sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Filé à Cubana

Se vivo o camarada Antônio Roberto Vasconcelos, o Vasco, completaria hoje 103 anos.
Isso mesmo.  Nascido no Rio de Janeiro quando a cidade ainda era  Distrito Federal (capital do país), no dia 20 de setembro de 1916, ele morreu em 31 de dezembro de 2009 vítima de um aneurisma cerebral.
Ainda jovem, mudou-se com os pais para o Mato Grosso e mais tarde alistou-se no exército, cumprindo serviço militar em Campo Grande, dando baixa anos mais tarde como 3º Sargento.
Lá, no Mato Grosso do Sul, conheceu dona Alda com quem casou-se tendo três filhos (dois meninos e uma menina).
Foi militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) profissionalizando-se e estudando em Moscou Teoria Histórica, Marx e aplicação dialética.  Voltou da União Soviética como quadro revolucionário.
Cumprindo suas tarefas, foi vereador em Campo Grande e quando ia assumir cadeira como deputado estadual, teve seus direitos cassados pelo golpe militar.
Dirigiu o jornal O Democrata que viu ser invadido, destruído e ter seu maquinário descartado em um rio.
Foi perseguido e ficou escondido, longe da família.
Mais tarde o "partidão" o mandou para outras missões.  Foi assim que acabou parando em São José do Rio Preto, embora morasse em Adolfo (cidade próxima) exercendo a função de Contador num escritório indicado.
Foi preso em Mendonça após ser reconhecido por um oficial enquanto almoçava com Dona Alda.
Na prisão, transferido para Campo Grande, nunca foi torturado pois era tido por pessoa dedicada a todos.
Ao longo de sua trajetória conviveu com importantes figuras do partido como Marighella e o próprio Prestes.  Mas foi mais tarde,  encontrando-se com Aloysio Nunes, na época militante do mesmo PCB, que retornou para a ativa, tendo recebido dele, as instruções para as próximas tarefas.
Apreciador de uísque, consta a mim que seu prato predileto era o Filé a Cubana.  Hoje, em sua homenagem, para jantar com meus filhos, foi o meu pedido.
Dentre as muitas coisas que aprendi com Vasco, as que persigo são: manter o bom humor, entender que a roda da história sempre gira e que devemos ouvir primeiro para falar depois (o que ainda me é difícil). No entanto, Vasco aprimorou meus conceitos políticos e me fez querer estudar mais.
Ao seu lado, eu e outros camaradas reativamos,  em meados de 2003 o Partido Comunista Brasileiro em Rio Preto e mirando sempre em seus exemplos, tenho perseguido o entendimento do que é mais importante conhecer quando se deseja melhorar o mundo.
Personagem de muitas histórias, talvez a mais engraçada passagem dele que conheço foi quando Assis Brasil (grande proprietário rural) contratou capangas para matá-lo.  Esses, terceirizando a tarefa, buscaram um matador profissional que cobrou uma fortuna.  Ao receber o dinheiro, o contratado procurou diretamente Assis Brasil para informar que se algo acontecesse ao seu padrinho comunista, ele mesmo mataria o fazendeiro.  Depois foi até a casa de Vasco, sua vítima, para contar-lhe o ocorrido e darem juntos boas risadas.
Vasco adorava bater longos papos com minha mulher, Caroline, que também o adorava.  Dizia pra mim que um bom militante deve ter com quem se inspirar todos os dias.
Não sei onde Vasco está agora.  
Ao contrário dele, acredito na multiplicidade das existências.  Mas seja lá onde estiver, alguma, com certeza, estará aprontando.
Avante Camarada!!!

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