quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Amor, I love you.


Palavras ditas sem muito critério, começam a cair na insignificância.
Não seria nunca o caso de “eu te amo”, se não fosse tão banalizada como ultimamente.  Dita quase em toda parte, por vezes desprovida de verdade, de sentimento real.
A riqueza de nossa língua apresenta alguns detalhes no uso de palavras e expressões. E isso precisa ser valorizado. Por exemplo, no meu entendimento, amar algo é mais que gostar. 
A gente gosta de suco de laranja, mas ama a mulher da gente.
A gente quer bem a um amigo, mas ama a um filho.
Sim, podemos amar o suco de laranja e o amigo, mas amar pressupõem aquele sentimento muito forte que o gostar e querer bem, talvez não exprimam tanto. 
Podemos dizer que amar ao próximo é uma lei.  Não só cristã.  Está presente em muitas religiões e na própria condição humana.
Amar os da própria espécie, devia ser mesmo regra e não exceção. E lembremos, tem gente que ama até os de outra, como quem cultiva um carinho extra especial pelo cãozinho ou gato.
Há quem ame a matéria.  O carro, o dinheiro, o vestido.  Mas acho que aí é aquela situação em que falta entendimento ou do significado da palavra, ou do que é realmente o amor.
Poderia ficar aqui nessa discussão filosófica, infrutífera e muito pessoal.  Mas o fato é que só a produzi para tentar entender a colocação de Bolsonaro.  Equivocada ou real?  Será que ele queria dizer mesmo isso?
Se sim, o que explica o estranho amor de nosso presidente, aliás nosso não, pois não é meu, com relação ao presidente Trump e de certo modo, a tudo que cheire Estados Unidos?
Em mais uma das suas risíveis atitudes, Bolsonaro após esperar por longo tempo o presidente americano na sala G4-200 no prédio das Nações Unidas, teve com ele uma conversa que não superou os 3 minutos.
Mas foi suficiente para marcar.
A Trump, o brasileiro declarou: “I love you”.  Talvez por ser a única frase inteira que conheça em inglês.  Mas talvez, por amar mesmo.  Alguém já pensou nisso?
Já o outro respondeu apenas: “Nice to see you again”.
Realize a cena. 
Uma garota ou garoto dos seus sonhos se aproxima e você com uma produção específica para o encontro, se declara abertamente: Eu te amo.
Como resposta, a insensível paquera solta a fria frase: Bom te ver de novo.
Nem foi ótimo, que bom, excelente, maravilhoso, incrível. Foi apenas bom.  Como puro ato de cordialidade. Bom te ver de novo.
Será que Bolsonaro não se cansa de lamber as botas desses caras?  Será que não entendeu que nosso país precisa de trabalho, realizações contundentes, boas relações com o resto do planeta todo e não só com a Hollywood que ele aprendeu a gostar de tanto ver filmes do Jerry Lewis no passado?
Não está acordado para ver o despencar permanente de sua credibilidade perante seu próprio povo?
Será que não podia ter estudado melhor antes de ler um discurso tão tacanho, tão desprovido de geopolítica, de raciocínio fraterno e coletivo?
Não.  Não podia e não pode.  Goiabeiras não dão maçãs.  Dão goiabas.  E o que ele tem pra oferecer é isso aí.  E sempre foi.  Quem votou nele soube, sabe. Só falta reconhecer.
Temos que aturar vergonha atrás de vergonha, como a que produziu seu filho, logo em seguida, com as mentiras e boatos que espalhou contra a ativista adolescente Greta Thunberg.
Já não temos mais onde enfiar a cara.
Pensa que foi só isso?  Não, teve a apresentação da falsa representante das comunidades indígenas.  Sem falar em todas as críticas dos líderes mundiais desferidas contra nosso descaso ao meio ambiente.
Desde 1947, a partir de Oswaldo Aranha, o Brasil conquistou o mérito e a honra de abrir todas as Assembleias da ONU. 
A Organização das Nações Unidas e seus 193 países membros, talvez nunca imaginou que por conta dessa tradição teria que ouvir uma abertura tão pífia e tão indigna.
Com frases como: “Foro de São Paulo, organização criminosa”. “A Amazônia está praticamente intocada”.  “Líderes indígenas como Raoni são manobra de governos estrangeiros”.  Dentre outras pérolas, o presidente brasileiro demonstrou seu profundo desprezo à verdade e ao bom relacionamento mundial.
É, presidente.  Melhor declarar o amor não correspondido a Trump mesmo. 
Com isso ninguém mais presta a atenção no resto.  Se ocupa em se divertir com mais essa brincadeira de mal gosto e deixa de lado o que de fato devia importar.

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