Imagem - Brasil de Fato |
Era abril morrendo quando o
pesadelo começou a se dissolver. O ar em Berlim cheirava a concreto esfarelado
e promessas apodrecidas. Num bunker que mais parecia uma tumba antecipada, o
arquiteto do horror. Aquele que jurara
um Reich milenar, preparava seu último ato.
O tiro ecoou no dia 30, mas o
mundo só soube no 1º de maio, data irônica dos deuses. Enquanto operários em
todo o planeta celebravam suas conquistas, a Rádio Hamburgo tecia a derradeira
mentira: falou de "combate", de "último suspiro", de
"queda em batalha".
O que morreu naquele bunker não
foi um homem, mas um sintoma.
Um sintoma de ódio que se pensou eterno.
De megalomania que quis redesenhar o mundo com sangue e aço.
Do veneno que tentou convencer povos de sua própria superioridade.
Oito décadas depois, suas
últimas horas ainda fascinam e repugnam. Como um animal acuado, ditou
testamento, casou-se com o eco, envenenou o cachorro. Deixou para trás não
glória, mas fotografias de um cadáver carbonizado. Imagem crua de todos os seus sonhos
incendiados.
O mesmo vento que levou o cheiro
de pólvora do Führerbunker carregava sementes da reconstrução.
A humanidade, ferida mas não vencida, aprendia de novo que monstros morrem, mas
a memória deve viver.
Hoje, quando pisamos nestas
mesmas ruas que ele quis transformar em capital do mundo, vemos cafés onde
houve escombros, risos onde ecoaram sirenes. A vida insistiu, como sempre
insiste contra os projetos de morte.
Que este aniversário não seja
sobre ele, mas sobre nós.
Sobre como o mundo cura suas cicatrizes.
Sobre a resistência tenaz da verdade contra os “mitos”.
Sobre o dever sagrado de nunca deixar que outra sombra cresça tanto. Nem lá e
nem cá.
Pois há derrotas que são
vitórias da humanidade. E há mortes que são partos de um mundo novo.
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