Esse parece-me ter sido o ano de 2020. Um crepúsculo. Mas já que estamos no seu termo, pergunto o que virá pela frente? A noite ou o amanhecer?
O mundo viveu assustado, bagunçado, atordoado durante o ano todo diante da pandemia da COVID19. Cidades vazias, comércios fechados, economia decadente, pessoas doentes e morrendo todos os dias. Governos confusos, autoridades desencontradas. Cientistas ora eufóricos, ora decepcionados.
Claro, ninguém saiu ileso. Crianças fora da escola, professores se adaptando a uma nova regra para ensinar. Viagens proibidas, agendas canceladas por toda parte. Fronteiras fechadas. Jovens completando sua adolescência afastados dos amigos e baladas. Adultos tendo que trabalhar de casa enquanto assistem o crescente desemprego, disfarçado pelas mentirosas estatísticas que querem confundir propositalmente o subemprego e a semiescravidão com trabalho de verdade. Idosos reclusos longe dos netos, dos filhos, das praças. Hospitais lotados, cemitérios com valas escancaradas e agentes de saúde exaustos.
A mim que já tive filhos, escrevi um livro e plantei muitas árvores, parecia não restar mais nada a experimentar. Mas esse foi, sem dúvidas, um ano de muitas novidades.
Particularmente eu as vivi intensamente. Recém saído de um relacionamento de 30 anos, vi ao mesmo tempo minhas empresas, uma delas de 25 anos, iniciarem o enfrentamento de uma crise sem precedentes, até ter que abrir mão de uma delas e já preparar mudanças drásticas para não perder as outras duas. Iniciei um novo relacionamento, apesar de no início eu achar que conseguiria ficar sozinho. Me fechei em casa com meus filhos na fase mais dura da quarentena, sem sair para quase nada. Vi meu pai no começo de uma batalha contra o câncer pra manter sua saúde, com apoio de minha mãe e meu irmão, que deixou seus afazeres no sul para ficar o outono inteiro recluso a cuidar deles. Enterrei alguns amigos e por fim, protagonizei um processo eleitoral pesado como candidato a prefeito de minha cidade, na coroação de uma militância política de longa data.
Será que para mim ou para o resto do mundo sobraram emoções para o ano que vem? Com certeza sim.
Creio que em 2021 vamos vencer finalmente o vírus e presenciar o início da recuperação econômica em todo o globo. Vamos continuar, pelo menos no Brasil, a luta contra o fascismo e autoritarismo disfarçados que se instauraram no país aos poucos a partir de 2015, até seu auge em 2018. As urnas demonstraram que as pessoas estão acordando para esse grande perigo do qual vamos, sem dúvidas, nos livrar em 2022.
Nas minhas questões pessoais já estou renovando as forças para o que sempre fiz de melhor: recomeçar. Tenho planos e projetos audaciosos não só no universo profissional, como também político, que no fim dão quase no mesmo já que minha formação acadêmica é Administração Pública. Mas pra isso, tenho que pensar bem nesse cenário diferente. O fundamental, seja macro ou micro, está na forma como vamos começar a viver essa nova década.
A pandemia antecipou o futuro. Profissões novas batem às portas. Outras estão simplesmente se dissolvendo. Já se vive a realidade sem volta do home office. As compras pela internet cresceram tanto que devem, por consequência, diminuir os clientes e tamanhos das lojas físicas. Os shoppings deverão se transformar em áreas de várias outras ocupações que não somente o comércio.
Os serviços públicos deverão se tornar mais ágeis, completos, inclusivos, abrangentes e inteligentes. E mesmo a prestação de serviços privados, será ampliada com uso cada vez mais comum do bot (inteligência artificial).
Aulas remotas devem continuar ainda por um bom tempo e mais pessoas realizarão "lives", reuniões pelas telas do computador e celulares, o que indica que o 5G deve chegar com tudo.
Os cuidados permanecem na ordem do dia e em muitos lugares as festas já estão canceladas. Pelo jeito viveremos em um mundo provisoriamente sem natal, ano novo e carnaval.
Quem quiser se manter vivo terá que usar permanentemente máscaras que além de temáticas, devem ser confortáveis e antialérgicas. As aglomerações continuarão impedidas e as salas de danças, espetáculos e reuniões, para garantir o "não extermínio" de boa parte de nós, deverão se adaptar pra valer. A segunda onda chegou. Já é inconteste realidade e pode ser devastadora se não dermos a devida importância.
Como se vê, estamos diante de impasses e possibilidades para o bem ou para o mal ao mesmo tempo. É por isso difícil definir se o crepúsculo que vivemos agora anuncia a luz do amanhecer, ou as sombras da noite.
Quem viver, verá.'
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