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E com ele vai-se uma era. Mas não a era
dos palácios, das vaidades, das poses. Mujica vai-se como viveu. De botas sujas
de barro, mãos calejadas de utopia e olhos brilhantes de esperança.
O mundo perdeu, neste 13 de maio, aos 89
anos, o presidente que recusou ser tratado como excelência. O guerrilheiro que
trocou a arma pela flor. O preso político que, mesmo após 14 anos de calabouço,
saiu sem ódio, mas com fome de justiça social.
Mujica não foi apenas presidente do
Uruguai. Foi presidente da decência, do afeto, da rebeldia sem ressentimento.
Num mundo onde líderes se escondem atrás
de seguranças e blindagens, ele morava em sua chácara modesta, plantando
verduras ao lado de sua amada.
Fez da vida simples uma bandeira. E,
ironicamente, ao se despir dos luxos, tornou-se gigante. Um símbolo mundial.
Durante seu governo, Pepe ousou legislar
para os invisíveis. Fez do Uruguai o primeiro país da América Latina a
legalizar a maconha, regulamentou o aborto, aprovou o casamento igualitário.
Fez do pequeno Uruguai um farol progressista para o mundo.
Mas talvez sua maior ousadia tenha sido
ensinar, com seu jeito calmo e sua voz rouca de poesia simples, que felicidade
não está no consumo, mas no encontro com o outro, na partilha, na dignidade
humana.
Mujica foi guerrilheiro, sim. Mas sua
arma mais poderosa foi o exemplo.
Foi preso, torturado, humilhado, mas nunca perdeu a ternura.
E agora, em sua despedida, ele mesmo nos
disse: "Estou no final da partida, mas sou feliz porque vocês estão
aqui".
E estamos, Pepe. Seguimos aqui, de punho
erguido, com lágrimas nos olhos e sorrisos de gratidão.
Você foi daqueles que não pertencem
apenas a um país. Pertence ao povo, ao sonho, à história dos que não se curvam.
Enquanto houver injustiça, sua memória será resistência.
Enquanto houver arrogância no poder, seu nome será lembrado como antítese do
autoritarismo.
Enquanto houver amor à liberdade, haverá Mujica.
Vá em paz, velho Pepe.
A América Latina te abraça.
O mundo te agradece.
E a semente que você plantou em cada coração rebelde, essa, ninguém mais
arranca.
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