segunda-feira, 23 de março de 2020

Ainda sobre o agora e depois.

Para que não haja qualquer confusão ou equivoco com relação ao que escrevi anteriormente, preciso esclarecer alguns pontos.
O confinamento é tão desigual quanto o dia a dia normal das pessoas.  Claro, em uma sociedade desigual como a nossa.
Ou seja, há uma grande diferença entre ficar em uma casa de 400 metros quadrados e em um barraco de 70 metros.  Principalmente porque geralmente quem mora em barracos tem mais filhos que quem mora em casas grandes.
Outra diferença gritante consiste na despensa de uma e outra casa.  Os itens, as quantidades e a qualidade do conteúdo ou a inexistência desse.
Não falei em entretenimento, conforto ou o que o valha, ainda.
Até a distância entre vizinhos implica nos resultados do isolamento. 
Mas a mais cruel diferença está na receita mensal de cada cidadão.
Quem é rico tem poupança, patrimônio e por isso, findo o período de quarentena, continuará rico.  Já quem é pobre, assalariado, poderá perder seu emprego e alguns autônomos ou "se virantes" sequer terão o que comer já de imediato.
Assim, a minha preocupação não está no tédio, na falta de paciência em ficar em casa ou na invasão e esvaziamento dos supermercados.  Está sim na falta de ganho dessa gente toda agora e no porvir quando tudo terminar.
No meu texto, em que falo sim de algumas mudanças de conceitos, na adaptação da experiência de ficar em casa e não sair para a rua, encerro reivindicando a justa manutenção dos menos assistidos por uma "pensão", uma bolsa de sobrevivência fornecida pelo governo. 
Nada parecido, no entanto, com o medíocre "favor" mensal que tanto incomodava as elites e que batizaram de "bolsa família". 
É preciso realmente uma manutenção que dê para alimentar e acalmar essas pessoas sem cortar luz, água e gás.  Sem negar-lhes o acesso à saúde e ao socorro, ao mesmo tempo em que se cuida da fome.
Só faltava eu "achar" que é tudo igual.
Imagine a diferença entre a epidemia em um condomínio fechado e naquele morro onde as casas se confundem, as pessoas se trombam o tempo todo e onde não há entregadores de água ou "de pizza" e ainda que houvesse, não haveria dinheiro para pagar.
Portanto, não me falta sensibilidade, nem clareza da situação.  Mas uma coisa é falar sobre uma decisão governamental correta e necessária (confinamento) enquanto classe média ou rica e a outra é falar do mesmo tema enquanto assalariado, desempregado ou profissional informal.
A sociedade é interdependente.  Resguardar e proteger uns e não outros, tratar da manutenção social de uns e não de outros, respingará em todo mundo e isso é fato.
Espero ter esclarecido.

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