Meus filhos estão fissurados em tecnologia.
X-box, Tablit,
Notebook, celular. Não fazem outra coisa
quando estão em casa.
Se vão pra casa de amiguinhos, fico sabendo depois que lá
estavam a utilizar tais equipamentos que os colegas também possuem.
Falta de firmeza minha e da mãe em não darmos ou deixarmos
este exagero de luzes, cores, sons e adrenalina que compõem os joguinhos e
aplicativos dos mais diversos, tomarem conta de suas vidas. Mais minha é verdade.
Mas como se briga contra a realidade?
Trabalho em um emprego no qual saio de casa antes das 7h30 e até
devido a morar longe, não volto pra casa antes das 20h30, quando cedo.
Minha mulher também trabalha e fica fora o dia todo, então
tentamos suprir nossa ausência com atividades extras como música, esporte e uma
escola séria que toma conta de boa parte do dia dos meninos.
Resta-nos a noite para conversarmos, dedicarmo-nos a uma boa
leitura, quando muito cansados um filme juntos, mas este seria o mundo perfeito
de Walt Disney.
Pois o fato é que todos,
todos os cinco, cansados pelo dia alucinante, queremos nos recolher a nós
mesmos e ao invés de tarefas coletivas, nos damos o direito de nos fecharmos na
leitura de e-mails, facebooks, programas vazios na TV que cada um assiste em separado
ou mesmo ao cochilo no sofá.
Assim, as crianças, por exclusão de opções, dedicam-se ao que
fazem muito bem. Jogar e jogar.
Não teria nada demais, se não fossem algumas questões:
a)
Desligamento
total da realidade e alienação;
b)
Prática
estressante que dissolve energia e vitalidade, enquanto agride o organismo com
excessos de adrenalina e outras substâncias;
c)
Banalização (simplificação
e normalização) de agressividade, terror, palavras de baixo calão, erotismo e
outros componentes presentes em boa parte destes joguinhos vendidos até em
padarias.
Tem também a falsa ideia de eternidade e imortalidade
provocada pelas inúmeras chances ou “vidas” que o protagonista possui ao tentar
isso ou aquilo, matar e lutar, destruir-se e começar de novo.
Não seria esse último problema uma forma de dizer aos
dominados viciados no videogame que tudo é permitido, pois qualquer coisa basta
“resetar” e lá estão de volta?
Queria muito ouvir a opinião de psicólogos. Mas uma opinião concreta e formada, pois
outro dia, vendo um debate entre profissionais da área na TV, enquanto um dizia
que o jogo era anti estressante, o outro afirmava que era altamente
estressante. Enquanto um dizia que não
aumentava a agressividade no adolescente, o outro pregava o totalmente
contrário.
Quem poderia me ajudar nisso?
E de posse desta opinião, quem me faria capaz de estabelecer
uma regra em casa, mas efetiva e plausível e não “faz de conta” como naquelas
famílias de pentecostais que não permitem aos filhos ver TV, maquilar-se ou
trajar isso ou aquilo e o que mais vemos são jovens oriundos destes berços
vendo TV na casa dos amigos, meninas se maquilando no trabalho e se limpando
para voltar para casa etc.? (Tinha uma amiga qdo. jovem que ia de calças compridas ou bermudas na escola, mas antes de chegar em casa passava no shopping ou outro lugar para se trocar e colocar saia até os joelhos para não contrariar os pais). Mentia pra eles e sofria bastante num mundo onde o vestir tem importância quase zero se compararmos com as informações recebidas 24 horas pela mídia e outros meios.
Não quero criar pequenos transgressores que mintam para mim
ou façam coisas pelas minhas costas. Não
quero criar crianças que terão menos assuntos para tratar com os amiguinhos nas
rodas de discussão nos intervalos da escola. Alienígenas que jamais serão intelectuais só porque eu quero ou sonhei.
Mas tudo me parece exaustivo e sem saída, até por ter chegado
onde chegou.
Sinto às vezes a vontade de que a vida fosse como um desses
joguinhos em que, ao errar o caminho, simplesmente começamos de novo “startando”
outra vidinha.