domingo, 6 de fevereiro de 2011

Socialistas e Muçulmanos - Unidade Necessária



A onda revolucionária nos países árabes recoloca em debate a necessidade de unir as lutas de muçulmanos e socialistas. Talvez, seja bom lembrar algumas experiências da Revolução Russa de 1917.
Na medida do possível, os bolcheviques tentaram reparar os crimes do czarismo contra as minorias nacionais e suas religiões. Em novembro de 1917, o governo soviético declarou:
“Muçulmanos da Rússia (...), suas crenças e práticas, suas instituições nacionais e culturais serão livres e invioláveis. Saibam que seus direitos, como os de todos os povos da Rússia, estão sob a poderosa proteção da Revolução ”.
Foi criado um grande programa daquilo que chamaríamos, hoje, de ações afirmativas. O idioma russo deixou de dominar nas regiões de maioria islâmica. Línguas locais voltaram a ser usadas em escolas, repartições e publicações. Nativos foram promovidos a posições de liderança no Estado e nos partidos comunistas. Passaram a ter preferência nas oportunidades de emprego. Foram criadas universidades para formar novos líderes não-russos.
Livros e objetos sagrados que haviam sido saqueados pelos czares foram devolvidos às mesquitas. A sexta-feira, dia de celebração religiosa muçulmana, foi declarada dia de descanso em toda a Ásia Central.
Foi estabelecido um sistema de ensino paralelo. Em 1922 os direitos a certas propriedades foram restaurados a muçulmanos, com a ressalva de que fossem utilizados para a educação. Como resultado, em 1925 havia 1.500 escolas religiosas islâmicas com 45 mil estudantes na república do Daguestão, contra apenas 183 escolas laicas.
Por outro lado, algumas penalidades previstas no Corão, como apedrejamento ou mãos decepadas, tiveram sua legalidade restringida. Em dezembro de 1922, tornou-se possível que uma das partes envolvidas em disputas judiciais escolhesse o julgamento por tribunais soviéticos no lugar das cortes muçulmanas. Ao mesmo tempo, era possível que juízes soviéticos condenassem muçulmanos por desrespeitarem leis islâmicas.
O efeito das políticas bolcheviques foi dividir o movimento islâmico entre direita e esquerda. Quase todos os historiadores concordam que a maioria dos líderes muçulmanos manifestou apoio ao estado operário, convencidos de que havia uma chance maior de liberdade religiosa sob o poder soviético.
Moscou empregou tropas não-russas, muitos deles muçulmanas, em combates na Ásia Central. Destacamentos foram lançados contra os invasores em Tatar, Bashkir, Cazaquistão, Usbequistão e Turcomenistão. O líder bolchevique tártaro Mir-Said Sultan Galiev escreveu:
"Durante a guerra civil havia aldeias e até tribos inteiras lutando ao lado das forças soviéticas, unicamente por motivos religiosos: ‘o poder soviético nos dá mais liberdade religiosa do que os brancos [contra-revolucionários]’, diziam”.
Em certas regiões da Ásia Central, os muçulmanos formavam cerca 70% dos membros do Partido Comunista. Trouxeram com eles seus costumes e crenças religiosas: em meados da década de 1920 até as esposas de altos membros do Partido Comunista na Ásia Central usavam véus.
Não era só uma questão de justiça e democracia. Era fundamental mostrar aos muçulmanos explorados que a revolução socialista estava a seu lado, contra seus patrões islâmicos. Pena que essas conquistas tenham sido enterradas pelo nacionalismo conservador stalinista.

Para quem lê inglês, muito mais informações em The Bolsheviks and Islam

FONTE: REVOLUTAS
SITE: http://www.revolutas.net
PUBLICAÇÃO: 05/02/2011

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