sábado, 26 de fevereiro de 2022

Partilhar o Lanche foi a grande lição.

Que me perdoe, o agora velho amigo cujo nome manterei velado por ele ser conhecido na cidade, mas a história eu preciso contar, pois ela ilustra bem como foi minha educação na infância com relação a lidar com conflitos.

Todos os dias eu chegava na escola com a lancheira plástica cheirando (pão com ovo) e k-suco.  Quem nunca?

E isso chamava a atenção de um colega, filho de rico empresário local, que em todo intervalo me abordava com uma “gravata” a me “tomar” o lanche pra si.

Uma semana, duas e foi assim até eu não suportar mais.  Reclamar com o padre “Tarzan”, responsável pela disciplina do colégio, não adiantava muito pois ele tinha sempre o hábito de acreditar que num conflito, os dois eram responsáveis.

Certo dia, já cansado disso, cheguei em casa e reclamei à minha mãe.  Eu lamentava o fato de ser fracote, covarde e por isso não pegar de volta meu lanche enchendo o “meliante” de “porradas”.

Minha mãe então teve uma brilhante ideia e passou a me fazer dois lanches e insistiu que eu devia dar um para ele.

Eu protestei dizendo que ele tinha dinheiro e não precisava dessa caridade.  Mas ela me fez ver que meu lanche era feito em casa, com carinho e simplicidade e que isso, ele por certo, não devia ter.

Pra encurtar muito a conversa, eu passei a entregar o lanche dele já no início da aula e depois podia comer o meu em paz.

Nos tornamos amigos e até sentávamos juntos para merendar. Quando eu não levava o suco, ele me comprava na cantina uma Coca-Cola bem gelada e não foram raras as vezes que me presenteou com um chocolate ou outra "sobremesa".

Seu pai era dono de um estabelecimento na cidade no qual eu fui várias vezes como convidado, sem ter que pagar.

Ou seja, ao invés da violência, um bom acordo entre nós, comigo cedendo no início, fez toda a diferença no final e minhas vantagens foram enormes.

Temido por ser forte e briguento, ele passou a ser também meu “anjo da guarda”.  Não que eu precisasse, mas se alguém me olhasse feio, teria que se ver com ele.

Essa foi sem dúvidas uma grande lição sobre o ditado de que “mais vale uma bela aliança do que uma pendenga”.

Digo então sempre aos meus filhos para que evitem escolher qualquer outro caminho que não o diálogo em atritos similares.  Não há vitoriosos numa luta física ou numa troca de agressões.

Não defendo ser omisso ou idiota, mas saber tirar vantagem de uma situação aparentemente desfavorável.

Esse preâmbulo todo foi para dizer que eu não concordo com brigas, muito menos com guerras.

Ter opinião e ser combativo, não tem nada a ver com ser violento ou belicoso.

Assim, fica clara minha posição.  Nessa guerra protagonizada por Rússia e Ucrânia, eu não tenho nenhum lado ou preferência.  Pois a minha real escolha será sempre pela paz.

Mas há um contexto enorme, histórico e muito difícil de ser explicado e compreendido por nós que recebemos todas as informações por filtros midiáticos indiscutivelmente parciais.

O melhor, portanto, por incrível que pareça, é não termos mesmo nenhum lado nisso.  Nossos problemas são tão graves e numerosos, que já tomam conta de toda a nossa capacidade de preocupação.

Estamos voltando a ver boa parte de nossa população com fome.  Nossa economia está em frangalhos.  Estamos igualmente falidos politicamente.  A inflação volta com todas as forças a castigar os trabalhadores que estão desprotegidos de direitos surrupiados nos últimos tempos.  E claro, sem falar da pandemia que não acabou e continua fazendo vítimas diárias maiores que as de uma terrível guerra.

O que vale à pena salientar entretanto é que devemos ter cuidado com posicionamentos equivocados como os daqueles que acham que a paz mundial está sempre garantida pelos norte-americanos. Pensamento aliás que ficou escancarado no posicionamento do jornalista Jorge Pontual, dias atrás, ao destratar publicamente um historiador que fazia uma explanação completa do caso Ucrânia e Rússia.

O povo estadunidense também sofre suas mazelas e boa parte delas em decorrência da posição de seus governos. Oras, não devemos nunca nos esquecer de que os Estados Unidos foram o único país a usar verdadeiramente a bomba atômica e por duas vezes.  O país que já provocou mortes de civis em vários países como Coréia, Afeganistão, Iraque, Síria, sem falar na terrível guerra do Vietnã em que atacou covardemente a população civil com bombas incendiárias como o napalm.

Os milhões de mortos contabilizados ao Tio Sam, incluem entre oponentes e seus próprios soldados um número de vítimas sem igual que colocam qualquer outro combate no bolso, se descartarmos os terrores da Segunda Guerra.

Por que nossa imprensa não nos ajuda, bem como aos jovens de hoje, a entenderem o que realmente está por traz do xadrez jogado pela OTAM e Putin?  E por qual motivo não chamam a atenção de todos nós para outros conflitos acontecendo nesse exato momento como os milhares de mortos, entre eles crianças iemenitas vitimadas pela Arábia Saudita (grande aliada dos EUA)?

Se uma guerra não pode ser justificada e não pode, que seja pelo menos explicada, entendida e documentada como de fato.  Isso não acabaria com as guerras, mas ajudaria a colocar os agentes de tais conflitos em seu devido lugar no panteão da história.

Enfim, que Deus nos permita sempre a paz.  Paz entre as nações, entre os povos, credos, classes e sobretudo em cada coração humano. Só que a paz só pode ser promovida acompanhada pela luz da verdade.

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