sábado, 21 de junho de 2025

Quando o agressor veste terno e a vítima veste luto. A verdade sobre a escalada no Oriente Médio

 

Foto: Foto AP/Leo Correa
O conflito entre Israel e Irã entrou neste sábado (21) em seu nono dia. Nove dias de drones, bombas, mísseis e o que é pior, de manipulação narrativa. Para grande parte da mídia ocidental, o roteiro é simples: Israel se defende, o Irã ataca. Mas a realidade, como sempre, é bem mais complexa e cruel.

Israel lançou, no dia 13 de junho, a operação “Leão em Ascensão” com ataques aéreos ao território iraniano. Não foram ataques simbólicos. Foram bombas sobre infraestruturas nucleares, instalações civis, e alvos humanos: ao menos 20 comandantes militares e seis cientistas nucleares iranianos foram mortos. A cidade de Natanz, epicentro do programa nuclear iraniano, foi duramente atingida. Israel iniciou a guerra.

A resposta iraniana veio em forma de mísseis e drones. Em Beit Shean, no norte de Israel, um drone atingiu uma casa. Felizmente, sem vítimas fatais. Mas bastou esse episódio para reacender o alarme global e a hipocrisia.

Quando Israel ataca civis na Palestina, destrói campos de refugiados, impede comida e água em Gaza, não há indignação global. Mas quando o Irã revida um ataque ao seu território soberano, surgem manchetes com palavras como “terrorismo” e “ameaça global”.

O próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou: estamos “acendendo um fogo que ninguém poderá controlar”. A Agência Internacional de Energia Atômica teme impactos nucleares irreversíveis. A escalada pode arrastar os Estados Unidos, ampliar o conflito e provocar instabilidade global, inclusive econômica.

Os números já são alarmantes: mais de 240 mortos e milhares de feridos, segundo estimativas oficiais. A maior parte, como sempre, são civis, gente comum, que paga com sangue as decisões de generais e fanáticos.

Mas o pano de fundo, mais uma vez, é o apartheid israelense. É o genocídio permanente na Palestina. É a ocupação violenta travestida de “defesa”. É a estratégia de empurrar a região ao colapso para seguir isolando e criminalizando o povo palestino, agora com a desculpa de um novo inimigo: o Irã.

A pergunta não é quem atirou primeiro esta semana. A pergunta é: quem ocupa, quem oprime, quem sufoca um povo há mais de 75 anos?

Não, o Irã não é um modelo de democracia. Não se trata de passar pano para o autoritarismo teocrático. Mas entre o que ataca para manter o controle de uma região com sangue e propaganda, e quem revida após ter seus cientistas assassinados e seu território bombardeado, há uma diferença ética abismal.

O Brasil se posicionou corretamente ao condenar o ataque israelense. É hora de ampliar essa postura. Não podemos continuar tratando agressores como defensores da civilização, nem vítimas como ameaças globais.

O Oriente Médio grita por paz, mas não haverá paz sem justiça.
E justiça começa por chamar as coisas pelo nome certo: isso não é conflito.
É genocídio.

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