Quando se é criança, brincar com os amigos é o que há de melhor. Seja na rua, na casa da gente, em uma praça, na escola ou em qualquer lugar que seja. Por isso fico tão preocupado com as consequências no emocional da criançada por conta do isolamento necessário vivido nos últimos tempos. Vi de perto meu filho mais novo, minha enteada e sobrinha, sem a saudável convivência com outros de sua idade a não ser pelo celular ou computador. E foram meses intermináveis. Quase dois anos, até.
Frequentando uma escola
virtual que, se por um lado oferece conforto e a alegria de estar em casa (nós
bem que gostaríamos de ter passado por isso), por outro privando-os de colocar
o “papo em dia”, das brincadeiras no pátio e mesmo do necessário contágio de
pequenas doenças a fortalecer nosso sistema imunológico.
Há que se ponderar o que é
pior. O risco de contrair a COVID, que
pode causar essa doença grave e até morte, ou as mazelas permanentes que
ficarão acumuladas em meninos e meninas afastados de seus coleguinhas.
E vai além. Adolescentes e jovens, também privados do encontro
com a “galera”, sofreram bons bocados.
Meu filho do meio completou seus 18 anos sozinho com a família. Passado o susto inicial e aliviada pela
vacinação, agora essa turma quer tirar o atraso de uma só vez, sem se quer
considerar que “o mar ainda não está pra peixe”. Afinal, a Europa recomeça a viver com medo
nesse exato momento.
Ontem eu me encontrei com
amigos que já não via há um bom tempo.
Casais e seus filhos, que sempre me divertiram, animaram e despejaram
seu carinho. Que saudades! Como foi boa e agradável essa noite. O sentimento de acolhimento, as risadas,
piadas, fofocas e abraços fraternos são fundamentais para uma boa saúde, tanto
quanto o é a preservação da mesma pelas medidas de segurança orientadas.
É daí que veio esse meu pensamento. Será que aquelas pessoas que obedeceram a
rigor todo o protocolo de afastamento, de algum modo também não acabaram com
algum prejuízo grave? E se sim, qual a profundidade dessa perda?
Bem, poderíamos dizer que a diferença
consiste em estar ou não vivos. Só que
vivos estamos nós aqui e agora. Eu que estou escrevendo, você quem está lendo e
outros. Mas quanto, em si, perdemos de
vida, posto que a vida é um conjunto de momentos?
Veja, por favor, em nenhum
momento eu torno não perigosa a pandemia.
Também não descreio da ciência e das importantes recomendações para o
uso do álcool em gel, máscaras e distanciamento. Não sou negacionista. Mas reflito se agora, com a vacinação, já não
é mesmo o momento de se permitir que as pessoas se encontrem, vivam e respirem
juntas. Que as crianças não possam voltar às escolas, aos clubes e a brincar na
rua.
Penso sim naqueles pequenos,
no auge de sua infância, deixando de criar brincadeiras, viver fantasias,
trocar impressões e sorrisos e isso me dói pois vivi uma infância
invejável. Aquela de chegar em casa
tarde e com o pescoço marcado de terra.
Tomar banho e voltar a brincar na rua para ter que lavar os pés antes de
dormir.
E ontem, ao me reencontrar com
amigos, me senti uma verdadeira criança, a rir até doer a bochecha. Isso também
é vida. Aliás, isso é vida. E privar-se
disso para garantir a vida (sem isso), faz uma confusão danada na cabeça da
gente.
Que droga de vírus, de
pandemia, de medo da morte. Que droga de
perdas tão grandes e que todos sofremos direta ou indiretamente. Foram dias das mães, sem mães com as mães
ainda vivas. Dias de Natal com ceia
vazia e trabalho remoto, sem o intervalo do cafezinho que garantia falar mal do
patrão.
Sinceramente espero que esteja
no fim. Que o ano que vem nos traga a
libertação para que possamos, em nome da vida, voltar a viver.
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