quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Trump, a Doutrina do Porrete e a Sombra da Intervenção na América Latina

 

Imagem - ICL Notícias
O envio de tropas americanas para o Mar do Caribe, por ordem direta de Donald Trump, não é um ato isolado, nem se limita ao pretexto de combater cartéis de drogas. É a reedição, em pleno século XXI, da velha política de intervenção militar dos Estados Unidos em território latino-americano.  Uma tradição que vai de invasões explícitas a golpes patrocinados nos bastidores. Agora, o alvo declarado são grupos como o Tren de Aragua e o MS-13, com operações planejadas por ar, mar e, possivelmente, em solo estrangeiro.

Ainda que o Brasil não esteja incluído neste primeiro momento, a pressão de Washington já se faz sentir. A pergunta dirigida a Brasília sobre por que não classificar o PCC como organização terrorista é mais que curiosidade: é um teste para medir até onde vai a adesão do governo brasileiro à lógica norte-americana de “guerra ao inimigo interno”, conceito que historicamente abre espaço para arbitrariedades, violações de soberania e repressão ampliada.

Trump, que voltou à Casa Branca anunciando uma cruzada contra cartéis, utiliza a retórica da “segurança” para justificar um aumento da presença militar na região. Mas, como tantas vezes na história, a questão real é geopolítica.  Controlar rotas, influenciar governos e reafirmar a hegemonia dos EUA sobre o hemisfério.

O México, sob Claudia Sheinbaum, já se apressou em minimizar a medida, mas as sombras de incursões unilaterais permanecem, especialmente diante de uma ordem presidencial emitida em segredo e apenas revelada por denúncias na imprensa.

O risco é duplo.  De um lado, a possibilidade concreta de mortes de civis e instabilidade política nos países-alvo.  De outro, a normalização da ideia de que forças armadas estrangeiras possam atuar livremente em território latino-americano sob justificativas amplas e pouco transparentes.

Ao transformar problemas de segurança pública em pretexto para ações militares transnacionais, Trump reforça uma agenda de controle que historicamente serve mais aos interesses de Washington do que à soberania e à paz na região.

O continente já conhece o resultado dessa receita.

O desafio agora é que governos e sociedades latino-americanas resistam à tentação de terceirizar sua segurança à potência do norte porque, como ensina a própria história, quem cede território e autoridade dificilmente recupera a independência perdida.


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