segunda-feira, 28 de abril de 2025

Apagão na Península Ibérica: Um Dia de Caos e Incertezas

 

Imagem - Brasil 247

Era para ser uma segunda-feira comum. Até que, num piscar de olhos, o século XXI desmoronou.

O apagão que engoliu Portugal e Espanha no dia 28 não foi apenas um blecaute técnico.  Foi um espelho. Nele, vimos refletida a ilusão frágil de nosso controle sobre o mundo moderno.

Em Madrid, os semáforos morreram de repente, como se um deus caprichoso tivesse soprado sobre velas de aniversário.

Nas entranhas do metrô, homens e mulheres tropeçavam como sonâmbulos, dedos crispados em celulares que, de repente, já não eram smartphones, mas sim toscas archotes digitais.

A frase “Ninguém sabe de nada,” de uma professora à BBC ecoou como um mantra involuntário pelas ruas.

Ali, num raro momento de democracia brutal, CEOs de ternos caros e garis de uniformes suados compartilhavam o mesmo olhar perdido. Todos igualmente reféns, todos igualmente primitivos, reduzidos ao ato mais antigo de caminhar.

Lisboa não sorriu. Brasileiros espalhados pela cidade, aqueles eternos desbravadores de crises, encontraram-se marchando como peregrinos do século XXI, sob um sol que agora parecia zombar da escuridão elétrica.

Metrô? Fantasma. Táxis? Lendas urbanas. Ônibus? Latas de sardinha humanas que ninguém sabia quando, ou se, chegariam.

Nos supermercados, o surrealismo pintou quadros dignos de Dalí. Carrinhos de compras abandonados como naufrágios em corredores desertos. Caixas registradoras transformadas em peças de museu. E o dinheiro, ah, o dinheiro! Aquele velho inimigo da modernidade, agora rei absoluto. Filas quilométricas diante de caixas eletrônicos como peregrinações ao deus Mamon numa sociedade que jurara tê-lo abandonado.

Nas redes sociais, a tragédia vestiu-se de viral. Chefs transformando smartphones em lamparinas medievais. Pais formando vigílias diante de escolas, como se aguardassem notícias de guerra. E os rádios a pilha, esses dinossauros tecnológicos, ressurgindo como únicas janelas para um mundo exterior que, por algumas horas, deixara de fazer sentido.

E então, o detalhe que fez tantos engolirem seco. O timing. "Isso acontece semanas depois da UE nos mandar preparar 'kits de emergência'", lembrou uma voz nas ruas.

A coincidência pesou como uma ameaça não dita. Nos olhares trocados, a pergunta pairou, não verbalizada mas presente: acidente... ou ensaio?

O governo espanhol nega ciberataques. Mas nas ruas ainda escuras, onde o zumbido elétrico da normalidade ainda não voltou, as garantias soam distantes. Enquanto as luzes piscam de volta à vida, lentamente, como se hesitassem, uma pergunta ronda a Península como um fantasma:

E se amanhã for para valer?

Nesta noite atípica, milhões irão para a cama com lanternas sobre as mesinhas de cabeceira. E no escuro, antes de adormecer, muitos se perguntarão se aquela tarde foi um acidente... ou o primeiro capítulo de um manual que ainda não sabemos ler.

Afinal, como descobrimos hoje, o progresso é apenas uma fina camada de verniz. E por baixo dele, sempre espreita a escuridão.

Leia matéria especial na BBC News Brasil

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