quarta-feira, 29 de maio de 2024

Edição do Fim do Mundo



Nilson Dalledone
nilsondalledone@gmail.com



Dissuasão nuclear significa que seu inimigo sabe que, no caso de qualquer ato mal calculado, você aperta o botão do Juízo Final. Em 06 de maio de 2024, o Presidente V. V. Putin deu ordem para iniciar a preparação das armas nucleares não estratégicas para combate, diante da ameaça de desembarque de tropas europeias da OTAN, na Ucrânia. 

O Estado Maior da Federação Russa, por ordem do Comandante em Chefe das Forças Armadas, começou os preparativos, para realizar exercícios com unidades de mísseis do Distrito Militar Sul, para cumprir missões de combate, segundo informa o Ministério de Defesa da Rússia. Os exercícios têm a finalidade de aumentar a preparação e prontidão de forças nucleares não estratégicas e de manter a capacidade de combate tanto do pessoal como dos equipamentos, para entrar em operação a qualquer momento, numa situação de aumento constante das tensões com o Ocidente imperialista, em consequência do conflito na Ucrânia.

Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, informou que exercícios com armas nucleares não estratégicas têm relação direta com as declarações de governantes ocidentais de enviar tropas à Ucrânia. A Federação Russa, em diversos momentos, avisou que a resposta seria um ataque nuclear preventivo e devastador, conforme as doutrinas militares ocidentais dos tempos da Guerra Fria que, agora, são possíveis graças às armas hipersônicas russas e a evidente vantagem do arsenal nuclear russo.

A doutrina militar da Federação Russa, até há bem pouco tempo, determinava que a Rússia não realizaria o primeiro ataque, exceto a partir de determinado umbral de risco ao país, sendo continuidade da política militar da extinta União Soviética. Mas, recentemente, V. V. Putin advertiu os países europeus, membros da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte -, de que nem teriam tempo de invocar o Artigo 5 da Carta dessa organização, em caso de confronto real. 

É possível supor que está sobre a mesa um plano de ataque de tal magnitude, em tal velocidade e, principalmente, tão definitivo que não haveria tempo, para qualquer reação do Ocidente imperialista. É provável que o conceito de “guerra nuclear limitada” ou o conceito de “primeiro ataque nuclear”, tão estudados pelos EUA, após o fim da Guerra Fria, para desarmar seus inimigos com um ataque inicial contra suas forças nucleares e, ao mesmo tempo, conseguindo conter um contra-ataque com seus sistemas antimísseis, como o THAAD e AEGIS, assim como usando as tecnologias furtivas de ataque com os aviões F-117 Nightrock, o B-2 Spirit, o F-22 Raptor, o F-35, apontavam para essa estratégia, supondo que a Rússia, a China Popular, a Coreia do Norte e o Irã e qualquer outro país hostil não conseguiriam desenvolver contramedidas efetivas. Grave engano da alta burguesia norte-americana e de seus funcionários do Pentágono!

No imaginário norte-americano e de seus aliados menores, numa primeira opção, seria possível um ataque de contraforça dirigido exclusivamente contra as forças nucleares inimigas e seus ativos militares mais importantes. Em outra opção, num ataque de contraforça estendido, aniquilaria todas as forças convencionais do inimigo, toda sua infraestrutura militar e civil. Numa terceira opção, um ataque de contravalor limitado seria dirigido aos centros de poder político e social. Numa quarta opção, a guerra nuclear seria total, com aniquilação completa do inimigo.

Teoricamente, os EUA, superiores tecnologicamente, poderiam lançar um ataque nuclear inicial e seletivo de forma furtiva, desarmando seu inimigo ou aniquilando-o completamente, conforme exigisse a situação e, ainda, impedindo o contra-ataque principal. Ocorre que essa teoria perdeu a validade, porque os EUA perderam a vantagem tecnológica.

É preciso entender que um país, além de seu arsenal nuclear, deve ter vetores de ataque. Um artefato nuclear não tem nenhum valor, se não houver possibilidade de entregá-lo em território inimigo. Então, um avião de combate, um bombardeiro, um míssil balístico intercontinental e, inclusive, uma arma hipersônica, onde a Federação Russa tem uma vantagem gigantesca sobre a OTAN, em seu conjunto, são fundamentais.

Quando V. V. Putin fala de um ataque que não daria tempo de reação aos aliados da OTAN, não está brincando. Um ataque nuclear inicial russo contra a OTAN europeia, a partir da Bielorrússia e Kaliningrad, com mísseis hipersônicos Kinzhal, permitiria desarmar a quase toda OTAN europeia em 10 (dez) minutos, tornando um primeiro ataque russo um grande êxito militar. Na linguagem militar da OTAN, seria um ataque de contraforça estendido, sendo seu objetivo hangares e pistas de caças e de bombardeiros encarregados de entregar a dissuasão nuclear da OTAN, suas bases navais, os silos baseados no continente europeu, as principais bases militares, complexos de defesa antiaérea e sistemas mais convencionais, como os ICBM, liquidando qualquer ativo militar que torne viável um contra-ataque, incluindo instalações de infraestrutura crítica, sem ter de tocar em áreas populosas. Um ataque, nessa escala, não seria de aniquilação, possibilitando, ainda, alguma resposta vinda de submarinos estratégicos britânicos e franceses que poderiam lançar um ataque nuclear, arriscando escalar o conflito. Entretanto, essas armas se baseiam nos mesmos princípios das norte-americanas, sendo muito antigas e de efetividade duvidosa.

Numa guerra nuclear, não há garantia de coisa alguma, mas a Federação Russa, para se contrapor a um ataque nuclear limitado, possui sistemas hipersônicos, como o sistema A235 Nudol e S-500, complementados por sistemas antibalísticos como o S-400 e o S-300, que mesmo não tendo efetividade total, conseguem proteger até 95% dos objetivos dentro da Federação Russa. Considerando que a OTAN não possui armas hipersônicas, simplesmente não haveria outro contra-ataque mais efetivo. 

Num cenário como esse, os EUA não se sacrificariam pela Europa e, provavelmente, fariam um acordo com a Federação russa para desescalar o conflito, dando garantias para a situação não se tornar ainda pior. Seja como for, esse nível de confronto, já criaria um cenário quase apocalíptico, constituindo um ataque de último recurso, em toda a extensão do significado dessa palavra, mas ainda assim considera-se viável, mesmo que muito improvável, enquanto a OTAN europeia não cruzar a última linha vermelha, crendo que poderia derrotar a Rússia numa guerra convencional. As palavras de V. V. Putin são um aviso, mas antes são um convite para a reflexão, já que num cenário de guerra como esse ninguém ganhará. Sequer o plano de guerra nuclear limitada é plausível, se os EUA acabarem se envolvendo no conflito. Por isso, não há nenhuma garantia de que o cenário de guerra nuclear limitada não extravase para guerra total. Ninguém deseja que esse cenário se torne realidade. 

Que os países membros da OTAN não se arrisquem a dar nenhum passo impensado! Os atuais dirigentes do mundo capitalista não servem de termos de comparação com seus antecessores que comandaram seus países durante a Guerra Fria e que não cometeram o ERRO FATAL. A Rússia de hoje é diferente da União Soviética, seus líderes são outros e, diante de qualquer ameaça de destruição ou desintegração, acionarão o botão do apocalipse. As maletas estão sempre à mão e não haverá ataque de surpresa contra a Rússia, China Popular, Coreia do Norte ou Irã, tal como sonham os atuais dirigentes políticos e militares do mundo capitalista, testas de ferro de poderosa e criminosa burguesia globalista.

Faça sua parte, mas viva, enquanto pode. No caso de uma hecatombe nuclear, em 30 minutos, quando muito um pouco mais, tudo estaria acabado. Por mais algumas horas, continuarão os intercâmbios nucleares em larga escala, até que tudo, em todo o planeta, seja abafado pelo silêncio do inverno nuclear...

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Carta do Vô Tato

 

São José do Rio Preto, 05 de julho de 2003
(Daniel e Yeva ainda não haviam nascido)
 
Meus queridos netos...
 
Quando vocês lerem este escrito, com capacidade de reflexão, eu talvez não mais esteja aqui.
Vocês acabam de comemorar aniversário de nascimento por esses dias e eu, pelo amor que dediquei à sua avó e a meus filhos, seu tio e pai, e que, agora em grande parte transfiro a vocês, não posso deixar de dar-lhes o que chamaria de “mensagem”.
Apesar de a vida nos dias atuais se nos apresentar cheia de tribulações e, via de regra, nos trazer muitos dissabores, vale à pena ser vivida.
Digo-lhes que vale a pena porque, se soubermos vive-la com amor, o pouco de bom que ela nos oferece por certo há de nos trazer muita alegria e felicidade.
Para isto, queridos, precisamos desde pequenos aprender muitas coisas.
A base da felicidade, que nos vem da própria criação, como dom que Deus nos outorga, vocês a possuem: o lar.
Lar é uma pequena palavra, fácil de se pronunciar, mas nem sempre encarada com seriedade e devido valor.
Lar é intimidade vivida com amor, respeito e caridade de pais e filhos que o formam.
Felizmente vocês têm pais que, pelo menos creio, vivem no amor.  Se isto não sucedesse, creio que seria complicado.  Talvez eu possa me referir mais particularmente ao seu pai pois, afinal de contas é meu filho a quem sempre muito amei.  Se algo me tranquiliza, tenham certeza, é de que ele os formará e os enquadrará nessa base a que me refiro.
Mas, não basta que tenhamos essa base, esse lar, se não cuidarmos desde jovens a completa-la, a soltar suas ramagens, de forma que tragam guarida, calor e amor a quem quer que nelas se abrigue.
Por isso, filhos, precisamos atentar para certos requisitos. Não devemos nos preocupar em demasia com “ter” esquecendo-nos que é mais importante “ser”.  Desta forma poderemos formar nosso caráter.  Outra pequena palavra, mas de importância tão grande e que nós, na grande maioria o criamos com arranhões e cheio de imperfeições.
O caráter depende de cada um de nós.  Ao caráter, são essenciais: a vontade, a razão e a sensibilidade.
Quando dizemos:  “Sou assim, são coisas de meu caráter...” Isto demonstra falta de caráter.
Um homem de caráter precisa também saber dizer “não”.  Aprendam a dizer não quando não podem ou não devem dizer “sim”.
Sejam pessoas humildes mas não se contentem com vossos rasantes, façam como as águias: Voem alto.
Tenham fé. Fé em um Deus criador, misericordioso e verdadeiro. A fé em Deus é o grande suporte que nos guia e nos protege nos momentos mais difíceis.
Tenham fé nas pessoas mas, acautelai-vos com elas.  Às vezes, devemos ser humildes como cordeiros, mas termos a esperteza, a astúcia de uma serpente.
Estudem sempre. O estudo é grande responsável pela formação cultural de vocês.  Mas nunca deixem de ler.  Leiam bastante, mas leiam coisas que lhes tragam algo de positivo, quer no campo cultural, quer no entretenimento.
Dia chegará em que vocês perceberão a necessidade de ter uma companheira.
Que Deus lhes ajude para que suas escolhas sejam acertadas.  Que elas lhes sejam como um órgão transplantado que venha lhes apresentar indícios de refeição.
Se souberem procurar, por certo hão de encontrar uma alma “gêmea” que passará a ser parte de cada um de vocês, como um enxerto de uma planta, e que frutificarão consigo.
Quando forem procurar um trabalho, busquem aquele com o qual vocês se identificam e que o desempenharão com sofisticação.
Sejam obedientes sempre que necessário e lembrem-se: humildade não é sinônimo de submissão.
Peçam a proteção dos anjos. Aliás, por que não de São Gabriel e São Rafael? São-lhes onomásticos e por certo lhes darão guarida sempre que necessário se fizer.
Sejam caridosos. Lembrem-se que uma palavra de carinho torna-se muitas vezes um grande ato de caridade pois o amor é o maior símbolo da caridade.  E, se perceberem que não tem o que dizer ou não o devam fazer, aprendam a calar-se.
Tanto no lar, trabalho ou qualquer segmento da sociedade, sejam como o sal, que apesar de em pequenas pitadas, é indispensável.  Sejam também indispensáveis, mas sem presunção, com humildade.
Aprendam a agradecer, principalmente a Deus que os criou e deu-lhes um lar que a muitos tem faltado.
Por fim, quando olharem para uma foto de seu avô, uma foto qualquer, tenham a certeza de que, através dela, estarei a abençoá-los.
Agradeço a Deus por ter-me dado vocês.  Vocês são “meus pingos de gente” que Ele colocou em minha “viagem”.
Perdoem-me por eu ter um dia descido em uma estação e, quando o trem partiu, tê-lo perdido e não mais estar à vidraça com vocês, vendo tudo que passa...
Deus os abençoe.
Seu avô,
Carlos Alberto (Tato).

 

Edição do Fim do Mundo

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