O bom de ter um blog só da
gente é que podemos escrever o que quiser. Não importa se alguém vai ou não ler
e principalmente se vai ou não concordar. Menos ainda se escrevemos
corretamente, ou se deslizes gramaticais aparecem.
O ato de escrever nos permite
botar os pensamentos em ordem. Pensar um
pouco, que é como já disse várias vezes, diferente de ter pensamentos.
Quando me dedico alguns
minutos a essa tarefa de fazer minha autocrítica, digitando no silêncio de meu
quarto, quase sempre dou cabo de alguma questão que estava pendente. E basta
escrever que aquilo vai clareando e me
dando um tiquinho mais de paz.
Como agora em que estou
tentando traçar um paralelo entre o materialismo que fundamenta minha prática
política e o espiritualismo que me orienta para a transcendência.
E quer saber? Não vejo contraditório em se crer na vida
após a morte e ao mesmo tempo lutar por uma vida mais justa e mais completa
enquanto se está na Terra.
Aliás, muitos dos que brigam
por direitos, ou que agem na defesa de questões humanistas, são bastante mais
eficazes do que certos espiritualistas que se fecham no casulo da
pseudo-santidade.
Claro que também parece ser
uma regra que os grandes pensadores, sábios ou teóricos professem o
ateísmo. Mas só parece. Conheço, aliás conhecemos, muitos grandes
homens de fé que escreveram teses fantásticas no mundo das ciências.
O fato é que viver com fé faz
muita diferença quando a gente se depara com situações sombrias.
A perda de alguém querido, o
sofrimento de uma tragédia pessoal, seja financeira ou familiar, sentir na pele
a injustiça ou o peso de uma grande decepção são coisas que podem nos derrubar
se não tivermos o apoio incondicional da crença no “algo superior” que pode ser
Deus, a inteligência infinita, o Universo, ou nosso “eu verdadeiro”.
Pensar que se pode recorrer ou
que se é assistido nas aflições, atenua a dor.
Mas espere. Ter fé não é forçar para crer e tampouco se
iludir. A fé é um presente, uma dádiva,
uma virtude que se ganha sem pedir, mas que se pode alimentar ou esvaziar com o
esforço de sua prática.
Vou ter que repetir o que
dizia no início. Não há
incompatibilidade entre fé e luta política.
Entre se crer na justiça divina e promover a justiça entre os Homens.
E pra provar isso, poderia
discorrer sobre a história de Buda, Jesus, Maomé e tantos outros, profetas ou
desconhecidos, que mesmo com suas contradições, jamais deixaram que o amor pelo
ser humano fosse menor que qualquer outra finalidade de suas vidas.
Esses e outros personagens,
fizeram mais política do que qualquer outro líder de direita ou esquerda.
Ao seu modo, garantiram
inclusão e atenção aos mais necessitados, confrontaram tiranos e mudaram
destinos. E isso é sim fazer política
com P maiúsculo.
Posto isso, não há que se
ficar pensando mais na incongruência de se ler Marx e o Evangelho ao mesmo
tempo.
Se a fé nos ajuda a sermos
mais fortes, melhores, transformadores, tanto mais útil será às outras ações
que resolvermos assumir.
A mim a fé ilumina, abranda o coração,
dá coragem. Sustenta, renova, aguça a
criatividade, reforça o sentimento fraterno e de solidariedade. A fé me impõe agir com justiça, temperança e
amor.
Quanta diferença isso não faz
caso eu decida colocar-me ao serviço da minha comunidade?
Sobre fé, quisera tê-la maior,
mais perfeita, mais forte. Mas por
enquanto é suficiente. Essa centelha que
persiste em arder no meu peito, pode melhorar muito afim de abrasar todo meus
ser. E espero muito por esse dia.
Sei que ainda é bastante menor
que o grão da mostarda, trôpega e manca, um dia quem sabe, moverá montanhas.
Enquanto isso, anjos e
demônios digladiam em meu interior na busca de minha alma. E descuidar disso, não vou.
Acabo de refletir sobre sua
relevância para mim. A fé é inerente a
minha condição de ser humano.
Ter fé em Deus (dê a Ele o
nome que quiser) não pressupõe descrer do Homem. Muito pelo contrário.
Fico com aquela velha expressão
de Tomé: “Senhor e Deus, eu creio, mas
aumentai a minha fé”.
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