sábado, 10 de maio de 2025

Morre Manivela, e leva consigo o violão.

 

Imagem - Folha 2
Na varanda do tempo, onde os acordes se entrelaçam com a saudade, o violeiro Manivela deixou sua última canção.

Partiu aos 81 anos, mas sua música permanece ecoando nas memórias de São José do Rio Preto, ou nas salas do extinto Conservatório Musical de Mirassol, e claro, no coração de quem teve o privilégio de aprender com suas mãos calejadas de artista.

Professor, músico e contador de causas, Manivela não apenas ensinava notas, mas ensinava alma.

Suas aulas eram lições de vida, onde cada dedilhado carregava um pouco da sabedoria de quem conhecia o ritmo das coisas simples: o vento no cafezal, o ronco do trem na tarde, o silêncio entre um verso e outro.

Na escola dirigida por minha mãe Darci, na cidade vizinha de Mirassol, onde ao lado de nomes como Roberto Farah, integrou uma geração de mestres que não formavam apenas técnicos, mas poetas do teclado ou do violão, artesãos da melodia, tive o privilégio de ser seu aluno.

Sua voz e violão hoje se calam, mas ressoam as histórias. Histórias de um homem que, como um velho cancioneiro, transformava escalas em sentimentos e desafios em harmonias. Sua morte não apaga o som de sua viola e ele segue vivo no imaginário de uma cidade que ainda canta suas modas, nos alunos que carregam seu legado, e no céu do interior paulista agora com um violeiro a mais para animar as estrelas.

Descanse em paz, Manivela. Que os anjos afinem suas cordas para você, e que a terra guarde, em seu silêncio, o eco do seu último tremular de palheta.

"A música não morre.  Apenas encontra novos ouvidos."


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por contribuir com sua opinião. Nossos apontamentos só tem razão de existir se outros puderem participar.

Trump, a Doutrina do Porrete e a Sombra da Intervenção na América Latina

  Imagem - ICL Notícias O envio de tropas americanas para o Mar do Caribe, por ordem direta de Donald Trump, não é um ato isolado, nem se li...