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Imagem - Migalhas |
Estamos
falando de mais de R$ 50 bilhões. Isso mesmo, bilhões que deveriam irrigar
políticas públicas pensadas pelo governo eleito, mas que acabam irrigando
curral eleitoral, compra de voto, dentadura pra quem não precisa, ambulância
pra cidade que não tem sequer médico. Um Brasil que sangra dinheiro pra
alimentar o apetite eleitoral de parlamentares que, há tempos, confundem
fiscalização com apropriação.
O
ministro Flávio Dino, no centro desse furacão, tenta mediar uma conciliação
entre Executivo e Legislativo, num esforço que pariu a Lei Complementar 210 de
2024.
Essa
lei, aprovada com fanfarra há um ano, criou regras claras: o dinheiro das
emendas tem de seguir o cardápio de prioridades do governo, passar pelo crivo
dos ministérios, ter coerência com políticas públicas nacionais.
É
o mínimo num sistema presidencialista. O
presidente, eleito pelo povo, decide o rumo do país enquanto o Congresso
fiscaliza, propõe ajustes, mas não toma o timão na marra.
Mas
agora, quando a lei precisa sair do papel, a coisa emperra. O Centrão, esse
monstro nutrido por interesses paroquiais e verbas bilionárias, faz beicinho.
Não quer abrir mão do cofre, não quer devolver ao Executivo o que é do
Executivo. Quer continuar distribuindo verbas sem transparência, prometendo
pontes onde não há rio, asfaltando estradas que vão dar direto à sua reeleição.
Walfrido
Warde, advogado que coassina a ação que sacudiu o Supremo, crava o que salta
aos olhos. Esse esquema desmonta, na
marra, o presidencialismo.
Se
o presidente não controla o orçamento, não governa. Vira refém.
Qualquer
projeto nacional seja segurança, educação, infraestrutura, se torna refém de
negociações paroquiais. O Brasil se torna um arquipélago de obras eleitoreiras,
contratos suspeitos e superfaturamento.
Um convite diário à corrupção.
E
quem ousa questionar vira alvo da narrativa de sempre: “É o Supremo
interferindo na política”, gritam os donos do cofre. Balela.
O
que o STF faz é proteger a Constituição. E, convenhamos, não é pouca coisa. O
artigo segundo é pétreo: os poderes são harmônicos, independentes, com funções
claras.
Usurpar
o Orçamento é rasgar a Constituição pela costura mais sensível. O dinheiro do
povo.
Enquanto
isso, a cada escândalo, uma pergunta incômoda lateja. Por que o Orçamento virou moeda de troca?
Porque depois da Lava Jato e da queda do financiamento empresarial, ninguém
quis encarar o elefante na sala? Campanha
custa caro. E fingir que meia dúzia de fundo público cobre tudo é ingenuidade, ou
hipocrisia de quem lucra com o caixa dois institucionalizado na forma de
emenda.
O
recado é claro: ou o Brasil volta a debater o financiamento da política de
forma adulta, com regras claras, fiscalização séria e transparência, ou
continuará assistindo seu dinheiro escorrer pelo ralo de emendas que mais
compram voto do que constroem país.
É
isso ou seguiremos aplaudindo dentaduras superfaturadas, ambulâncias fantasmas
e pontes para lugar nenhum.
No
fim, a pergunta é simples: quem manda no Orçamento? O presidente que a maioria
escolheu nas urnas, ou meia dúzia de caciques que loteiam o dinheiro público
como se fosse quintal de sua casa?
A
escolha será nossa e a conta, essa, já é de todos nós faz tempo.
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