quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Contradições, medo e a sombra de Trump.

 

Imagem - ICL Notícias
O voto de Luiz Fux no julgamento do núcleo central da tentativa de golpe de 2022 é um marco de covardia política e contradição jurídica. O mesmo ministro que, meses atrás, não titubeou em condenar militantes de base e executores do 8 de janeiro, agora resolve absolver o chefe-mor da conspiração e seus generais de confiança. Ora, se havia provas para punir quem acampava na frente dos quartéis, como não enxergar as provas contra quem planejou, articulou e financiou a trama?

Fux recorre a um malabarismo vergonhoso. Descreve as articulações como “desabafos de derrotado”, relativiza reuniões em que se discutia abertamente golpe de Estado, e trata a minuta golpista como se fosse papel sem consequência. Como se não bastasse, retira de Bolsonaro o protagonismo dos crimes, apresentando-o quase como vítima de um golpe oferecido de presente por auxiliares mais ousados. É o ápice da inversão.

Não é ingenuidade. É escolha. Uma escolha que ecoa as pressões externas vindas dos Estados Unidos, que já ousam ameaçar o Brasil com sanções econômicas e até uso da força em nome de “proteger a liberdade de expressão”. Uma liberdade que, na boca de Trump e seus aliados, significa apenas a licença para atacar a democracia dos outros. Coincidência ou não, Fux acena exatamente nesse momento com um voto que enfraquece a responsabilização do principal responsável pelo complô golpista.

A incoerência é brutal. Quando se tratava de punir os soldados rasos, os infiltrados de massa, os destruidores de vidraças, Fux se somou ao coro da justiça. Mas agora, diante dos generais fardados e do ex-presidente que insuflou o país ao abismo, prefere a anulação, a dúvida conveniente, a retórica vazia da falta de provas. Como se não fosse prova suficiente a confissão de Cid, os áudios, as mensagens, os encontros, as ordens veladas.

A história é implacável com os pusilânimes. No momento em que a democracia brasileira exigia coragem, Luiz Fux escolheu a tibieza. No instante em que a República necessitava de firmeza, ele optou pela rendição. Seja por medo de Trump, por cálculo político ou por mero apequenamento de caráter, o efeito é o mesmo: tentar lavar a biografia de Bolsonaro e sua corja de golpistas.

Mas a democracia não se lava com votos frouxos. A democracia só se defende com justiça, memória e coragem. E é isso que o povo brasileiro espera.  Não de um ou outro ministro isolado, mas do conjunto da Corte e das instituições da República. Que não se intimidem. Que não cedam. Que mostrem ao mundo que aqui, diferente de onde Trump reina com ameaças, golpe não tem vez e covardia não terá perdão.

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