sábado, 18 de março de 2023

Reinaldo Volpato

Há alguns dias um querido amigo fez aniversário e me limitei a cumprimentá-lo pelas redes sociais como faço com a maioria das pessoas quando sou surpreendido por um aviso de aniversário, desses automáticos.

Que pena que as coisas ficaram assim, né?  Antes a gente ligava, quando não visitava ou mandava um lindo cartão. Não muito antes, regalos eram comuns, pelo menos aos mais chegados como sobrinhos e afilhados. Hoje, ainda que convidados para festas, no máximo comparecemos com uma garrafa ou sorvete para consumirmos ali mesmo.

Dessa vez, vou um pouco além.  Como escrever é prática que me agrada, ousarei. Só não sei se elas substituem abraço, aperto de mãos ou beijo. É que nunca descri do poder da conversa como método de revelação de sentimentos ou mecanismo de boa convivência. Mas além disso, a palavra também pode promover a justiça, ou então, justificar coisas, que no fim, dá na mesma. E isso me parece um bonito presente.

Por isso resolvi traçar, ainda que modestamente, essas linhas e ainda que não lidas por ninguém mais, pelo menos que o sejam por ele a quem as dedico. Seja para expressar sentimentos, seja para fazer justiça são palavras de gratidão, reconhecimento e admiração profunda a Reinaldo Volpato.

Se não bastasse, eu ainda adolescente (1982) ser brindado por sua obra (Abrasasas) que de um modo geral homenageava a todos os riopretenses, mais adiante (2000) tive a honra de ter minha campanha como candidato a vereador ser realizada por ele. E que campanha de sucesso, se não por mim, pelo conjunto da obra. Moderna, atingiu quem precisava e o grande projeto Rio Preto de Coração, foi vencedor.

Por ser ele sempre diferenciado, culto e absolutamente intenso nas suas opiniões e posicionamentos, nunca mais deixei de acompanhar Volpato mesmo que à certa distância.

Mas a grande surpresa, se é que se pode chamar assim, foi ele aparecer em minha casa acompanhado da não menos extraordinária Clenira, para abraçarem, de corpo e alma, minha campanha à prefeitura da cidade em 2020.

Em pleno antipetismo generalizado (leia-se anti esquerda), numa cidade com população de maioria reacionária (até pelo não entendimento "de fato" do que isso representa) a campanha nascia de um momento de pura reflexão, mas sem qualquer condição material.

Recém saído do divórcio e ao mesmo tempo da dissolução de uma empresa, eu estava portanto com grandes compromissos financeiros por cumprir.  Soma-se a isso minha filiação partidária, que embora justa e mui digna, consistia, como permanece, em estar em um partido de esquerda e sem recursos financeiros. Esse era o cenário do que viria a se chamar Rio Preto pra Valer.

Reinaldo, Clenira e Tânis, estavam mais empolgados do que eu.  Na verdade, foram fundamentais para que eu decidisse seguir adiante nesse projeto.  

Ser candidato a prefeito de Rio Preto naquele instante da história e da minha própria vida, tinha alguns objetivos concretos: 

Contribuir para a construção definitiva do  PCdoB em Rio Preto.  Consolidar e dar guarida aos candidatos a vereador que precisavam também colocar seu discurso ao público.  Garantir posicionamento de fala de um projeto nacional de reconstrução do país com vistas no combate à tirania  da extrema-direita.  Protagonizar, não mais coadjuvar no cenário da esquerda local. Mostrar uma cidade um pouco além das vitrinas e talvez um ou mais item de menor destaque.

Pessoalmente, eu ainda carregava algumas intenções atreladas a tudo isso. Superar a crise pessoal originada pelo desmantelamento da vida conjugal, empresarial e principalmente, enfrentar possíveis oponentes de todas as frentes, colocando-me ao dispor para debates, críticas e inclusive permitindo a transparência total de minha situação.

Nada, no entanto, era mais sólido do que coroar uma vida inteira de militância (desde os 15 anos) com a honra de me disponibilizar a representar meus concidadãos nos plurais  interesses da sociedade em que vivo e fui criado.

Faltava-me então a consolidação de tudo isso em um projeto, em uma apresentação de bom gosto e qualidade e principalmente com credibilidade à toda prova.

Foi justamente esse conjunto que a equipe de Volpato me trouxe.  Se por um lado, não tinha como pagá-los como mereciam, por outro, sentia nos seus olhares a satisfação de estarem do lado em que realmente acreditavam. E isso foi fantástico.

Senão pra ganhar, o que obviamente era buscado, pelo menos para fazer um grande trabalho e deixar um rastro de profundo respeito, competência e seriedade, dissemos sim um ao outro.

Não vou aqui detalhar os bastidores, as dificuldades, as dores e alegrias de cada comemoração ou discussão acalorada.

Focarei no principal.  Na consecução do Plano de Governo.  Nos estudos e levantamentos que o tornaram vivo.  Na importância de aos 52 anos, entender como nunca, minha cidade, sua realidade, bem como o jogo político que une e divide. Estar no controle dos temas e não apenas ouvi-los.

Tanis era o cara que cuidava dos instrumentos, ferramentas humanas ou tecnológicas para que pudéssemos, quase sem grana alguma, nos colocarmos na rádio, TV e internet.

Clenira era a grande entendedora e buscadora dos talentos que permeiam as ações sociais e quem também vasculhava os reais problemas e dificuldades da gente riopretense.

Volpato, além de seu talento nas comunicações áudio visuais, era o compilador, provocador  e corretor de todas as grandes ideias que precisavam virar discurso e argumento de combate nos debates.

Só a presença deles no time de campanha, foi suficiente para nos legar algum respeito e autoridade.  A imprensa, mais por eles que pela candidatura em si, nos abriu todas as portas.  O que faltava em dinheiro era substituído por entrevistas, agenda diária e outras coisas.

Mas  o grande manjar era consumido nas manhãs de sábado, em casa, entre meus cachorros e gato, um filho e outro, a namorada e campainhas. Eram nessas manhãs que me reunia com Volpato para escrevermos o documento que registraríamos como nosso plano de governo.

Sobre isso, seria injusto não citar os meus camaradas de partido.  Tanto os locais, quanto os membros da Direção Estadual.  As dificuldades e desafios eram gerais.  Não se limitavam a Rio Preto.  Mesmo assim, pudemos contar  com o pouco que eles conseguiam juntar e nos encaminhar.

Não tem também como não citar Darok que dividia seu tempo entre seu trabalho na Prefeitura, sua campanha a vereador, sua condução do Conselho Afro e o apoio irrestrito a nossa campanha majoritária.

Não tem como não citar os corajosos Marcela e Dirceu que se colocaram igualmente na disputa para ajudar a levar nossa fala nos bairros e grupos em que estavam inseridos.

E não posso jamais negar a relevância da participação de Merli Diniz como vice, trazendo sua coragem e enorme bagagem na militância política, sua inserção em comunidades diversas e clubes de serviços, além de seu talento especial com palavras e o bom gosto que não pode faltar em nenhuma empreitada que vise deixar marcas.

Filiados em geral e a direção municipal naquele instante nas mãos de Ademir, foram suporte valente.

Cada camarada contribuiu, ao seu modo.  E isso foi demais.  Só que preciso destacar como a campanha girou em torno desse texto construído com paixão, coragem, inteligência e sobretudo coração sob a direção de Reinaldo.  

Quantas vezes,  em meio às conversas que viravam letras, não olhei para Volpato que lá se punha com olhos marejados por profundos sentimentos pelo povo e Rio Preto. Bastava falarmos das mazelas vividas por tantos, que esse ardor humano nos pegava de jeito obrigando uma pausa para um trago ou macarronada.

Quanto nos revoltávamos ao ver estatísticas cruéis e ao mesmo tempo acompanhar as notícias que davam conta da desfaçatez do governo federal que ignorava as medidas de segurança contra a COVID provocando mortes e dor.

O plano seguia passo a passo. Inovador, empolgante e causava um orgulho enorme. 

Falávamos com gente da Saúde, da Educação, da Cultura, do Esporte e cada vez mais entendíamos que a cidade precisava de nós, ou pelo menos, devia saber o que estávamos descobrindo. Então o plano era denunciar.  Nos parcos segundos do programa, nas entrevistas e debates, faríamos só isso. Levar ao conhecimento dos cidadãos que há prioridades desapercebidas pelos contínuos mandatários do governo local.

Fizemos isso com competência e com brilhantismo.  

Mas houve ainda espaço para o lado fraterno de Volpato para comigo. Sentindo meu momento, ele encontrou formas de eu colocar num vídeo, uma homenagem ao meu velho e agora saudoso pai que lutava contra um câncer.  Ainda permitiu eu limpar meu coração em saudar alguns familiares que embora pensassem diferente de mim, também fizeram história na cidade.

No final, a gente se arrepende por algumas coisas, principalmente por não ter brigado mais, por não ter montando um gabinete prévio para criar mais porta-vozes.  Só que diante de tudo o que estávamos passando e sem condições objetivas quase nenhumas, fizemos mágica.  Sim, mágica.

Foi mágico, pedagógica e luminosa a nossa participação.  E tenho aqui que fazer esse reconhecimento tardio a todos. À essa equipe de coordenação, aos camaradas, aos apoiadores, à imprensa, aos familiares e eleitores, mas sobretudo a esse grande profissional, militante e amigo que robusteceu meu discurso.

Obrigado Volpato.  Parabéns.  Você é mais que riopretense.  Você é um cidadão indispensável.  



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