quarta-feira, 14 de maio de 2025

13 de Maio: a farsa da abolição e a luta que nunca terminou

 

Imagem - Socialismo Criativo
Há quem ainda insista em celebrar o 13 de maio como o dia da libertação dos negros escravizados no Brasil.

Mas quem conhece a história real, quem carrega na pele, na memória e na luta o peso do racismo estrutural, sabe que o 13 de maio não foi um dia de liberdade. Foi o dia da farsa.

A assinatura da Lei Áurea, feita em 1888 pela princesa Isabel, não foi um presente da monarquia. Não foi ato de benevolência da elite branca. Não foi uma redenção. Foi um movimento tardio, assinado quando o sistema escravocrata já ruía, corroído por dentro, pelas lutas dos próprios negros e negras que enfrentaram 300 anos de escravidão com quilombos, revoltas, fugas, rebeliões, sabotagens.

A história oficial tenta apagar essas vozes. Apaga Zumbi, Dandara, as revoltas dos Malês, das Carrancas, da Balaiada, como se a liberdade tivesse caído do céu num papel assinado por mãos brancas.
Mentira.
O 13 de maio foi uma canetada sem reparação, sem justiça, sem dignidade.

O que houve foi um despejo coletivo.
Negros e negras foram expulsos das senzalas e jogados nas favelas, nos cortiços, nos becos da marginalidade social, onde permanecem, 136 anos depois, sendo maioria nas estatísticas da pobreza, do desemprego, da violência policial, das mortes evitáveis.
É a falsa abolição que perpetua a verdadeira escravidão moderna: o trabalho sem direitos, a servidão por dívida, as jornadas exaustivas, as condições degradantes, como mostram os mais de 3 mil trabalhadores resgatados em 2023 em condições análogas à escravidão, claro, na maioria, negros.

E a bala da polícia?
Essa também tem cor.
Em 2022, 65% dos mortos pela polícia eram negros.
Negros seguem sendo alvo preferencial da violência de Estado, da discriminação cotidiana, da exclusão silenciosa.

Por isso, o 13 de maio é, para o povo negro, o Dia Nacional de Luta contra o Racismo, não de festa.
É o dia de exigir reparação histórica, políticas sérias e estruturais que combatam o racismo institucional, que garantam terra, moradia, saúde, educação, emprego, salários dignos.
É o dia de reafirmar que não há liberdade verdadeira sem justiça social.
Não há abolição sem reparação.

Portugal já começou a reconhecer publicamente sua dívida histórica com os povos escravizados e colonizados.
E o Brasil?
Quando vai ter coragem de olhar no espelho e admitir que carrega um passado escravocrata que nunca foi superado?

Malcolm X dizia:
"Não há capitalismo sem racismo."

O racismo alimenta o lucro.
Por isso, lutar contra o racismo é lutar pelo fim deste sistema que explora, adoece e mata corpos negros todos os dias.

O 13 de maio não foi o fim da escravidão.
Foi o começo de outra forma de opressão.
E nós não esquecemos.
Nós seguimos. Na luta. Na rua.
Na resistência.


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