sábado, 28 de abril de 2012

As muitas vidas do videogame


Meus filhos estão fissurados em tecnologia. 
X-box, Tablit, Notebook, celular.  Não fazem outra coisa quando estão em casa.

Se vão pra casa de amiguinhos, fico sabendo depois que lá estavam a utilizar tais equipamentos que os colegas também possuem.

Falta de firmeza minha e da mãe em não darmos ou deixarmos este exagero de luzes, cores, sons e adrenalina que compõem os joguinhos e aplicativos dos mais diversos, tomarem conta de suas vidas.  Mais minha é verdade.

Mas como se briga contra a realidade? 

Trabalho em um emprego no qual saio de casa antes das 7h30 e até devido a morar longe, não volto pra casa antes das 20h30, quando cedo. 

Minha mulher também trabalha e fica fora o dia todo, então tentamos suprir nossa ausência com atividades extras como música, esporte e uma escola séria que toma conta de boa parte do dia dos meninos.

Resta-nos a noite para conversarmos, dedicarmo-nos a uma boa leitura, quando muito cansados um filme juntos, mas este seria o mundo perfeito de Walt Disney.

Pois o fato é que todos, todos os cinco, cansados pelo dia alucinante, queremos nos recolher a nós mesmos e ao invés de tarefas coletivas, nos damos o direito de nos fecharmos na leitura de e-mails, facebooks, programas vazios na TV que cada um assiste em separado ou mesmo ao cochilo no sofá.

Assim, as crianças, por exclusão de opções, dedicam-se ao que fazem muito bem.  Jogar e jogar.

Não teria nada demais, se não fossem algumas questões:

a)     Desligamento total da realidade e alienação;

b)    Prática estressante que dissolve energia e vitalidade, enquanto agride o organismo com excessos de adrenalina e outras substâncias;

c)     Banalização (simplificação e normalização) de agressividade, terror, palavras de baixo calão, erotismo e outros componentes presentes em boa parte destes joguinhos vendidos até em padarias.

Tem também a falsa ideia de eternidade e imortalidade provocada pelas inúmeras chances ou “vidas” que o protagonista possui ao tentar isso ou aquilo, matar e lutar, destruir-se e começar de novo.

Não seria esse último problema uma forma de dizer aos dominados viciados no videogame que tudo é permitido, pois qualquer coisa basta “resetar” e lá estão de volta?

Queria muito ouvir a opinião de psicólogos.  Mas uma opinião concreta e formada, pois outro dia, vendo um debate entre profissionais da área na TV, enquanto um dizia que o jogo era anti estressante, o outro afirmava que era altamente estressante.  Enquanto um dizia que não aumentava a agressividade no adolescente, o outro pregava o totalmente contrário.

Quem poderia me ajudar nisso?

E de posse desta opinião, quem me faria capaz de estabelecer uma regra em casa, mas efetiva e plausível e não “faz de conta” como naquelas famílias de pentecostais que não permitem aos filhos ver TV, maquilar-se ou trajar isso ou aquilo e o que mais vemos são jovens oriundos destes berços vendo TV na casa dos amigos, meninas se maquilando no trabalho e se limpando para voltar para casa etc.? (Tinha uma amiga qdo. jovem que ia de calças compridas ou bermudas na escola, mas antes de chegar em casa passava no shopping ou outro lugar para se trocar e colocar saia até os joelhos para não contrariar os pais).  Mentia pra eles e sofria bastante num mundo onde o vestir tem importância quase zero se compararmos com as informações recebidas 24 horas pela mídia e outros meios.

Não quero criar pequenos transgressores que mintam para mim ou façam coisas pelas minhas costas.  Não quero criar crianças que terão menos assuntos para tratar com os amiguinhos nas rodas de discussão nos intervalos da escola.  Alienígenas que jamais serão intelectuais só porque eu quero ou sonhei.

Mas tudo me parece exaustivo e sem saída, até por ter chegado onde chegou. 

Sinto às vezes a vontade de que a vida fosse como um desses joguinhos em que, ao errar o caminho, simplesmente começamos de novo “startando” outra vidinha.

Um comentário:

  1. Caro amigo Carlinhos, bom dia!
    Costumo dizer que criar filhos é o maior dos desafios que os pais podem ter. E é mesmo, porque sofremos muito para educá-los seguindo a nossa ética de comportamento, tentando impor neles o mesmo tratamento que a nós foi imposto pelos nossos pais.
    Hábitos, costumes, manias, vícios, mudam de tempos em tempos. Chegamos na era onde a avançada tecnologia colabora com com o homem em várias áreas, porém também traz em seu bojo a praga do narcisismo, do individualismo, da alienação. Máquina e o homem se duelam horas a fio, na certeza de que não haverá um vencedor, apenas um tempo de descontração e lazer.
    Contudo, o exagero de tempo nessa brincadeira excede e aí surge o risco. Como agir nessa hora com os filhos ? A experiência e o bom senso dos pais devem prevalecer e sinalizam que tudo tem um limite. Sem limites, certamente, teremos filhos problemáticos.
    Não há motivos de autoritarismo, afirmo apenas da importância da hierarquia de pais coerentes que desejam o melhor para o desenvolvimento da personalidade dos filhos. Os pais é que devem nortear a conduta dos filhos, criando regras que precisam ser respeitadas, mesmo que isso leve um tempo porque a rebeldia dos pequenos é natural.
    Criança tem que extravasar a sua adrenalina com outros tipos de lazer. A prática de esportes é uma delas, a música é outra e a leitura complementa as demais de forma saudável. É díficil mudar hábitos? Claro que é. O esforço conjunto de pai e mãe para alterar esse quadro tão comum entre os jovens de hoje é uma tarefa obrigatória, senão o tempo se encarregará de fazê-lo não da forma que os pais desejaram. Aí pode ser tarde e os dois lados arcarão com as consequências que poderão ser irreparáveis.
    Existe uma fórmula mágica para resolver esses conflitos entre pais e filhos? Não creio, mas acredito na história da semente plantada em solo fértil, adubada de tempos em tempos, regada todos os dias e corrigida enquanto cresce seu tronco. Aparando os seus galhos que às vezes teimam em fugir do nosso controle, certamente essa árvore dará bons frutos.
    Abraços do Zé Antonio.

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