QUEM CONTA UM CONTO, AUMENTA UM PONTO.
Em tempos de redes sociais nos quais as notícias voam,
sejam boas, sejam ruins, protagonizar qualquer tipo de situação pessoal ou
profissional, pode ser perigoso caso não fique tudo muito bem claro.
A bem da verdade, nenhum ser humano deve satisfação de
seus atos, nem mesmo palavras, salvo se pessoa pública. Artistas e políticos, dado à influência que
exercem, devem sim tomar certos cuidados e ser comedidos em atitudes e
opiniões.
Quando se trata de pessoas simples como eu e minha
família por exemplo, fica até feio querer dar qualquer tipo de esclarecimento
sobre assuntos que somente nos dizem respeito.
Então por que escrever aqui sobre minha vida pessoal e
a daqueles que me cercam?
Pelo simples motivo de que minha história pessoal
escrita por mim, meus queridos filhos e mulher é bonita demais para correr o
risco de sofrer rabiscos e rasuras.
Afinal é bem isso que as redes sociais podem
provocar. Deformações num cenário lindo
e digno de muito respeito.
As famosas Fake News não respeitaram as
eleições presidenciais, não respeitam celebridades e nem mesmo tem preservado a
saúde pública, já que dicas de emagrecimento e outras interferências
irresponsáveis já provocaram aumento de doenças e outras tragédias em menor ou
maior grau de prejuízo.
Imaginem o que não pode fazer em vidas tranquilas e
pacatas que simplesmente querem continuar sua trajetória natural.
Daí eu me adiantar escrevendo essas linhas sobre
“nós”. Isso mesmo. Sobre mim e os amores
de minha vida. Um aceiro para evitar que chamas indesejáveis atinjam a
plantação.
A FINITUDE DAS COISAS
Muita gente já compra um carro pensando no seu
potencial de comércio na hora de se desfazer dele.
O mesmo talvez aconteça quando pessoas com esse
pensamento adquirem um bem imóvel.
Passagens aéreas de ida também são pensadas com
relação às opções de retorno antes de serem confirmadas.
Também, ninguém quer assinar um contrato e ficar preso
na hora de desfazê-lo ou transferi-lo para outro responsável, o que sugere
pensar no seu final antes de subscrevê-lo.
Pois é. Em muitos casos, pensar no fim é importante
antes da decisão inicial. Principalmente quando essa decisão é séria e seus
efeitos vão perdurar por muito tempo.
No entanto, embora o número de divórcios seja enorme e
a separação já não seja complicada do ponto de vista jurídico, eu acredito que
pouquíssimas pessoas se casam pensando em quando ou como o casamento vai
acabar.
O sim do matrimônio é algo profundo demais. Há testemunhas, um ritual (civil ou
religioso) e um componente que não há em qualquer outra relação de negócios
como as expostas. O amor.
Instituído num passado remoto, ainda pelas tribos
nômades, o casamento é uma das tradições mais antigas da humanidade.
As mudanças históricas o marcaram e o transformaram ao
longo do tempo. A maior influência veio
do cristianismo, mais particularmente do catolicismo, onde seus líderes visavam
proteger os interesses das coroas aliadas à Igreja.
Os primeiros modelos de casamentos, contudo, surgiram
bem lá atrás, nas comunidades tribais para impedir que os grupos familiares ou
de afinidades se desfizessem, o que incluía mesmo o casamento entre irmãos ou
primos.
Mais tarde, os anglo saxões passaram a utilizar desse
expediente (o casamento) para estabelecer alianças importantes e relações
diplomáticas entre seus países, reinos e terras, protegendo interesses
econômicos ou políticos.
O casal era então o que menos importava e quase todos
os casamentos eram infelizes, sem amor ou fidelidade, alguns dos quais celebrados
entre adultos já velhos com crianças inocentes.
Horrível e incrível, né? Mas costumeiros
e bem aceitos por toda a sociedade da época e sob as bençãos de Bispos e Papas.
Sua indissolubilidade era fundamental para evitar que
esses casais infelizes se separassem pondo fim ao “pacto” entre coroas. E de novo, a Igreja foi essencial para
garantir isso, estabelecendo regras de alta condenação aos “infiéis” que decidissem
pôr fim à essa avença consubstanciada na união conjugal. Uma “ofensa direta
contra Deus”, pregavam.
Só no século 15 começou a discussão em torno da
dissolução dos casamentos que passou a ser parcialmente “aceita”, ainda que com
grande restrição e preconceito.
Cerca de 300 anos depois, o casamento começou a deixar
de ser ato exclusivamente religioso e independente de crenças ou inexistência
dessas. A união civil passou a ser praticada em algumas sociedades, sem qualquer
vínculo religioso.
Se formos avaliar, ainda hoje, a discussão em torno da
instituição casamento, seus formatos e sua eficácia, persiste sem muito
consenso.
Ninguém ignora o “bafafá” que gira em torno do
casamento homoafetivo em algumas regiões do planeta e até de nosso próprio país.
E devemos sempre lembrar que a hipocrisia nunca deixou
de estar presente na relação matrimonial, mesmo das melhores famílias ou
coletivos de alto nível social.
Parece até que, quanto mais posses na família ou
sobrenome de peso, menos feliz ou verdadeira é a união.
Sabemos muito bem que sempre houve grandes casamentos
de fachada. Seja para “encobrir a barriga”
de uma gravidez não planejada, seja para ocultar a homossexualidade de um dos
cônjuges. Tudo para perpetuar um “bom”
nome ou herança.
Por toda parte também há quem dê mais importância às
músicas, decoração ou fotos, enfim à cerimônia, do que ao próprio futuro do
casal e ao compromisso que estão assumindo.
Não raro, esse tipo é mais presente entre gente de
classe média que sempre sonhou em ascender a outra condição na escala social. Por isso querem encenar a entrada triunfal
rumo ao altar, como nobres se aproximando de um trono. Mas quer saber? Isso já está meio que caindo por terra. Nem todo mundo pode mais se dar a esse luxo. Cerimônias
de casamento costumam ficar caríssimas e quase inviáveis para grande parte das
pessoas.
Graças a Deus, pois maior que esse teatro é a firme
aliança entre noivos e seus familiares mesmo que celebrada em um quintalzinho
simples da periferia.
Na minha opinião o que o casamente realmente tem de
bom é a possibilidade de reunir duas almas que se querem bem, encontram lógica
em construírem juntos um futuro e constituir uma família estruturada material e
emocionalmente.
Assim, quem celebra em público ou intimamente essa
decisão, na maioria das vezes, deve ter esse desejo e propósito e tão somente
isso.
Ao contrário de décadas passadas, ninguém se casa mais
só pra fugir de um pai ou mãe repressores, morar junto com alguém que goste ou
justificar qualquer outra questão.
AS NOSSAS ESCOLHAS
Quando conheci Caroline, em final dos anos 80s,
encontrei alguém com sonhos, ideias e pretensões muito próximas as minhas. Por isso o namoro se prolongou. E foi firme, diário e concreto até seu termo
10 anos depois quando decidimos nos casar de vez. Até então, uma única briga
séria nos tinha afastado por 30 dias.
Era uma relação bem normal entre adolescentes. Daquelas em que ambos se veem todos os dias,
contrariando os pais e irritando os amigos num grude “insuportável” para quem
não está apaixonado e divide o mesmo espaço.
Mesmo assim, sempre soubemos de nossas pretensões nada
confluentes no futuro. Que em algum
momento nossas vidas tomariam rumos diferentes.
Caroline mesmo, sempre me contou seu sonho de morar no exterior e pasme,
não em um lugar fixo. Mas que lhe
permitisse estar constantemente em trânsito, conhecer o mundo. Se vai ou não fazer isso algum dia, não me
pertence.
Isso só fez aumentar em mim uma grande admiração por
aquela menininha. E esse plano repito,
ela nunca escondeu de mim e nem o perdeu com o passar dos anos. Nem com as conquistas da última década, quando
nossa vida se transformou bastante, colocando-nos mais confortáveis.
Eu, por outro lado, sempre ligado à política, nunca
escondi meu apreço pela militância constante e dedicada. Portanto, estava claro que após a família
criada e constituída, começaríamos a dar nossos passos em direção, cada qual,
ao seu projeto.
Realizá-los era e é secundário. Planejar e sonhar isso
é que sempre foi legal. Afinal de
contas, o mais gostoso da viagem é o percurso.
Enquanto juntos, sob o mesmo teto, o que já perfaz 30
anos, eu e ela celebramos demais nossa união.
Vivemos a construção diária de nosso lar, morando em casas sempre
agradáveis e calorosas, mesmo quando não luxuosas ou grandes, mas que nunca
compramos por motivos óbvios.
Geramos lindos filhos.
Por nós dois foram, são e serão sempre extremamente amados.
Os criamos com ótimos princípios, embora trouxessem,
eles próprios, características e caráter lindos.
Nunca deixamos de imprimir-lhes na personalidade o
gosto pela busca contínua de conhecimentos, o apreço às artes e a ciência, as práticas
da retidão e o amor incondicional à humanidade em todas as suas formas.
Sempre juntos, como pai e mãe que seremos eternamente,
estaremos ao lado de cada um dos três, mesmo que distantes ou já donos de si
por completo.
Ao mesmo tempo, fomos edificando um belo castelo.
Erguemos com trabalho e afinco, tijolo a tijolo, sem
esmorecimento e repletos de coragem, um sólido negócio.
Sempre com apoio de amigos, sócios e colaboradores ao
longo do tempo, enfrentamos dias difíceis, situações assustadoras e momentos de
grande provação, que incluíram até doenças.
Hoje, ao olharmos para traz, podemos nos dizer
realizados quanto à vida profissional, ainda que pese não termos, nenhum dos
dois, seguido de fato a intuição ou aptidão de cada um. Ela a medicina, eu o jornalismo. Nos formamos
juntos em Administração Pública, o que acabou por ajudar.
Como parceiros amalgamados nas ideias, Carol e eu
permaneceremos à frente de cada uma das empresas que compõem o grupo, ao lado
de Edinilson, cuja força tornou possíveis as maiores tacadas.
Ele aliás já era amigo de Caroline antes de eu a
conhecer, sendo hoje, meu amigo especial, sócio e irmão que comigo e com ela,
divide o peso e a alegria dessas realizações.
DIAS DE DECISÕES
Quando completei meus 50 anos, no ano passado e Caroline
“sua idade atual” (nunca se revela a idade de uma mulher a ninguém), enfim nos
pusemos a pensar e a projetar os próximos passos de nossas vidas.
Conforme planejado, conquistamos nossa cidadania portuguesa
e por um ano inteiro, seguimos dando andamento aquilo que sabíamos não poder
mais ser adiado.
Assim, fomos todos, nós e os filhos, novamente a uma
viagem à Europa, dessa vez de 21 dias, para avaliarmos uma porção de detalhes. Dentre eles a possibilidade ou não de manter
um ponto de apoio e porque não dizer, um QG por lá.
Ficou bem certo que ela seria a precursora a levar
para além do Atlântico, as marcas que nos sustentam hoje no Brasil.
Ora, nada mais correto que começar a jogar sementes de
um negócio vitorioso aqui, para que continue seu crescimento também no
exterior. Além de tudo é questão de reforçar a solidez, segurança e proteção
aos nossos parceiros. Eles, os
franqueados, verdadeiros aliados e envolvidos em nossa odisseia.
A escolha do país se reforçou na nossa ancestralidade,
no mesmo idioma que falamos e se baseou, sobretudo, a uma oportunidade gritante
de Mercado a se explorar.
Pesquisas demonstraram o quão propício está o Mercado
português ao nosso formato de operação.
Não nego, no entanto, que nossa escolha considera
também o fato de sermos empurrados por uma política desinteressante praticada
pelo atual governo brasileiro e que não nos representa.
Ainda que mude, o que sinceramente espero, poder dar a
meus filhos as condições objetivas de viver em outra terra me alivia.
Uma vez decididos era então preciso explicitar,
principalmente aos mais íntimos, pais, demais familiares e amigos, o que estava
por vir.
Uma separação que ocorreria com data marcada, só que sem
brigas entre nós, sem ódio, sem que nada de errado tenha sido feito por
qualquer um dos protagonistas. E com a manutenção de uma parceria quase
celestial.
Nem todos são capazes de compreender isso. Fato.
Apesar de não precisar, seria bom também explicitar
aos conhecidos, colaboradores, parceiros e outros, o porquê dessa decisão, até
para não correr o risco da situação ficar à mercê das interpretações.
Interpretações essas que podem machucar ou macular uma
comunhão maravilhosa de duas almas.
Se optamos no passado ao casamento público, sujeitar
seu encerramento da mesma forma ao conhecimento geral é no mínimo adequado e
respeitoso.
Principalmente quando marido e mulher partilharão o
trabalho, os filhos e os projetos arrojados de uma internacionalização. Sobretudo quando permanecem muito amigos,
cumplices e solidários em todos os campos de suas vidas.
Sócios até mesmo em alguns projetos pessoais.
Não se pode permitir invasão da privacidade além do
desejado e nem consentir que cizânias sejam plantadas, por quem quer que seja,
para corroer a confiança que norteia nosso futuro. Antecipar-se então parece ser a melhor
maneira de evitar tudo isso.
Arrojada, Caroline organizou uma festa de
despedida. Seu “bota fora” para
Portugal. A princípio sem revelações mais
íntimas. Com explicações apenas
sussurradas aqui ou ali.
A festa contribuiria muito para os passos seguintes.
Por isso o convite a familiares e amigos mais próximos.
Na sequência, a viagem sozinha e demorada de 30 dias
para Portugal que visava preparar terreno e arquitetar o passo a passo para o
início do plano.
No seu retorno, trouxe a lição de casa e juntos
começamos a execução do projeto. Em sua bagagem de volta, análises, planos de
negócios e o mais importante, contratos que deverão ter início de vigência
imediato.
Agora, o desfecho.
Mudar-se para outro endereço e começar sua vida de peregrina, sem as
amarras do casamento e permitindo aos meninos, um desapego, sem diminuir-lhes
carinho e afeto.
Não há mais volta.
Sua rotina, bem como a minha e de meus filhos, estão violentamente transformadas. Mas a solidez emocional de todos está
assegurada, garantida pelo planejamento que traçamos todos juntos e as claras.
Carol agora viverá de maneira itinerante, lá e cá,
além de buscar novos portos onde fincar nossas bandeiras. Até chegar um momento, que não voltará mais,
salvo para matar saudades de sua terra natal e daqueles que ficarem por aqui.
Mas por onde andar, fincará as bandeiras do grupo, de
suas tão sonhadas marcas e caberá a nós segui-la nesse desafiador caminho,
erigindo escritórios e sucursais mundo afora.
Deus assim o permita.
A mim, cumpriu o dever de ao lado de meu sócio e da
estrutura matriz, reforçar a raiz e permitir esse crescimento consciente e
sustentável mundo afora de nossas marcas.
Dois de meus filhos já estão comigo e até o pescoço nessa tarefa.
Como sempre quis, em paralelo, vou retomar minha
atuação nas fraternidades e partidos políticos que nunca deixei de fato, mas atenuei
por anos. Vou recomeçar o mais audacioso
projeto de crescimento cultural, intelectual e político que jamais ousei
finalizar.
Não que a vida a dois o impedisse, mas sobrará ainda
mais energia. E que fique claro, o
incentivo maior veio de minha companheira de sempre com quem manterei a mais
estreita e leal amizade.
E AGORA JOSÉ?
Como em todos os casos parecidos, os amigos bons torcerão
favoravelmente, mesmo que pensem diferente.
Os que nos amam de verdade, darão sempre sua cota de contribuição em
preces, ombros e mesmo presença constante em nossas vidas.
Já os curiosos, aqueles que existem por toda parte, mas
que nem por isso são maus ou dispensáveis, ficarão pensando:
Será que vai dar tudo certo para vocês?
Será que seus caminhos (meu e de Caroline) vão
permanecer entrelaçados para sempre?
Como ficarão seus filhos?
E com muito respeito e gratidão pela preocupação que
sei ser sincera, respondo com tranquilidade, acreditando que Caroline concorde
com cada palavra minha:
Tudo dá certo quando realizado com vontade,
perseverança e competência, pilares que nunca faltaram a mim ou a ela em
qualquer empreendimento de nossas vidas, sejam pessoais ou profissionais.
Nossos caminhos são irremediavelmente
entrelaçados. Somos almas gêmeas. Amigos antiguíssimos na espiritualidade. A
felicidade de um é o que mais interessa ao outro. Nada e ninguém nos pode separar os
corações. Ainda que vivamos em
continentes diversos, ou que um ou outro resolva unir-se a outro alguém em um
novo relacionamento, a forma correta e sincera com que tudo se processou até
aqui jamais implicará no final de um grande e verdadeiro amor.
Já nossos filhos ficarão onde sempre estiveram. No centro, princípio e finalidade de
tudo. São os frutos muito amados de nosso
amor incondicional. O elo que nos une
indissoluvelmente nessa e em qualquer outra dimensão.
Juntos e misturados, morando unidos ou em separado,
somos e seremos uma linda família.
Quando o divorcio ocorre antes ou sem experimentar o
fim do amor, evita que os deslizes, ódio ou decepções possam destruir as
chances de uma história linda e que dure para sempre entre os dois.
Será que tudo ficou bastante claro?