quinta-feira, 7 de março de 2024

Ser uma nova versão.


Muitas vezes eu me ponho a aconselhar pessoas.  Desde os filhos, companheira, amigos e até quem não pede conselho algum.

Feio isso, né? Além de irresponsável de minha parte.

Não sou guru, filósofo, cientista e muito menos profissional do ramo psicológico. Tampouco milionário ou famoso. Com que moral ou autoridade eu resolvo que posso dar palpites?

Contudo, penso eu, pode ser que esse hábito seja resultado de uma vida de muitas experiências boas e que externá-las me dê mesmo muita satisfação. E claro, se isso de fato ajudar alguém, tanto melhor. Caso contrário, basta desprezar e pronto.

Pensando assim, prossigo para ressaltar algumas coisas que realmente me fizeram ou estão me fazendo uma pessoa melhor. No mínimo causando impacto e promovendo comportamento diferente, geradores de resultados novos e, no meu caso, apreciáveis.

Tudo começou quando descobri o quanto eu estava me diminuindo e empobrecendo minha autoestima.

Desde a postura com a qual me sentava em uma cadeira pra conversar com alguém, até meu modo de andar, estavam revelando minha decadência, o peso sobre os ombros de ter falhado, caído, desanimado ou fracassado em alguma coisa.

Certo que havia motivos pra eu me sentir daquele jeito, mas exibir com tamanha competência os resultados negativos, era demais. Desnecessário até.

Então comecei a prestar a atenção.  A ocupar mais os espaços onde estivesse.  Andar ereto, sentar-me mais elevado e erguer a cabeça sempre.  Incrível como modifica até o olhar do interlocutor, além de nos deixar mais bonitos e altivos. Chega a aumentar a confiança e a credibilidade na gente.

Creio que só esse procedimento pode alterar os resultados de uma negociação e favorecer a conversa.

E para além da postura física, relevante se faz também cuidar da comunicação.

Reclamar e justificar o tempo todo são atitudes tão “broxantes” para os outros, quanto o que lhes causa quando vivemos a olhar pro chão ou andar curvado.

Ninguém na face da Terra, por mais que nos ame, quer ficar ouvindo nossas lamúrias, problemas e dores.  Certas pessoas podem até suportar por algum tempo, se condoer ou se emocionar.  Mas em sã consciência, quem quer gastar energia, ficar triste ou abalado pelos revezes de alguém?

Reclamar e murmurar não resolvem, aprofundam os problemas e criam uma atmosfera de desesperança, tristeza e desânimo contagiantes.

Se alguém perguntar como vai a vida, a melhor resposta, ainda que talvez não totalmente sincera, será dizer que vai muito bem, graças a Deus. Até pra que passe a ir.

Mesmo os insetos são atraídos pela luz.  Então, que possamos brilhar ao invés de turvar, obscurecer ou lançar trevas sobre as demais almas.

E se reclamar é feio, ficar apontando culpados para todos os nossos erros ou infortúnios é trágico, além de cruel e injusto.

Traz mais admiração para alguém quando assumimos nossas responsabilidades, do que quando nos esquivamos delas com desculpas amarelas. 

Trocar o buscar culpados por encontrar solução, será de fato o melhor caminho.

Agora atenção!

Substituir a reclamação e o andar cabisbaixo pelo autoelogio, pelo muito falar de si é ainda mais desprezível.

Pessoas que precisam ficar exaltando suas qualidades, geralmente são inseguras, pouco humildes e desacreditadas.

Arrancamos elogios reais quando nossas ações dão testemunho de nossas qualidades, não quando falamos sobre elas.

É lamentável assistir pessoas que precisam exaltar seus talentos e feitos para merecerem algum respeito. 

Aliás, falar demais não favorece.  Ouvir mais que falar, eis o segredo que vale milhões e tão pouca gente consegue praticar.

Quando falamos muito, principalmente sobre nós mesmos, acabamos por revelar o que mais queríamos esconder.

Isso me lembra quando, ainda moleque, tinha que contar alguma “lorota” para meus pais afim de me livrar de repreensões.  Justificava, explicava, voltava, falava e com toda essa insistência, acabava por deixar explicitada minha culpa.

Não seria ótimo ser reconhecido como uma pessoa que não mente, não reclama, não critica, sabe escutar e exala gentileza até quando está em silêncio?

Quero ser essa pessoa.  Estou lutando muito para isso. 

Quando me pego aumentando ou diminuindo uma virgula em algo que estou comentando, na mesma hora me desminto, mesmo correndo o risco de ficar patético.  Que mania de enfeitar as coisas que alguns de nós tem, né? Isso já quase não me pertence mais.

Não se ganha empatia ou simpatia por tornar alguma coisa mais completa ou complexa do que na realidade é.  Basta a verdade pura.  Ela, por si só, já é extraordinária.

Até por isso, passei a escolher melhor meus pensamentos.

Pensamentos viram palavras e palavras se tornam atos.  Então já mato na mente quando algo ruim aparece.

Uma dor, um incômodo físico, uma chateação, uma preocupação ou problema que surjam, dou um jeito de rejeitar imediatamente e substituir por algo melhor, animado, positivo. Nunca admirei ninguém que fosse negativo, pessimista, acovardado.  Tenho, ao contrário, profundo respeito por pessoas positivas, motivadas, que tem brilhos nos olhos.  Por que então logo eu tenho que ser o inverso disso?

Já me basta ser um cara que se sabota sempre que as coisas parecem dar certo.

Não sei se pensava que não merecia desfrutar algo bom, mas era só as coisas começarem a dar certo, eu desistia, abandonava ou achava um jeito de arrumar defeito.

Ia à academia e bastava ficar mais bonito, disposto, que logo desanimava e faltava, até abandoná-la.  Começava um livro bom e era só me interessar muito pela narrativa e crescer com ela, para criar preguiça de continuar a leitura.  Inclusive ganhar dinheiro.  Era ganhar algum extra para logo em seguida gastá-lo sem cautela, ficando na mesma hora sem ele.  

Hoje, virei um desafiador de mim mesmo.

Quando um pensamento ameaçador vem pra me desanimar ou fazer desistir, dobro a aposta.

“Ah, tá com sono?  Então ao invés de dez, agora vai ler vinte páginas para só depois dormir.” Ou então: “Ah, tá com preguiça de ir à academia de segunda, quarta e sexta?  Então amanhã que é quinta, vai também.”

Depois que comecei a me penalizar desse modo, parei de me sabotar.

Quer saber?  A gente não precisa se depreciar.  As pessoas, sobretudo as mais próximas e claro, sem maldades e não de propósito, nos lembram o tempo todo de nossos defeitos.

Você já deve ter ouvido frases como:

“Você nunca termina o que começa.”  Ou então: “Olha pro fulano, como consegue realizar tudo o que se propõe a fazer.”

Hoje eu simplesmente sou o exemplo de mim mesmo, pois ao invés de pensar nos outros e no que os outros avaliam de mim, tento me superar a cada dia com relação a mim mesmo no dia, semana ou mês anteriores.  E isso tem provocado resultados incríveis em diversas áreas de minha vida.

Não me deixo abalar pelo medo, pelo risco de ser ridicularizado.  Gravo vídeos que, bonitos ou feios, são vistos e espalhados.  Escrevo textos que, lidos ou não, me servem de roteiro diário.  Me declaro, arrisco, ouso.  Ninguém vai juntar meus cacos além de mim, então porque economizarei ao me “jogar” em algo? Se quebrar, conserto.

Outra coisa é quando aparece o medo, a vergonha ou algo que possa me limitar. De novo, dobro a aposta. 

“Ah, quer dizer que acha que vão rir do seu vídeo? Então agora vai compartilhar no Instagram, Facebook e mandar para alguns no Whats App.”

Parece desaforo de criança, né?  Mas funciona.

É porque não adianta eu focar na insegurança.  Se meu cabelo está raleando, ao pensar nisso em uma festa ou ambiente, vou me sentir feio e mesmo se vestido com elegância, estarei mesmo feio, pelo menos pra mim. Melhor desprezar o que não tem jeito ou solução, aceitando-o com naturalidade e colocar mais peso no que dá pra valorizar. Me sentir bem vestido, ao invés de bem penteado, me fará mais confiante e consequentemente, mais bonito.

Todos já estamos familiarizados com postagens que mostram gente passeando, sorrindo, se beijando, dirigindo um belo carrão, quando muitas vezes estão em uma vida horrível.  Sozinhos, tristes, sem aventura alguma.

Essa necessidade de disfarçar a realidade faz parte da mesma insegurança de quem abusa nos filtros ou no excesso de justificativas para se mostrar o que, ou quem não é de fato.

Resumo, não adianta.

Tá certo que não tem cabimento postar coisas ruins, como que mostrem a geladeira vazia, ou a espinha inflamada no rosto.  Mas já vi postagens de gente, na frente de um carro que simplesmente estava na rua e não lhe pertencia.  Pergunto: pra quê? Pra quem?

Nunca vai adiantar.  Como diz o ditado: “o sucesso elogia em silêncio enquanto o fracasso chicoteia gritando.”

Sem falar que mostrar muita felicidade e conquistas de maneira tão ostensiva, pode provocar, mesmo em amigos preciosos, sentimentos nada apreciáveis de inveja, ciúme, incômodo, que não precisavam existir.

Fácil falar, difícil fazer.  Quem de nós ao estar com quem ama, não quer registrar o momento?  Ao conhecer um lugar lindo, ou mesmo realizar uma conquista importante, quem não quer comemorar com todo mundo?

Basta entender que há consequências e tudo bem.  E que ao ver as “comemorações” alheias, também se precisa levar em conta que possam ser um pouco além do que representam de fato, para não nos abalar, se somos fracos ou temos problemas emocionais graves.

Em resumo, não precisamos provar por postagens que temos estilo, bom gosto, dinheiro ou um(a) bom(a) companhia.  Basta vivermos isso. 

Quando temos dinheiro, dizia minha avó, até o cheiro da gente delata essa condição.  Com dinheiro, ninguém liga pros nossos erros de português, pra cor do nosso sapato ou pro volume de nossa fala. 

Pois bem.  Estou tentando viver essa nova versão.  A versão de alguém que deseja ser grato, desafiador, persistente e sobretudo jovial.

Antes me preocupava muito com minha idade, até perceber jovens de 29 anos que se mostravam com 80 anos na prática.  Me preocupava em levar "nãos" e foras, até perceber que eu era a melhor opção, na maioria das vezes para aquele cliente ou pessoa. Me preocupava em ser julgado pelos meus resultados, até perceber que saldo bancário não diz quem sou de fato e nem mostra aonde posso chegar se eu quiser mesmo.

Continuo tentando, todos os dias. Essa briga por ser uma “melhor versão” está longe de acabar.  E quer saber? Ainda que eu não consiga ser o leão que espero ser, aquele gatinho tímido e franzino que eu era, jamais serei novamente.

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