Carlos Alberto Gomes
Professor
é autor dos romances Ainda Resta uma Luz e Tramas do Destino publicados pela
Editora Scortecci. Tem diversos contos,
crônicas e poesias publicados em edições variadas.
Trabalhar é preciso. Porém, quando atingimos determinado e satisfatório grau de maturidade, adotamos a fase dos questionamentos. Passamos então a indagar sobre nossas atitudes, não só do presente como voltamos nossos pensamentos às atitudes tomadas em nosso passado mais remoto. Percebemos então que muita coisa que negligenciamos no passado ou que relegamos a um segundo plano, fossem talvez mais importantes do que nos parecia naquele momento. Na verdade, nossa tabela de valores era diferente da que provavelmente adotamos com o passar do tempo.
Naquela oportunidade, nossa atenção era voltada ao sustento
da família e à responsabilidade de ampará-la e trazer-lhe tranquilidade em
razão da necessidade de manter um status social do mais alto grau que
poderíamos conseguir. Mas será que se
houvéssemos em vez disto nos dedicado um “tiquinho” mais à nossa família,
notadamente aos nossos filhos, teríamos um resultado aquém daquilo que
conseguimos e estaríamos a um patamar superior que atingimos até hoje?
Provavelmente, sim. Hoje,
aos oitenta anos de idade, vemos tudo com maiores detalhes e se levarmos em
conta a totalidade dos fatores que contribuem para o êxito de nossas
empreitadas e considerando ainda o fator afetivo, cuja influência é por nós
reconhecida, podemos até compará-la com a máxima de John Nash que nos diz que
“é somente nas misteriosas equações do amor que qualquer lógica ou razão
poderão ser encontradas”. Isto me levou
a concordar que através do casuísmo muitas vezes satisfazemos nosso ego,
realizando muitas de nossas pretensões.
Surpreendentemente, concluímos que na verdade provavelmente teria sido
muito superior ao que logramos alcançar com o descaso ao convívio com nossos
entes mais queridos. Ah! Hoje você
poderá conseguir estes resultados através de seus netos. Sim, poderia.
Só que poderíamos atentar para outro ditado ou máxima, que nos diz:
“Águas passadas não movem moinhos e jamais retornam pelo mesmo caminho”.
Hoje nossos filhos, já adultos, são os pais de agora o que
nos leva a certeza de que conseguimos mantê-los unidos a nós. Mostram-nos diariamente que nos amam e que se
tornaram até melhores do que poderíamos esperar e sem ufanismo ou comiseração
achar que não merecemos. Percebo neles
que se dedicam mais aos filhos do que o fiz em minha vida. Discordo deles quando afirmam que suas
atitudes são nada mais, nada menos, do que aprenderam com nosso exemplo. São eles na verdade, o exemplo que hoje nos
dão, com sua total dedicação aos meus netos, seus filhos.
Este relato é fruto de um diálogo entre eu e minha esposa no
qual eu falava sobre uma pescaria que, juntamente com um primo e dois
sobrinhos, fizemos às margens de um rio, isto na década de cinquenta. A ideia de fazermos esse piquenique surgiu de
forma totalmente espontânea e informal.
Justamente foi aí que a consciência que nos fustiga e é
causa de nossos conflitos, entrou em ação, pois jamais o fiz e se o fiz foi tão
esporádico que sequer me ocorre à memória, ter um dia, espontaneamente e sem
planejamento, levado meus dois filhos para um piquenique semelhante à beira de
um rio, onde o pensamento se liberta e vaga solto por sobre a amplidão erma e
isolada do convívio com os demais seres com os quais convivemos.
Só poderíamos imaginar o que aconteceria nesses momentos se
houvéssemos vivido tais momentos. Mas
infelizmente não os houve na ocasião e não tomamos consciência deles o que
talvez, nos privou de momentos de muito êxtase.
Disto temos absoluta certeza, pois ficou em nós aquele gostinho que
apenas existiu em pequenas doses de saudade do que sequer existiu na realidade.
Parece difícil de entendermos, mas talvez o encontrássemos neste pequeno verso
que compus, talvez na vã tentativa de explicar o inexeplicável.
Saudade
se não existisses
O que
seria da gente?
Pois,
faze-nos sentir o passado,
Como
se ainda fosse presente!
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