Essa é uma questão bem
difícil, pois as avós, como qualquer outra pessoa, antes são seres humanos e
como tal, plenos de virtudes e defeitos, cometendo ao longo de suas vidas,
infinitos acertos e erros.
Assim, para uns a avó com
certeza está em altíssimo grau de afeto.
Para outros ela pode representar amarguras, seja por sua ausência, seja
pela forma como educou a mãe ou o pai que agora e por consequência, deixam em
nós os resultados dessa criação.
Felicito sempre meus filhos
por ainda terem vivos (encarnados) os quatro avós. Ressalto que os aproveitem e curtam sua
presença. E com essa afirmação deixo claro que não há mais ou menos importância
em uma avó do que em um avô.
As duas figuras juntas são uma
única e marcante presença na vida dos netos. Pelo menos em geral é assim.
Mas me permito aqui destacar a
avó, seja pela sua maternidade, seja pela sua condição de mais carinhosa à
medida que seus cuidados incluem aquela comidinha de tempero inesquecível,
quando não os afagos de uma mulher duas vezes mãe.
No meu caso, sobretudo, recordo
de minha avó materna porque enquanto escrevo essas linhas, o faço em memória dela
que ontem, Dia de Todos os Santos, completou seu décimo oitavo ano de partida.
Sempre presente em minha vida, bem como na vida dos demais netos, minha avó nunca deixou de se preocupar e se ocupar com nossa criação.
Enquanto meus
pais trabalhavam duro, por exemplo, ela supervisionava nossa situação em casa, trazendo
bolo, ajudando nas orientações de quem cuidava de nós, quando não cumprindo, ela
mesma, essa tarefa.
Falar de suas virtudes seria
correr sérios riscos de deixar de lado algumas, ressaltando só as que me dizem
respeito e portanto não vou arriscar.
Prefiro resumir sua história
na mãe que perdeu um filho ainda jovem, aos dezessete anos, no mais trágico
acidente de ônibus dessas paragens. A
história dos estudantes mortos no rio Turvo é de conhecimento geral por aqui. O
sofrimento que ela viveu, antes de derrubá-la, a fez mulher forte e devotada
ainda mais à família.
Também devo dizer que deu a seus filhos todos uma educação bastante sólida.
Minha mãe, a única filha, foi sempre educada com todo esmero, daí
tornar-se uma mulher inteligente e dotada de tantos talentos incentivados por
minha avó, dentre eles o piano. Artista de diversas aptidões, minha mãe, uma
dama, foi criada com o espírito empreendedor que caracterizou sua casa.
Um dos filhos de minha avó, o mais velho,
dedicou-se aos estudos e consequentemente a uma profissão bastante séria como
servidor público, desempenhando relevantes posições junto ao fisco federal.
O segundo se tornou um
grande construtor na cidade seguindo os passos do pai. São deles alguns dos edifícios mais nobres de
São José do Rio Preto, principalmente os que carregam nomes de estrelas. Um de seus empreendimentos mais conhecidos é o Cemitério Jardim da Paz.
Juracy, o terceiro e que nos deixou
recentemente vítima da COVID, era o mais próximo de todos. Trabalhador
dedicado, sempre foi o elo de união, jamais deixando de estar presente nas
vidas de seus irmãos e irmã.
Com essa segurança de uma
mulher multi responsável e presente, meu avô esteve livre para escrever sua
história de imigrante que saiu de Portugal "com uma mão na frente e outra atrás",
edificando família e nome de grande respeito.
Eu poderia dizer também tais
coisas de minha avó paterna, pois dela, dona Amor, sei bastante. Sua grande devoção pela família, não deixa
dúvidas de merecer a mesma consideração.
Até porque vivendo com meu pai, seu filho, tenho constante mostra,
indiscutivelmente, de como foi sua criação. Mas com ela não tive a alegria da
convivência, posto que nos deixou com sua inesperada morte, nos primeiros meses
de minha chegada.
Talvez até por isso, minha
convivência única com apenas uma avó faz com que eu tenha por ela o carinho
reservado a duas.
O fato é que vó Lídia sempre
nos dedicou um amor extremamente maior que qualquer um de nós
pudesse retribuir.
Pouco antes de sua morte, eu já adulto, trabalhando na
Prefeitura, recebia dela, no meio da tarde, uma ligação para me informar que um pudim recém
cozido estava a minha espera.
Seus papos alentadores foram
e serão sempre um lenitivo para minhas mais duras provas, pois além das
conversas demoradas, bilhetes com anotações para eu não me esquecer de seus
importantes conselhos, me eram dedicados num português que talvez pouca gente
além de mim conseguiria traduzir.
Minha avó é daquele tempo em
que as mulheres deviam trabalhar e por isso não estudou, o que jamais fez falta
a sua imensa sabedoria.
Eram dela, para todos os
comensais, os conselhos nas ceias de natal.
Eram também dela as mais fortes lições e muitas vezes puxões de orelhas de um
jeito indelicado, mas contundente e eficaz.
Não é à toa que os costumes
deixados em nós (todos os netos tem hábitos muito parecidos), estão até hoje
presentes.
Sua sempre franca opinião, arranhava às vezes, mas sempre era seguida de um suave bálsamo de amor incondicional. E quando não, bolinhos de chuva, sagu, porpetas e outras iguarias, serviam de consolo.
Minha mãe tem se esforçado
bastante para ser, aos meus filhos e minha sobrinha, a avó que sua mãe
foi. E tem se saído muito bem.
Mas também isso, por certo, só
é possível por que teve em sua mãe o exemplo perfeito.
Assim dedico com grande
gratidão essas linhas à memória de minha doce Lídia e peço a Deus que, onde e
como quer que ela esteja, a abençoe, ilumine, renove e sobretudo afague como
ela sempre fez com a gente.
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