve mover.



Um comentário:

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