sábado, 14 de junho de 2025

Entre a ciência, a política e a palavra - a jornada de Liberato Caboclo

 

Imagem - Gazeta de Rio Preto
Morreu neste sábado, 14 de junho, o ex-prefeito de São José do Rio Preto, José Ferreira Liberato Caboclo, aos 87 anos.

Médico, professor, intelectual, político e cronista de espírito inquieto e coração generoso. Foi-se como quem apenas se recolhe para um breve descanso após um almoço simples e afetuoso ao lado da esposa. Repousou para a eternidade. Uma partida serena para uma vida que nunca foi calma.

Tive o privilégio de conviver um pouco no cenário político e dialogar com Liberato. Principalmente quando teve por candidato a vice o já falecido Waldemar dos Santos, em coligação com o PSDB.

Numa dessas  conversas me afirmou que em Brasília, no Congresso onde esteve enquanto Deputado Federal, conviveu com as mentes mais iluminadas do Brasil.

 As conversas de Liberato, nos meios políticos, sempre foram um exercício de respeito mútuo, mesmo quando divergia de seus opositores.

Havia nele uma grandeza rara.  A disposição de ouvir, o dom de argumentar com firmeza sem jamais abrir mão da elegância. Era um adversário político valente, mas um amigo das ideias e isso faz toda a diferença.

Formou-se médico no Rio de Janeiro, doutorou-se na Suécia, lecionou em Goiás e no Rio, ajudou a formar a Famerp e o Hospital de Base, que hoje são pilares da saúde em Rio Preto. Foi deputado federal, presidente do PDT em São Paulo e prefeito de uma cidade que o desafiou tanto quanto ele ousou desafiá-la.

Seu mandato como prefeito foi turbulento, sim. Enfrentou resistência política e uma imprensa muitas vezes implacável. Sofreu condenações, perdeu bens, mas não perdeu a ternura nem o senso de humor. Continuou escrevendo, clinicando, pensando.

Poliglota, estudioso, apaixonado por cultura, medicina e política, Liberato era daqueles homens que pareciam carregados de séculos por dentro. Ciceroneou Bill Clinton com desenvoltura, era admirador de Pepe Mujica, chorou publicamente a partida de Divaldo Franco e Dino Vizotto. Agora, é a nossa vez de lamentar sua partida.

Liberato Caboclo não cabia em siglas, nem em estereótipos. Foi comunista e trabalhista, gestor e sonhador, rigoroso e poético. Teve erros, sim quem não os tem? Mas seus acertos foram muitos, profundos e permanentes.

Hoje, Rio Preto se despede de um de seus maiores filhos adotivos. E eu me despeço de um homem admirável, que já me atendeu com generosidade e inteligência.

Vai em paz, companheiro. Que o sono da eternidade te seja leve e que a história, com o tempo e a justiça que só ela tem, te dê o lugar que mereces.

Liberato vive. Em seus livros, nos corredores do Hospital de Base, nos bancos da Famerp, nas páginas que escreveu e na memória de todos que reconhecem a importância de quem ousou lutar e pensar por conta própria.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por contribuir com sua opinião. Nossos apontamentos só tem razão de existir se outros puderem participar.

Apreensão máxima

  Nilson Dalledone   nilsondalledone@gmail.com Cerca de 95% de Gaza (Palestina) estão destruídas. Multidões de palestinos surgem retornando ...