terça-feira, 21 de agosto de 2018

Meu Tio Antônio






Os estudantes





Toda a vida que encerrava em seu peito
Liberdade indomável, flor selvagem,
Águas frias são profundas e turvas,
Águas frias de uma triste viagem.

Estrelado era o céu e os pescadores
Testemunham em canoas silentes
Juventude feliz, ébria de amores
Se apagando como estrelas cadentes.

Na tristeza deste vale de lágrimas
Destas almas a queda, faltou sorte
Todos sonhos da vida se desfazem
Traz a marca de um abraço da morte.

Do desterro uma mácula estampada
Retirado do sonho a profissão
Partiu jovem, feliz e coroado
Desbotado na volta o coração.

No desfecho diz adeus à elegância,
Amparado foi pela hábil mão
De seu corpo à limpeza se entregava
Balouçando ante o frio da ocasião.

Dos degraus na descida a cantoria
Melodia de itálica canção
Na subida o som fúnebre se ouvia
Conduzido sobre os ombros do irmão.

Se mistura essa dor a tantas dores
Deste Réquiem coletivo às paixões.
Infortúnio das mães junto a seus filhos
Agarradas nos tampos dos caixões.

Som dos sinos, um tétrico cenário.
E a mãe diz adeus à flor selvagem.
Junto ao peito o seu filho só levava
Ousadia e esperança na bagagem.

A flor fina se afoga em turvo rio.
Nobre chama que forjara o seu brio
Que luzia tão altiva a coragem
Se perdeu para sempre na viagem.

Marcelo Gomes – Sobrinho de Antônio Antunes Filho
Morto no desastre dos estudantes em 1960.

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