segunda-feira, 12 de maio de 2025

Lula na China e Rússia: diplomacia ativa e o xadrez global em movimento

 

Imagem - G1
Quando o presidente Lula pousou em Pequim no último sábado, o gesto foi muito mais que uma visita protocolar.

Foi um movimento estratégico no tabuleiro delicado da geopolítica global.

Ao se encontrar com Xi Jinping e sua comitiva, Lula não apenas reforçou os laços comerciais já sólidos entre Brasil e China, que hoje é nosso maior parceiro econômico, mas sinalizou ao mundo que o Brasil deseja se posicionar de forma soberana, inteligente e pragmática diante do conflito comercial que opõe as duas maiores potências do planeta: Estados Unidos e China.

Nesse cenário, o Brasil enxerga, com olhos atentos, a brecha deixada pela guerra tarifária entre Washington e Pequim. Com a imposição de tarifas de até 145% sobre produtos chineses pelos EUA, e a retaliação chinesa de 125% sobre produtos americanos, incluindo a suspensão de licenças de frigoríficos dos EUA, abre-se uma janela de oportunidade histórica para o agronegócio brasileiro ocupar espaços antes restritos às empresas estadunidenses.

Lula, com a astúcia de quem conhece os labirintos do comércio global, sabe que o momento exige mais que discursos.

A comitiva robusta, composta por ministros estratégicos, autoridades e empresários, desembarcou em solo chinês com a missão de transformar as boas intenções em acordos concretos.

Não à toa, o seminário com empresários brasileiros e chineses, promovido pela ApexBrasil, carrega como mote a ampliação e diversificação das relações comerciais.

Mais que soja, minério e carne, o Brasil busca agora avançar em setores de alto valor agregado, biotecnologia, energias renováveis e infraestrutura.

A visita também mira destravar entraves burocráticos para a exportação de produtos biotecnológicos brasileiros, um passo importante para elevar o patamar das exportações.

Além da frente econômica, há o gesto político de Lula ao dialogar diretamente com Xi Jinping e participar de encontros multilaterais, como o previsto com representantes da Celac.

Trata-se de reforçar a imagem do Brasil como ator relevante, que aposta em uma ordem mundial multipolar, onde o Sul Global precisa ser protagonista e não apenas espectador.

A escala anterior na Rússia, com nuances ainda mais delicadas devido à guerra na Ucrânia, mostra que o governo brasileiro busca manter abertos todos os canais de diálogo, sem submissão a blocos fechados. É a velha máxima da diplomacia ativa e altiva, marca dos governos Lula, que volta a vigorar com força.

No fundo, a viagem é a reafirmação de uma política externa que compreende que o futuro do Brasil passa, inevitavelmente, por um mundo em transição. E que nesse novo cenário, o Brasil precisa sentar-se à mesa, não como coadjuvante, mas como articulador de pontes entre o Ocidente e o Oriente, entre o Norte e o Sul.

Lula, ao olhar para a China e para a Rússia, não dá as costas aos Estados Unidos. Pelo contrário, faz o que a diplomacia pede: diversifica parcerias, protege os interesses nacionais e posiciona o Brasil como uma peça-chave no novo jogo global.


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