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quinta-feira, 3 de abril de 2025

Cassação não Apaga a Luta

 

Imagem - G1
A iminente cassação do deputado Glauber Braga, do PSOL do Rio de Janeiro, pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados revela, mais uma vez, a "seletividade" do sistema político brasileiro.

O processo, movido pelo Partido Novo após um confronto físico entre Braga e um integrante do MBL em 2024, ignora o contexto de provocação sistemática e reduz a um ato isolado o que foi uma reação de anos de assédio político.

Enquanto parlamentares que incitaram violência em 8 de janeiro seguem impunes, a Casa gasta energia para punir um deputado que, em meio a um embate acalorado, reagiu a uma invasão de espaço e provocações.

A defesa de Braga alega legítima defesa, não apenas física, mas política.

Curiosamente, o relator do caso, deputado Paulo Magalhães, tem ligações comprovadas com Arthur Lira, alvo frequente das críticas de Braga ao orçamento secreto.

Essa coincidência expõe o caráter vingativo do processo que não se trata de defender a ética, mas de eliminar vozes incômodas.

Se a cassação for adiante, a Câmara enviará uma mensagem perigosa. A de que protestos golpistas são toleráveis, mas reagir a eles é "quebra de decoro".

O mesmo Congresso que engavetou 117 pedidos de cassação contra bolsonaristas agora se mobiliza para punir um único parlamentar de esquerda.

Os números comprovam a seletividade.  Em 2024, apenas 3% dos processos por decoro contra deputados da extrema direita prosperaram, contra 78% dos que visavam a esquerda.

O grupo envolvido no incidente tem histórico de ações agressivas em plenários, incluindo invasões e interrupções violentas de sessões (caso da CPI da Covid).

Mas há algo que seus perseguidores não entenderam: Glauber Braga não é um deputado qualquer. Foi o primeiro a denunciar Sergio Moro como "juiz ladrão" quando muitos ainda hesitavam. Tornou-se um dos principais opositores dos desmandos de Arthur Lira. E enfrenta, sem medo, adversários poderosos.

Sua possível cassação não o enfraquecerá, mas pelo contrário, transformará esse professor de história em símbolo da resistência democrática.

A democracia não pode ser um clube onde só alguns têm direito à defesa e menos ainda à indignação.

Se conseguirem cassá-lo, farão de Glauber o que sempre tentaram evitar: uma voz ainda mais potente, que ecoará além dos muros do Congresso, lembrando que há políticos que preferem perder o mandato a se calar diante da injustiça.



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