Imagem: G1 |
O estrondo dos lançamentos de
mísseis já não assusta os moradores de Munster, na Baixa Saxônia.
O que antes seria um cenário
impensável na pacificada Alemanha do pós-guerra tornou-se rotina.
Agora, com a aprovação parlamentar
que libera gastos militares sem as amarras orçamentárias tradicionais, o país
dá um passo histórico e sombrio em sua trajetória.
O general Carsten Breuer,
comandante da Defesa alemã, não usa eufemismos: "Estamos ameaçados pela
Rússia. Somos ameaçados por Putin".
Suas palavras ecoam um cálculo
estratégico brutal. A Otan teria, na
avaliação de Berlim, no máximo quatro anos para se preparar contra um possível
ataque. O tempo não corre a favor da Europa, mas contra ela.
Esta é uma guinada dramática para
uma nação que, por oito décadas, tratou suas Forças Armadas com desconfiança
institucional.
O trauma da Segunda Guerra moldou
uma Alemanha que preferiu o soft power, a diplomacia econômica e o
multilateralismo como pilares de sua política externa.
A invasão russa à Ucrânia em 2022
quebrou esse consenso. A dura realidade geopolítica impõe agora uma corrida
armamentista que muitos consideravam anacrônica.
A ironia histórica é cruel.
A Rússia, que sofreu mais que
qualquer outra nação com a máquina de guerra nazista, tornou-se o motivo pelo
qual a Alemanha rearma-se contra seu próprio passado.
O dilema moral persegue Berlim. Como
fortalecer as defesas sem reacender os fantasmas que tanto esforço custou
exorcizar?
Enquanto isso, nas planícies de
Munster, os exercícios militares seguem intensos. Cada explosão, cada tanque
que avança, cada míssil lançado carrega um duplo significado: são ao mesmo
tempo preparação para um futuro incerto e lembrança de um passado que nunca
deveria se repetir.
A Alemanha aprendeu com a história,mas
a história, infelizmente, não parece ter terminado suas lições.
O continente
europeu assiste, entre a esperança e o temor, ao despertar de um gigante que
jurara permanecer adormecido.
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