sábado, 12 de agosto de 2017

Sombras e Luz

Parece inacreditável, mas é real.
A futura Procuradora Geral da República, Raquel Dodge é uma das figuras que visitaram Michel Temer (o não eleito), fora da agenda oficial, às 22h no Palácio do Jaburu.
De fato é um hábito do sinistro ex-vice da república, receber pessoas na "penumbra" para algumas reuniões cujo teor só as sombras sabem.
Temer nomeou Raquel para antecipar publicamente a visão da saída de Janot, cujo mandato se encerra em setembro, com a finalidade clara de enfraquecer as denúncias apresentadas pelo atual procurador contra si.  Denúncias aliás que todos conhecemos, mas que o Congresso que não nos representa insiste em dizer que "não são consistentes".
Contrariando a tradição de nomear o mais votado na eleição interna do Ministério Público Federal, a indicação da nova Procuradora se justifica por este próprio encontro.
Acabou a vergonha e não existe decência, sequer há tentativa de esconder maus feitos.  Escancarou-se de vez, no Brasil, a falta de compromisso com a seriedade.
E o mais estranho é ver que aqueles que bradaram, gritaram, "rasgaram as roupas", encheram praças e avenidas, vestiram a "gloriosa" camisa verde e amarela, além de bater panelas e inflar um ridículo pato, não estão ligando pra mais nada.  Quietos e disfarçando qual "criança cagada".
O que queriam, óbvio, era tirar o PT do governo.  Agora, o resto é resto.  E este resto leva de arrasto o país, as instituições, os direitos trabalhistas e o bom nome que nossa nação amealhou no exterior.
Não consigo ficar silente vendo conhecidos, amigos e críticos vorazes, com postagens ridículas, insensatas, desviarem do foco principal e meio que esconder seu apreço pelo estrago realizado ou fingindo que "não votaram em ninguém".
Sim... boa parte composta por eleitores dos piores partidos como PSDB e PMDB, além de legendas satélites destes, que construíram sua história durante muitos e muitos anos se locupletando do poder.
Do outro lado, eu já fiz coro a alguns companheiros tentando explicar para alguns desentendidos da política como tudo isso começou.
Busquei mostrar que a direita, vendo a "viola em cacos", decidiu deixar que o PT tomasse posse em 2003 para logo em seguida retomar o governo diante da "quase certa" catastrófica gestão, pois assim estava previsto e encaminhado pela criminosa privataria.
O que não contavam é que Lula faria um bom governo e elevasse nossa economia e de brinde, a qualidade de vida das classes menos favorecidas.  Surgiu a preocupação primeira.  "Se estes caras do PT consertarem o país, perderemos nossa grande teta".
Realizou-se então a primeira tentativa de golpe e para impedir a reeleição de Lula, fez-se de tudo.
Nasceu o processo do mensalão, que ao mesmo tempo que evitaria a segunda eleição de Lula, quebraria as principais cabeças do PT eliminando sua possível linha sucessória.  Líderes como Dirceu, Palocci, Genoíno e outros, foram alijados de suas funções e tirados de cena.
Mas, para desgosto destes estrategistas anti-Lula, houve a reeleição e mais um mandato brilhante.  Sem nomes, no entanto, para dar sequencia a um governo "de uma única personalidade", tudo acabaria por ali, acreditaram.  E deixaram terminar os quatro anos.  Afinal, não seria permitida a reeleição.  Mas Lula elegeu sua sucessora.  "Um poste", segundo adversários.  Mas um poste que prosseguiu em grande parte na mesma linha e conseguiu ser reeleita no "mata mata" do segundo turno, quando os projetos são enfim confrontados sem os reflexos de uma oposição diversificada.  E o povo brasileiro escolheu o projeto que queria.  Não só o nordestino, como fez crer a mídia, mas um percentual importante de toda a população que, somado, entendeu o que era melhor para o nosso futuro.
Daí então, já era demais.
Não interromperam o primeiro mandato de Lula, não impediram sua reeleição e ainda por cima, embora desacreditados, assistiram sua sucessão.
"Agora chega" - devem ter gritado, em coro, Serra, Fernando Henrique e o quarto poder.
Por sorte, para eles, apareceu um protesto juvenil contra aumentos de tarifa de ônibus, que cresceu numa "comoção gigante".
Exato.  Sob medida.  Invadindo a "festa", estes abutres tomaram de assalto o microfone das mãos dos jovens.  Montaram uma pauta que foi rapidamente potencializada e injetada na sociedade com o apoio irrestrito da mídia serviçal.  As massas, cuja indefinição ideológica e de classes, não soube entender ou controlar, foram rapidamente envolvidas.
Mas faltava a cereja do bolo.  Viria rápido e na forma de um sangramento do governo, bem planejado e provocado por seus inimigos (deputados e senadores sem favores especiais ou não comprados) e pronto!  Eis o golpe.
Na pessoa do vice, um político medíocre, mas capaz de cumprir um ritual desfavorável pra si mesmo e sua popularidade, em nome sabe-se lá de que, fecharam geral e empoderaram, com ele, uma súcia. Esta, gananciosa e apressada em atingir sua meta, até com certa aflição, iniciou a "toque de caixa" o desmonte das conquistas populares, o distanciamento entre as classes e sobretudo a entrega de nossas riquezas, abrindo os cofres e "rasgando contratos".
Só não contavam, penso eu, que um dia a população começaria a sair do "torpor".
Já não cola mais o discurso da ética e da decência.
Vejo que alguns passam a se questionar e se perguntam: "Como estávamos há 5, 7 ou 9 anos atrás?  O que foi que fizemos?"
Resultado dessa dúvida, Lula volta vigoroso a despontar como grande solução, única saída, embora alguns ainda o odeiem vorazmente sem mesmo entender o por quê.
As forças ocultas se juntam, estudam, se reinventam, mas não conseguem enlameá-lo. Usando a história de um apartamento na praia e um sítio nas montanhas, escrevinham uma sentença primária, beirando roteiro de novelas, ridicularizada por juristas sérios do país e do mundo, no último suspiro para tentar impedir que Lula concorra às eleições de 2018.
Só que não.  Lula mal começou a percorrer o país e já movimenta montanhas.
Antes, no final dos anos 90, a caravana do petista enfrentava a febre do "medo", provocada pelo discurso anti-comunista das Reginas Duartes da vida, que diziam ao pobre, já quase sem nada, que os "vermelhos" dividiriam o pouco que possuíam.  Agora, a jornada de Lula pelo país enfrenta a febre da "corrupção", cujo maior combate da história, na verdade, ocorreu em seu governo, quando Polícia Federal e Ministério Público puderam atuar sem qualquer interferência.  E isso já está ficando claro pra todos.
Lula sempre foi inteligente.  Um político sem iguais.  E começou bem.  Já no ponta-pés inicial, soltou um discurso afiado e perfeito, inclusive super esperado pelos seus defensores.
"Vamos regular a imprensa" - afirmou ele em recente encontro na UFRJ.
A imprensa foi, sem dúvidas, não a causadora, mas a grande propagandista do golpe que arrebatou conquistas, afundou nossa imagem e está destruindo a esperança de nossa gente.
Sua regulação, que não é censura, precisa garantir que o papel da imprensa mantenha compromisso com a verdade, com os limites e com a ética.  Faltou essa coragem em Dilma e tudo teria sido bem diferente.
Estamos voltando a ver o despontar do sol.
Mesmo que eu acredite na força das ruas, como antídoto ao golpe, tenho que crer na capacidade eleitoral de Lula e na República enfim.
E parece que vou começar até a respirar aliviado, pois esta manhã já falei com gente que, até ontem irredutível, já foi capaz de afirmar:
"Sabe que Lula não é essa coisa feia que tanto pintam"?
Sorri, tomei meu café, bati nas costas do vizinho de balcão e silenciosamente retruquei (em pensamento): Demorou, hein?
Ganhei meu presente de dia dos pais.

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