Todo ano é a mesma ladainha: quando chega o
Halloween, surge gente dizendo que celebrar a data é “pagar pau pros Estados
Unidos”.
Mas não é. É apenas celebrar. É brincar. É
participar de uma tradição que atravessou fronteiras, assim como tantas outras
atravessaram antes.
O Carnaval, orgulho brasileiro, nasceu em Veneza
e chegou aqui pelas mãos dos colonizadores europeus. As festas juninas,
que tanto amamos com fogueira e bandeirinha, são herança de Portugal e o
boi-bumbá, mistura linda de tradições africanas e indígenas, também
nasceu do encontro entre culturas. A própria Oktoberfest, que movimenta
cidades do Sul, é uma festa alemã celebrada com chope e alegria brasileira.
Então por que o Halloween seria “traição à
pátria”?
A cultura não tem fronteiras, ela é vento, é maré.
O que chega de fora, a gente transforma. E é isso que o Brasil faz de melhor. Mistura, reinventa, tropicaliza.
E mais: pra defender o Saci não é preciso atacar o
Halloween.
Podemos e devemos celebrar os dois.
O Saci representa a astúcia, a travessura e a sabedoria popular brasileira. O
Halloween, o fascínio universal pelo mistério, pela vida e pela morte.
Um nasceu da mata, o outro do mito celta. Ambos
falam sobre o medo e o encantamento.
Quem tem medo do Halloween, no fundo, teme o
diálogo entre culturas. Mas o Brasil nunca teve medo disso. O Brasil é filho do sincretismo.
Defender nossa soberania cultural não é fechar a
janela, mas mantê-la aberta e escolher o que entra, do nosso jeito, com o nosso
sotaque, com a nossa ginga.
O importante não é de onde vem a festa é o que
fazemos dela. E se for pra celebrar a vida, a infância e a imaginação, que
venham o Saci e o Halloween dançar juntos sob a mesma lua.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por contribuir com sua opinião. Nossos apontamentos só tem razão de existir se outros puderem participar.