Imagem: ICL |
Um projeto em tramitação na Câmara
dos Deputados quer anistiar os responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro de
2023, aquela data que entrou para a história como o dia em que uma horda
ensandecida decidiu que vandalizar os três Poderes era um passeio turístico
aceitável.
A proposta, além de moralmente
indigesta, é inconstitucional. E quem explica isso com a clareza de quem já viu
o STF por dentro é ninguém menos que o ex-ministro Celso de Mello, figura de
peso que dificilmente se pronuncia sem motivo.
Em artigo contundente, Mello não
poupa adjetivos para descrever os invasores: uma "escumalha radical"
movida por "fúria selvagem", que não só depredou patrimônio público
como ainda teve a audácia de agredir simbolicamente Ruy Barbosa, o
"Patrono dos Advogados".
O busto do jurista,
propositalmente não restaurado, ficou como testemunho eterno da barbárie
daquele dia.
Mas, aparentemente, para alguns no
Congresso, isso é coisa do passado e o passado, como se sabe, pode ser
convenientemente apagado com uma canetada.
Só que a Constituição não é um
cardápio de opções.
Celso de Mello lembra que anistiar
quem tentou subverter a ordem democrática é um ato que "afronta e
dessacraliza a soberana autoridade da Carta Magna".
Não se trata de mera discussão
jurídica, mas se trata de uma questão de sobrevivência institucional.
Perdoar golpistas é como dar um
manual de instruções para futuros ataques: "Tentem de novo, porque, no
fim, não haverá consequências".
O ex-ministro também alerta para o
perigo do pretorianismo. Aquela velha e
perigosa ideia de que as Forças Armadas podem se colocar acima do poder civil.
O projeto de anistia, mesmo que
disfarçado de "pacificação", só alimenta essa mentalidade, criando um
precedente perigoso: o de que desafiar a democidade pode, sim, sair barato.
A conclusão é óbvia, mas precisa
ser dita: democracia não é um jogo de "pegue-pague". Quem tenta
destruí-la não pode ser recebido de volta com tapinhas nas costas e um
"tudo bem, vamos esquecer".
Se o Congresso insistir nessa via,
estará não apenas violando a Constituição, mas enviando a mensagem mais
perigosa possível. A de que, no Brasil,
a lei só vale quando convém.
E aí, como bem lembra Celso de
Mello, o próximo 8 de janeiro pode ser só o ensaio geral.
Por certo, anistiar trás a mensagem de que em casos similares o remédio seria o mesmo! Aí seria o fim da democracia.
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