Imagem: Plano Critico |
O Dia da Mentira, celebrado em 1º
de abril, sempre foi uma data leve, marcada por pegadinhas inofensivas e
notícias absurdas que terminavam em risadas.
No Brasil, a tradição começou em
1828, quando o jornal "A Mentira" anunciou a morte de Dom Pedro I
apenas para provocar reações.
A graça estava no desfecho, quando
todos descobriam que era apenas uma brincadeira.
Mas nos últimos anos, as mentiras
deixaram de ter data marcada e passaram a circular diariamente, com
consequências que vão muito além de uma simples zoeira.
As fake news, ou notícias
falsas, são o lado sombrio dessa tradição.
Elas se aproveitam do mesmo
mecanismo que torna as piadas do 1º de abril eficazes, o elemento surpresa, o
absurdo que choca, mas com um objetivo muito diferente: manipular, dividir e
até destruir.
Enquanto uma mentira de abril é
feita para divertir, as fake news são feitas para causar dano. E o pior
é muitas pessoas não percebem a diferença.
O poder das fake news está
em sua capacidade de explorar emoções.
Elas não são projetadas para
informar, mas para provocar reações imediatas como raiva, medo, indignação.
Foi assim com os boatos que
levaram ao linchamento de uma mulher inocente em 2014, acusada de praticar
magia negra. Foi assim durante a pandemia, quando mentiras sobre tratamentos
ineficazes custaram vidas. E foi assim no 8 de janeiro, quando teorias da conspiração
alimentaram um ataque às instituições democráticas.
Enquanto isso, as plataformas de
redes sociais, que deveriam ser espaços de informação, muitas vezes funcionam
como aceleradoras de mentiras.
O algoritmo privilegia conteúdo
polêmico, independentemente de sua veracidade, porque reações, mesmo as
negativas, significam engajamento. E engajamento significa lucro. Enquanto não
houver responsabilização real, as fake news continuarão a ser um negócio
rentável para alguns e um perigo para todos.
O desafio, então, é aprender a rir
das mentiras do 1º de abril sem cair nas armadilhas das mentiras que circulam o
ano inteiro.
Desconfiar de manchetes
bombásticas, checar fontes e pensar antes de compartilhar são pequenos atos de
resistência. Afinal, uma democracia saudável depende de cidadãos informados,
não de marionetes emocionais.
Neste 1º de
abril, a melhor brincadeira que podemos fazer é espalhar a verdade.
Porque, no fim das contas, a única
mentira inofensiva é aquela que todo mundo sabe que é mentira. O resto é arma.
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