quarta-feira, 14 de abril de 2021

Sermão do abismo

Tenho receio de minhas opiniões. 

Sim, são minhas.  Sou eu quem devo responder por elas.  Por cada uma delas. Mas às vezes elas ganham vida própria. Se lançam e flutuam juntando-se a outras tantas, de tantos outros, que esvoaçam por toda parte denunciando e alertando sabe-se lá quem. Possuem uma missão real, qual seja a de explicitar a indignação coletiva dos que amam o país, sua gente e a democracia. 

Enfim são óbvias.  Tão claras e tão precisas, que promovem a mesma dilaceração que a verdade causa quando aplicada sem piedade. Como guardá-las ou detê-las?  

Os fatos estão aí expostos. Irrefutáveis.  

Então por que o medo? 

É que ao mesmo tempo há pessoas que não veem sob a mesma ótica, as coisas como a gente vê.  Quem sabe como, já que teoricamente são fatos.  E daí que, dependendo do tema, do local, ou da ocasião, acaba que corremos o risco de ficar sós, segurando a faixa ou o cartaz.

Não teria importância, não fosse pelas reações inacreditáveis que temos visto.

Por incrível que pareça, depois de um curto espaço de tempo vivendo sob a égide da liberdade, da livre opinião, agora se é perseguido por exercitar o democrático direito de falar, clamar, escrever, manifestar-se.

Um dia foi por causa do "genocida".  Outro dia, por causa do "pequi roído". Nada que transgrida ou agrida a Constituição Federal. Apenas opiniões, ou avaliação de bom ou mau gosto, lançadas sobre quem se colocou na posição de "vidraça".  Pessoa pública exposta e à mercê dos julgamentos, por enquanto popular, mais tarde o da história.

Ao mesmo tempo, livre e ardorosamente, cartazes, faixas e brados, passeatas e manifestações que contrariam decretos estaduais e municipais, pedem o ilegal fechamento do Congresso, o desafiador fechamento do Supremo e a absurda intervenção militar sem qualquer problemas.  

No mínimo estranho, contraditório e sobretudo parcial.  E pelo que vemos, há um esforço mesmo para que se guarde para si, aquilo que não convém ao espectro que paira sob as sombras de um tempo assustador.

Em paralelo,  religiosos das mais diversas tendências de fé, com sua certa influência, se utilizam dos microfones e dos púlpitos desafiando os próprios líderes de suas congregações, que não os autorizam a tal, para destilar sua ignomínia contra pessoas, tendências ideológicas ou simplesmente cidadãos despretensiosos que apenas pensam diferente.

Ganham seu minuto de fama, ainda que péssima, enquanto acabam por arrebanhar uma ínfima parte de seu rebanho, seja desnorteando-a, seja apenas exercendo sua vaidade pessoal.

Foi aliás o caso de um padre de Rio Preto na última semana.

Que pena.  Que triste.  Sobretudo quando cristão, demonstrando seu total desconhecimento da Palavra Libertadora e Redentora do Cristo.  Ainda que alguns possam ter se regozijado ao ouvir, com agrado, uma opinião similar a quem possuem, boa parte por sua vez, passa a questionar o pregador que terá que se explicar perante o próprio comando a que deve obediência, posto que tem no seu máximo pontífice, o mais contrário exemplo do que disse. 

Imagino o valente e avançado Francisco ouvindo um dos seu proferindo, não o Sermão da Montanha, mas o sermão do abismo, da cova.

Esse seu catecismo particular, seu padre, não agrega, não fortalece e não educa.  Pelo contrário, faz coro a todo um trabalho de desinformação que bota a prova o que se ensinam nos seminários. 

O senhor também devia ter medo de sua opinião.  Por que só eu então tenho que temer a minha? 

Ah, lembrei.  Porque ela não segue o fluxo, a corrente, a moda.  Ela não surgiu assim, do nada, levando de arrasto o bom, o justo e o melhor do mundo. 


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