sexta-feira, 11 de abril de 2025

Chupa essa Manga

 

Imagem: UOL
Enquanto milhares de brasileiros enfrentam filas intermináveis em UPAs e a falta crônica de medicamentos, um grupo privilegiado em Sorocaba parecia viver em uma realidade paralela. Uma realidade de Porsches, BMWs, armas de grosso calibre e quase R$ 1 milhão em dinheiro vivo, parte dele escondido em caixas de papelão em endereços de líderes religiosos.

Essa é a face obscura revelada pela Operação "Copia e Cola" da Polícia Federal, que investiga um suposto esquema milionário de desvio de recursos da saúde pública.

Os números da operação são estarrecedores.  Além dos veículos de luxo, foram apreendidas 17 armas (entre pistolas e rifles), munições em quantidade industrial e R$ 863 mil em dinheiro vivo, este último encontrado em locais ligados a Josivaldo Souza, que se intitula bispo, e Simone Rodrigues Frate de Souza, cunhada do prefeito Rodrigo Manga e irmã da primeira-dama da cidade.

O cerne da investigação gira em torno da Organização Social Aceni, responsável pela gestão de unidades de saúde em Sorocaba.

Segundo a PF, a entidade teria desviado recursos públicos através de contratos fraudulentos, enquanto seus dirigentes viviam uma vida de ostentação incompatível com seus rendimentos declarados.

A Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões em bens ligados à organização.

O caso ganha contornos ainda mais graves quando analisamos os envolvidos: além do presidente da Aceni, a operação mirou o gabinete do prefeito Manga, sua residência particular, e a casa de Marco Silva Mott, seu amigo pessoal e suposto "operador" do esquema.

Mott já era investigado por outro escândalo: o superfaturamento de R$ 10 milhões na compra de um prédio para a Secretaria de Educação.

O que mais choca na operação é a crueza dos detalhes.  O dinheiro público, que deveria salvar vidas, estava literalmente empacotado em caixas de papelão, enquanto os suspeitos circulavam em carros que valem mais que o salário anual de dezenas de profissionais de saúde.

Enquanto isso, dois ex-secretários municipais (Vinicius Rodrigues, da Saúde, e Fausto Bossolo, de Governo) aparecem no radar das investigações.  Este último já condenado no caso do prédio superfaturado.

A Operação "Copia e Cola" recebeu este nome por supostamente replicar métodos conhecidos de desvio de verbas. Mas o que ela realmente copia é um roteiro já visto em tantos outros rincões do Brasil: a transformação do dinheiro que deveria garantir saúde, educação e dignidade em objetos de luxo para poucos privilegiados.

Resta saber se, desta vez, o final será diferente ou se será apenas mais um caso que se perderá na lentidão da Justiça e na impunidade que tanto nos assombra.


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