Eu sabia que não seria tarefa fácil, defender a reeleição de
Dilma.
Primeiro porque eleição carrega
consigo, aquele desejo de todos de uma “renovação”.
É tipo ano novo em que, por melhor que o ano tenha sido, todo mundo
deposita novas esperanças, em sonhos que ainda não se realizaram.
Mas eu também não imaginava que estaria presente tanto ódio. Gratuito, inexplicável, sem sentido.
No último domingo, enquanto acompanhava os primeiros números da
apuração e de quebra, olhava as postagens nas redes sociais, que hoje refletem
muito bem o que pensa cada um sem “máscaras”, remontei na mente a imagem de um
certo domingo em família, quando alguns membros da minha, que é um tanto
extensa, discutiam sob uma frondosa árvore em casa de meus pais.
Falávamos de futebol. Em pouco
tempo a plateia já estava dividida entre não corinthianos (torcedores de outros
times e pessoas que odeiam futebol) e os corinthianos (eu e meu pai). Quer dizer, havia gente que não torcia para nenhum
time, mas por um destes fatores sem nenhuma justificativa, não gostava do
Corinthians de jeito nenhum.
Tentei argumentar e perguntar qual a razão desta aversão infundada. E mesmo assim não chegava a nenhum tipo de conclusão. Não há um fato concreto para ser anti-corinthiano.
A paixão dos torcedores pelo clube
irrita os que não partilham dela. É assim e pronto.
Pensei em um comparativo meio bobo, mas que de certa maneira me fez
compreender. Quando não estamos em uma
festa, na casa do vizinho, o barulho alto nos incomoda. Mas se estamos lá, nem percebemos que estamos
também incomodando os demais que não foram convidados.
Fiquei feliz por ser corinthiano.
Não tardou e a conversa migrou para a política, tema quase obrigatório
entre nós. Pronto. Nova aversão.
Desta vez ao PT.
Quase todo mundo
defendeu o governo Lula e as mudanças que ele proporcionou. Não houve quem não concordasse com as
melhoras visíveis. Mas ouvi por mais de
uma vez que “o PT isso, o PT aquilo” etc.
Havia professores na roda. E deles
mesmo ouvi: “Até gosto da Dilma, mas o PT...”
Pronto. Já entendi. Assim como existem anti-corinthianos, existem
anti-petistas.
Era a melhor visão que eu podia ter para não ficar emburrado. Pois assim como havia gente que sequer ligava
para futebol e falava ardorosamente mal do Corinthians, também havia aquele ou
aquela que nunca sequer se deteve, por um segundo, a entender política e “descia
a lenha no PT”.
Sei lá... Talvez fruto de um tempo, não muito distante, em que o
vermelho causava mal estar na classe média. Ou então fruto de um tempo em que as pessoas
gostavam mais de Kennedy do que de Juscelino.
Fruto, quem sabe, de um tempo em que era chique, parecer chique.
Hoje se vai ao shopping e a empregada do casal está fazendo compras na mesma loja. Quem sabe, comendo no mesmo restaurante. Funcionários se encontram no aeroporto, no final de semana. Ah, isso os "nobres" não podem aceitar. Uma afronta.
Não vale pra mim vir com esta de corrupção. Afinal, ela existe aqui desde as
caravelas. Sem querer justificá-la, basta afirmar que pela primeira vez estão sendo acusados, presos, demitidos, os que dela são suspeitos.
Não vale vir com esta de que o PT traiu os trabalhadores.
Ao longo de
minha história de vida, só vi trabalhadores serem “chifrados” pelos sindicatos,
partidos e religiões a que pertencem.
Não vale vir com esta de que o PT está instituindo uma ditadura de
esquerda no país. Este é, sem dúvidas, o
argumento mais ignorante que alguém possa lançar. Já vi esta gente antes defendendo ardorosamente o Collor, porque Lula
ia acabar com a poupança. Lula era "comunista". Conta outra.
Pare todo mundo. Simplesmente são
anti-petistas e pronto.
Votariam na Marina, no Aécio, no Pastor Everaldo ou no capeta, para não
deixar Dilma voltar ao Planalto.
Isso não vale. Este sentimento não
tem nada de patriota. Nada de racional. Não é responsável.
Sabe, eu adoro debater. Gosto de
escutar contra argumentos para mudar se estiver errado, ou para afiar minhas convicções. Por isso montei no
facebook um grupo chamado de “autocrítica” para tentar fazer a minha. Mas o debate tem que ser forrado de
argumentos, não de paixões cegas.
E está difícil.
As pessoas insistem em reproduzir este rancor irrefletido, difundido
pela mídia, assim como foi difundido pela mídia esportiva o estranho rancor
entre brasileiros e argentinos. Dois
povos irmãos, muito parecidos e que se amam, mas cuja mídia insiste em colocar
como inimigos nas piadas, nos bordões, hoje tão repetidos nos botequins,
barbearias e trens urbanos.
É preciso, quem sabe, uma sessão coletiva de psicanálise para entender
este problema que faz do brasileiro em geral um ressonante das TVs, das revistas de quinta, um adorador dos EUA, um bajulador
de ricos, um amante de patrões.
Complexo de Estocolmo? Herança de ter sido colônia? Descendência escravista? Síndrome de vira-latas?
Amigos mais próximos e tolerantes, ainda acham válido manter comigo um bom
relacionamento, então tentam me explicar suas escolhas. “Quero mudança”.
Eu só digo que seria justo se seu voto fosse para Luciana Genro, o antídoto do
capitalismo presente também no PT. Seria
justo se fosse em Eduardo Jorge, um homem sincero que segue à risca os
preceitos de seu partido Verde em prol da visão ecológica e não consumista. Mas ao defender a mudança, voltando alguns anos
atrás, não cola.
Pra mim, continuará sendo, sempre, o velho e injustificável
antipetismo.
Que pena.
Eu poderia pedir que todos lessem a verdadeira história do Plano Real,
para ver quem é o pai do Real no lugar de FHC. Este parece ser o único benefício que reputam a este "carinha" sem merecimentos outros.
Queria pedir que lessem a Privataria Tucana ou o Príncipe da Privataria
para entenderem o maior escândalo da história deste país em artimanhas e
valores envolvidos. Mas penso que não acreditariam nos jornalistas que os escreveram. Não são a Veja, nem a Isto é. Não são a Folha, nem O Globo. Queria pedir que
acompanhassem a imagem do Brasil lá fora.
Repito, lá fora. Não em Miami.
Mas não vou pedir mais nada. Não
adianta argumentar.
O ódio inexplicável é mais forte.
Eu gostaria de poder juntar alguns que a quem respeito e dizer-lhes que eu estou
tranquilo. Em paz. Afinal, eu lutei pelo que acho justo.
Além disso, eu tenho emprego, escola particular para os filhos, plano de saúde, pago previdência privada. Não me orgulho de nada disso, mas me garanto.
Ainda, tenho primos nascidos e que moram em Portugal insistindo para eu me mudar para lá com toda família. Em há como fazer isso, pois meus negócios vão bem por aqui e não conhecemos nenhuma crise, nem conosco e menos ainda com os franqueados que estão indo bem, com raríssimas exceções.
Enfim, estou
bem. Não precisava brigar tanto e com
todos como tenho feito.
Só que gostaria de informar que a classe C tem crescido. Consumido mais. É com ela que eu lido de perto. Ouço, encontro, vejo ascendendo cada novo dia.
Gostaria de informar, sobretudo aos mais jovens, que pouco tempo antes
do PT assumir, as taxas de juros eram maiores, o desemprego era maior, a inflação era maior.
Que a Petrobrás
valia infinitamente menos. Que nossa
imagem no exterior era a de “lambe botas”.
Que as micro empresas não passavam de 2 anos de vida. Que os desvios do governo eram assombrosos e que ninguém
ficava sabendo porque a mídia era altamente paga por contratos milionários.
E mesmo assim nada disso iria adiantar. Simplesmente porque ódio
é ódio. Não precisa ter maiores razões.
Que pena. Que trágico.
“Mas Carlos, ainda não acabou... Ainda tem o 2º turno.” - poderia dizer um companheiro.
No entanto eu digo: É mesmo? Sem em 12 anos não se conseguiu provar o óbvio, não será em 20 dias que
alguém o fará.
Lamento muito.
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